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Novo grupo vê prédios como solução para tirar parque Augusta do papel

Vanessa Correa - Folha de S.Paulo - 30 de abril de 2014 1175 Visualizações
 Novo grupo vê prédios como solução para tirar parque Augusta do papel
Um pouco mais de lenha acaba de ser colocada na fogueira do parque Augusta. Diferente dos dois grupos que têm protestado até agora ali, um novo movimento de moradores começa a se organizar para pedir que o local tenha sim prédios em parte da área. Essa também é a intenção das construtoras Cyrela e Setin, donas do terreno desde o final do ano passado.
O novo grupo acredita que dessa forma a implantação do parque, que está no papel há mais de 40 anos, seria acelerada.
A área com vegetação já é protegida por lei, bem como o acesso público a ela. Não há, no entanto, impedimento legal para a construção de edifícios ali, apenas uma restrição de altura. Mas, para que o terreno seja todo aproveitado como parque, a prefeitura teria que desembolsar  mais de R$ 60 milhões em sua desapropriação, o que já deixou claro que não pretende fazer.
Grande parte dos urbanistas concorda que a parceria com as construtoras seria mais justa socialmente porque a prefeitura tem uma capacidade limitada de investimento e a parte verde será preservada de qualquer forma. Além disso, a região já é bem servida por espaços públicos. Estão perto dali a recém-reformada praça Roosevelt e a praça da República, enquanto na periferia há uma carência histórica desse tipo de infraestrutura.
Por outro lado, há preocupação de que o lugar seja público de fato e atenda aos anseios da população em geral.

Medo do barulho
Após os festivais de protesto que ocorrem desde o ano passado no terreno, o medo do barulho e do tipo de ocupação que pode haver no parque também se tornaram uma preocupação para o novo grupo.
“Preferimos verde com prédios do que só verde com baderna”, diz Adi Tonolli, 55, turismólogo. “A gente tem o exemplo da praça Roosevelt, que é manifestação e show e rolezinho 24 horas por dia”.
A engenheira Lia Zalszupin, 57, diz que, assim como outros moradores do entorno, já foi contra a construção de qualquer coisa ali. Mas depois dos festivais e da demora na criação do parque, mudou de ideia.

“O que os outros grupos dizem é que não queremos o parque. O que a gente não quer é o tipo de parque que estão querendo pleitear. Autogerido por eles mesmos. Eles já deram demonstração do que são capazes de fazer”, diz Lia. Ela se refere ao som alto dos atos que foram organizados no local e à “depredação”.
Lia reclama da pichação que foi feita na casa e no muro do terreno, além da árvore que teve o tronco pintado. As estruturas são remanescentes do antigo colégio de moças Des Oiseaux, que funcionou ali até o final dos anos 1960. São tombadas pelo patrimônio histórico e não poderiam sofrer nenhum tipo de intervenção.
Os outros dois grupos que lutam pela criação do parque, e que organizaram os festivais, também têm divergências entre si.
O movimento Organismo Parque Augusta quer um parque que, além de preservar a natureza, seja um espaço para manifestações culturais. O outro grupo, o Aliados do Parque Augusta, quer um local mais contemplativo.
O ponto comum entre ambos é que a área não deve ter edifícios e que o espaço deve ser aberto, sem grades. Diferente do que o novo grupo demanda.

Parque com grades
“Queremos um parque fechado como parque tem que ser. Em um parque com autogestão não dá para confiar que exista um serviço de segurança efetivo, que dificulte invasão de mendigos e tráfico de drogas”, diz Adi.
O grupo de Lia e Adi esteve há cerca de um mês na Câmara Municipal para conversar com vereadores sobre sua posição. Segundo Lia, são cerca de 30 membros ativos, que trabalham agora para aumentar seu apoio entre moradores, mas também entre frequentadores da região. “Já conseguimos mais de 2.000 assinaturas”.
Já o grupo Organismo Parque Augusta tem 13 mil apoiadores no Facebook. Entre eles também há uma grande parte de não moradores. Metade do total, estima o arquiteto e urbanista Augusto Aneas, 30, um dos cerca de 60 membros ativos do Organismo.
Augusto diz ter estranhado o surgimento “repentino” de um novo movimento. Ele rebate as acusações de que o patrimônio tenha sido depredado e lembra que foram pessoas de seu grupo que consertaram o telhado do local. “O imóvel está abandonado e deteriorado há muitas décadas. As pichações foram parte do processo artístico de ocupação da área”, diz.
Sobre o barulho, Guto afirma que ficou uma “impressão ruim” por causa dos festivais, que foram uma estratégia para dar visibilidade à causa. “Desde o começo procuramos ser democráticos, e surgiu essa ideia de fazer os festivais. Mas nunca passamos das dez horas da noite. Nossa ideia não é que o parque seja um lugar para festas.”