Um grupo de alunas de Engenharia Civil do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) apresentou, na última semana, um estudo inédito sobre a utilização da fibra de Buriti para a concepção de pavimento permeável. Abundante na região Nordeste do Brasil, esse tipo de fibra é muito utilizado em trabalhos artesanais, mas não havia sido estudado com o propósito de agregar a uma mistura asfáltica.
A pesquisa ainda tem caráter introdutório, mas deverá servir de base para possíveis misturas no futuro, já que o pavimento permeável é bastante viável do ponto de vista de projeto urbanístico, permitindo que a água da chuva passe pelo seu interior e, assim, garantindo melhor escoamento nas ruas, avenidas e rodovias.
“Os valores que constatamos nesses ensaios foram de resistência à tração por compressão diametral, dano por umidade e módulo de resiliência, em geral mostraram um resultado positivo!”, conta Letícia Miquilino, integrante do grupo. “Os corpos de prova com fibra apresentaram um maior valor do que os corpos de prova sem a fibra. Claro que isso é só o início de vários estudos que ainda precisam ser realizados, mas acreditamos que já é um ótimo começo”, complementa.
Corpos de prova com fibra de Buriti nas misturas
Nos testes de resistência à tração da mistura asfáltica, os corpos de prova com a fibra de buriti incorporada apresentaram um bom desempenho em relação aos corpos de prova sem a fibra e o mesmo aconteceu nos testes de resiliência, de acordo com o grupo. Por outro lado, quando se trata do dano por umidade, a fibra não se mostrou tão efetiva em situações extremas. “Mesmo assim, em caso de umidade ponderada, a fibra de Buriti auxilia bastante no escoamento”, diz Letícia.
Escolha do tema e benefícios à sociedade
A escolha do tema se deu na medida em que as integrantes do grupo queriam estudar algo relacionado à pavimentação e que também trouxesse um viés de sustentabilidade em seu conteúdo. Ao iniciar as pesquisas, encontraram diversos estudos sobre outros tipos de fibra, como a de sisal e de banana, mas nada muito detalhado sobre a fibra de Buriti. Ao entrar em contato com uma cooperativa do Maranhão, a ARTECOOP (Cooperativa dos Artesãos dos Lençóis Maranhenses), o grupo conseguiu a fibra para iniciar a pesquisa.
O estudo pode no futuro contribuir para evitar enchentes nas cidades, além ter impacto socioeconômico. “Acreditamos que o primeiro grande impacto que seria econômico. Com o uso da fibra, há uma diminuição na quantidade de agregados presentes na mistura asfáltica, resultando em menor gasto, além do custo da fibra também menor”, pondera Letícia. “Por outro lado, as fibras (não somente a de buriti) são fonte de renda para muitas pessoas, principalmente no Nordeste. Se a fibra fosse utilizada para mais fins, a renda dessas pessoas aumentaria significativamente”, finaliza.
A expectativa agora é a de que este estudo estimule outros alunos a buscarem por mais respostas sobre o uso da fibra. Como possível desdobramento pode-se citar a procura por tratamentos para a fibra de Buriti, de modo a deixa-la mais preparada para as situações de extrema umidade.
Além de Letícia, participaram deste estudo as alunas Beatriz Alice de Alencar Almeida e Gabriela Medeiros de Almeida, sob orientação do professor Dr. Caio Rubens Gonçalves Santos.