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O futuro dos portos na tela do computador

Leopoldo Figueiredo - A Tribuna - 02 de abril de 2014 2473 Visualizações
 O futuro dos portos na tela do computador

O piloto entra no passadiço (a ponte de comando), posiciona-se diante dos controles do navio petroleiro e se prepara para percorrer o canal do principal porto do Brasil, Santos. Verifica instrumentos de navegação (radar e GPS, entre outros) e os dados de sensores marítimos, como os que aferem a velocidade e o sentido da maré e dos ventos. Com todas essas informações, aciona os motores e, em sua frente, consegue perceber a embarcação se mover. 
Então realiza uma série de manobras no estuário santista, examina as condições de tráfego marítimo do complexo portuário e da própria embarcação e, ainda, se o píer projetado por um terminal atrapalha a passagem dos cargueiros.
Com os testes concluídos, o piloto pode encerrar o exercício no Porto – realizado sem que ele nem tivesse de descer a Serra do Mar e se aproximar dos terminais do cais. Toda a atividade ocorreu a cerca de 80 quilômetros do canal do estuário, no bairro do Butantã, em São Paulo, nas proximidades da Rodovia Raposo Tavares. Mais precisamente, aconteceu na nova sede da Oceânica Engenharia, Consultoria e Projetos Ltda., uma das poucas empresas no Brasil que dominam a tecnologia que tem conquistado o mercado portuário brasileiro, principalmente os setores de projeto sem planejamento, a simulação portuária e oceânica.
A reprodução de navios, portos, hidrovias e plataformas offshore em sistemas virtuais começou a surgir no Brasil, com fins comerciais, no final da década passada. Nos últimos quatro anos, tem vivido uma expansão, especialmente com o crescimento da cadeia de petróleo e gás e os planos do Governo e da iniciativa privada de expandir a infraestrutura portuária.
“Hoje, a simulação é uma ferramenta essencial para o planejamento de portos, para se verificar, por exemplo, quais e como serão as obras necessárias para um complexo marítimo receber navios de maiores dimensões. Sua importância está, principalmente, na agilidade e barateamento de custos que acarreta”, explicou o diretor da Oceânica, o engenheiro naval Daniel Cueva.
A empresa obteve essa tecnologia a partir de uma parceria com o Instituto Marítimo dos Países Baixos (Marin, na sigla em inglês), entidade ligada ao governo desse país.
Segundo o diretor, até a década passada, para uma empresa planejar um terminal e realizar os testes com a atracação de navios, era necessário construir
um modelo físico em escala reduzida, o que era mais oneroso e demandava mais tempo.
Hoje, envolve um trabalho detalhista de captação de dados – tanto das instalações como de maré, correnteza, ventos e das dimensões do canal – e a reconstrução desse cenário em um sistema virtual digital, onde a realidade surge em telas de TV. Na sala de simulação da empresa, por exemplo, monitores com mais de 40 polegadas são posicionados de forma a imitar a janela da cabine de comando de um navio, dando a impressão de que o piloto realmente esta a bordo.
E os mercados portuário e offshore já perceberam essas vantagens, afirma Cueva. “Na simulação, é possível testar configurações de terminais ou detalhes de navios, verificar se uma alteração no layout de uma instalação vai ter o efeito desejado ou se criará algum problema. Consegue-se otimizar o planejamento e economizar tempo e dinheiro”.
Essa tecnologia já chegou a ser utilizada no Porto de Santos. No ano passado, para testar a navegabilidade do canal após a dragagem de aprofundamento, que deixou seu trecho inicial com uma profundidade de 14,9 metros, representantes da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), da Capitania dos Portos de São Paulo e da Praticagem de São Paulo realizaram testes na sala de simulação da Oceânica.
Os resultados obtidos permitiram à Capitania liberar o tráfego de navios com até 13,2 metros de calado (altura da parte da embarcação que fica submersa, proporcional ao peso da carga carregada). Atualmente, a empresa presta serviços para terminais de Santos e outros portos do Brasil.
A demanda por serviços, principalmente para o setor offshore, tem sido tanta que a empresa ampliou a equipe. Foi de 80 para 120 funcionários nos últimos quatro meses. E teve de trocar de sede, mudando para um espaço cinco vezes maior. O novo endereço, na Rua Marco Giannini, 280, no Butantã, em São Paulo, será inaugurado oficialmente na próxima quinta-feira.

Tecnologia brasileira
O Brasil já conta com tecnologia própria na simulação de ambientes portuários e oceânicos. Ela pode ser verificada no Tanque de Provas Numérico (TPN), laboratório da Escola Politécnica da Universidade de SãoPaulo (USP), localizado na própria Cidade Universitária. A instalação conta com simuladores marítimo hidroviário, que reproduzem as condições de navegação e atracação de navio sem portos, rios, hidrovias e terminais offshore. O projeto é desenvolvido pela equipe do professor Eduardo Aoun Tannuri, em parceria com a Transpetro. O trabalho tem como base pesquisas iniciadas pelo professor Kazuo Nishimoto nos anos 90.