O desperdício dos alimentos está em toda a cadeia produtiva, desde sua origem, passando pela distribuição até seu descarte. Como resultado, há uma geração de milhões de resíduos orgânicos que, no Brasil, são levados majoritariamente para aterros sanitários e, em algumas situações, para lixões. Somente na cidade de São Paulo, o serviço de coleta domiciliar recolhe diariamente 12 mil toneladas de resíduos, sendo que 50% é resíduo orgânico.
O empreendedor Eduardo Prates, fundador da Eco Circuito, avaliou, durante sua participação na BW Live, que o problema relacionado ao lixo é evidente e precisa ser observado por toda a sociedade. Isso significa que é necessária uma maior conscientização sobre a responsabilidade na geração do resíduo bem como a redução do desperdício em toda a cadeia.
Para Gabriel Estevam Domingos, diretor do Departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Ambipar Environment, a grande geração de resíduos e o pouco escoamento são entraves para implantação de uma economia circular, excetuando-se alguns casos onde há esforços dessa natureza, como o plástico e o papelão. Entretanto, ele reforça que o resíduo orgânico sempre foi um problema. “Neste período de pandemia, há também a questão dos resíduos hospitalares, cuja demanda aumentou. Eles exigem um cuidado maior e precisam ser incinerados. Mas, não são todos os aterros sanitários que possuem um incinerador”, analisou.
Prates sugere, desse modo, utilizar o conceito de pirâmide invertida quando se trata, principalmente, do resíduo orgânico. Ou seja, não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e rejeito. “Quando reduzimos na fonte já temos o primeiro impacto. Na sequência, precisamos desviar o resíduo orgânico para alimentação das pessoas, por meio de doações, por exemplo, ou utilizar para a produção de ração. É possível ainda realizar a queima do resíduo para geração de energia e, nessa etapa, também entra a compostagem. Para finalmente, ir para o aterro”, detalhou.
Para cumprir todas essas etapas, especialmente, em uma cozinha industrial, existem muitas tecnologias no mercado. Uma delas é oferecida pela própria Eco Circuito e trabalha não apenas o conceito de Aterro Zero, mas também realiza ajustes finos na operação.
Prates explica que há um trabalho sobre o conceito dos 3Rs. “Reduzimos a geração de resíduos com consciência, reutilizamos o alimento de forma criativa e reciclamos com tecnologia”. Além da mensuração e classificação dos resíduos orgânicos gerados, a empresa oferece um biodigestor que transforma restos alimentares ou resíduos de alimentos em efluente, que pode ser descartado no sistema de esgoto ou tratado para gerar água de reuso.
No caso da compostagem, Domingos conta que a Ambipar realiza a compostagem, mas a atividade de um modo geral ainda é muito incipiente, mesmo estando descrita na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Isso porque há um desconhecimento de seus benefícios e ela é vista como algo difícil de se fazer porque, apesar de ser um processo simples, exige muitos cuidados.
Integração
O problema do lixo afeta o meio ambiente de diversas formas, incluindo a emissão de gases de efeito estufa, a poluição atmosférica, da água e do solo, além de influenciar negativamente na saúde das pessoas e dos animais. Isso mostra a interligação com todas as questões ambientais.
Nesse sentido, na questão atmosférica, o diretor da Ambipar lembrou que nos dias atuais, com a crise sanitária, está havendo uma discussão maior sobre esse tema e também sobre a segurança em ambientes internos de convivência. Alguns estudos mostram uma queda do nível de emissões de GEE no planeta, em virtude da menor atividade industrial e da movimentação de pessoas no mundo.
No caso dos ambientes internos, Domingos ressaltou que existem tecnologias para realizar a descontaminação e a higienização desses locais. “Isso já é usual e usado, por exemplo, em hospitais até para diminuir a contaminação. Só que, neste momento, ela está sendo levada para um horizonte mais amplo”, contou. Essas empresas investem em pesquisa e desenvolvimento e, com isso, há o surgimento de novas tecnologias que visam uma descontaminação ainda mais durável, com o emprego de nanotecnologia, por exemplo. “Nesse caso, é importante a regulamentação de normativas sobre suas aplicações para garantir a segurança dos ambientes e das pessoas”, alertou.
Por fim, durante a Live, foi tratado o conceito do cisne verde, que aborda a perspectiva de uma crise financeira causada pelas mudanças climáticas. “As empresas que não incorporarem as externalidades ambientais em seus negócios estão fadadas a ficarem para trás”, disse Prates, que relembrou que o conceito de sustentabilidade possui três tripés: pessoas, economia e meio ambiente. “Não é possível comparar uma banana com uma maçã. Então, não podemos comparar uma solução sustentável com um método atual insustentável. De qualquer modo, a externalidade ambiental precisa ser incorporada no sistema de decisão”, finalizou.
A apresentação da BW Life foi de Vagner Barbosa, responsável pelo marketing da BW Expo, Summit e Digital 2020. A íntegra do papo com Gabriel Estevam Domingos está neste link. Já o evento online com Eduardo Prates pode ser conferido aqui.
BW 2020
A BW Expo, Summit e Digital 2020 – 3ª Biosphere World, a ser promovida entre os dias 6 e 8 de outubro, no São Paulo Expo, proporcionará uma experiência para todos os seus participantes, por ser o único evento multidisciplinar do mercado direcionado exclusivamente às tecnologias voltadas à sustentabilidade do meio ambiente.
Uma das propostas da BW 2020 é trazer os assuntos prioritários da sustentabilidade do meio ambiente para o mercado. Dessa forma, para abordar com profundidade esses temas, o evento conta com os Núcleos Temáticos, que irão conectar redes específicas, compartilhar conhecimento e ampliar as conexões das empresas e profissionais, gerando sinergias e oportunidades de negócio para todos. São eles: Agronegócio Sustentável, Conservação de Recursos Hídricos, Construção Sustentável, Economia Circular, Reciclagem de Resíduos na Construção, Transformação Energética – Hidrogênio, Valorização de Áreas Degradadas e Waste-to-Energy.