Soluções chinesas em infraestrutura podem servir de exemplo ao Brasil
A China passou por uma transformação em infraestrutura nos últimos anos. Sede dos Jogos Olímpicos em 2008, o país se preparou para receber milhares de turistas e para mostrar ao mundo a sua pujança econômica. Resultado: milhões em investimentos para melhorias em aeroportos, ferrovias, rodovias, portos e mobilidade urbana. Hoje, o Gigante Asiático serve de exemplo a outras nações em desenvolvimento como o Brasil.
Um das apostas do governo da China para ‘rejuvenescer’ o país e torná-lo mais moderno é investir na malha de transporte. A ação é realizada em parceria com o mercado privado e busca incentivar a migração da população do campo para a cidade, melhorar o escoamento de produtos e facilitar o trânsito de turistas. Até 2030, este projeto de crescimento deve consumir, em média, o equivalente a R$ 2,1 trilhões por ano.
No Plano Quinquenal - conjunto de metas deliberadas pelo governo para execução entre 2011 e 2015 -, está prevista a construção de 8,7 mil km de trilhos para trens rápidos, 300 mil km de estradas, 50 novos aeroportos e 440 terminais portuários. “A China deslocou recursos para investimentos em infraestrutura e manteve o funcionamento da economia. Se a infraestrutura chinesa já se desenvolvia muito bem, o ritmo de crescimento, nos últimos anos, foi muito grande”, analisa o presidente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), embaixador Sérgio Amaral.
Atenta aos benefícios que o crescimento da China, no setor de infraestrutura, podem trazer ao Brasil, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) decidiu inaugurar no país o seu primeiro Escritório Avançado no exterior. O objetivo é mostrar aos empresários chineses que eles podem encontrar oportunidades de negócio em solo brasileiro, onde o setor de transporte, em todos os modais, não acompanha o desenvolvimento da economia. Outra meta é promover uma troca de experiências e utilizar a expertise chinesa no Brasil.
O coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Resende, destaca que o Brasil tem deficiências em áreas fundamentais como ferrovias, portos, aeroportos e rodovias. “Esses quatro modais precisam de muitos investimentos. Os países emergentes chegam a investir até 8% do Produto Interno Bruto (PIB) em logística de transporte, enquanto o Brasil jamais passou dos 2%. A média dos últimos 30 anos é de 0,8%”, explica Resende à Agência CNT de Notícias.
Em comparação com os demais países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o especialista alerta que o Brasil é o que menos investe em termos de infraestrutura. “Se fôssemos considerar os investimentos para os próximos dez anos, deveriam ser aplicados, em logística de transporte, somente em relação ao setor de cargas, o equivalente a US$ 80 bilhões por ano, durante uma década. Mas, nos últimos dez anos, o Brasil aplicou menos de 25% que o necessário, apenas US$ 200 milhões”, calcula Resende.
Segundo o professor, esses entraves fazem o Brasil perder competitividade, tanto no cenário global como nacional. “Os brasileiros pagam mais caro pelo que consomem, justamente pelo custo da logística”, explica. Na China, pontua Resende, o problema não existe porque o ambiente de investimentos é diferente, solução que poderia ser adotada pelo Brasil. “Os chineses realizam o projeto executivo antes da licitação. No Brasil, ninguém quer saber do detalhamento da obra, os empresários entram às cegas na licitação. Só depois é que desenvolvem o projeto executivo e isso causa aditivos nos orçamentos”, critica.
“Na China, nada acontece sem que antes se tenha pleno conhecimento das dificuldades ou variáveis técnicas do projeto, o tempo de planejamento é maior. Poderíamos adotar essa prática no Brasil”, acrescenta Resende. Ele cita um exemplo e compara a distribuição do tempo para a construção de uma ferrovia na China e no Brasil: enquanto os chineses gastam 60% do tempo planejando e 40% executando as obras, os brasileiros usam 20% e 80%, respectivamente. “No Brasil não se planeja, vive-se de surpresas no decorrer das obras”, pontua.
De acordo com Resende, o Programa de Investimentos em Logística (PIL), lançado pelo governo federal em agosto de 2012, é um primeiro passo importante. “O Programa vai na direção certa dos investimentos, leva o Brasil a um melhor patamar de estrutura logística, rodoviária, ferroviária, aeroportuária e portuária. A abertura para participação da iniciativa privada quebra um paradigma de mais de 100 anos. O PIL traz o investidor privado para o papel de ator principal”, explica. Ele acrescenta que “o governo não deve decepcionar os investidores privados, sem quebrar contratos ou mudar regras”.
Tecnologia e inspiração
A China tem tecnologias de transporte que podem servir de inspiração ao Brasil. Clodoaldo Hugueney Filho, ex-embaixador no Brasil na China durante cinco anos, destaca algumas inovações que lhe chamavam a atenção, quando ele ainda morava no país. “Eles desenvolveram muita tecnologia na área de trens de alta velocidade e metrô – tanto na parte de construção de vagões como na abertura de novas linhas. Pequim está caminhando para ter 500 km de linhas de metrô, tudo isso construído nos últimos anos”, conta.