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Política

'Um governo liderado por Lula não nos assusta', diz Mark Mobius, megainvestidor 'guru dos emergentes' 

UOL - 15 de março de 2021 734 Visualizações
'Um governo liderado por Lula não nos assusta', diz Mark Mobius, megainvestidor 'guru dos emergentes' 

'Um governo liderado por Lula não nos assusta', diz Mark Mobius, megainvestidor 'guru dos emergentes'

Em entrevista, megainvestidor alemão-americano diz que se populismo de ex-presidente "resultar em um surto de crescimento, tanto melhor"

Imagem: Mobius Capital Partners Luis Barrucho Da BBC News Brasil, em Londres (Reino Unido)

O megainvestidor alemão-americano Mark Mobius foi na contramão de muitos de seus pares ao decretar, em entrevista recente, que um eventual retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, caso concorra e vença o pleito do ano que vem, não seria "necessariamente ruim para os mercados".

Agora, falando à BBC News Brasil, ele vai além: "Um governo liderado por Lula não nos assusta e se seu populismo resultar em um surto de crescimento, tanto melhor".

Na segunda (8/3), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin decidiu anular todas as condenações judiciais de Lula no âmbito da Operação Lava Jato, abrindo caminho para que o petista concorra à Presidência caso não sofra novamente condenações em segunda instância. Em pronunciamento na quarta-feira, Lula disse que a candidatura da esquerda ainda não está definida.

Mobius, que em maio de 2018 lançou sua própria gestora de investimentos, a Mobius Capital Partners LLP, antes trabalhou na Franklin Templeton Investments por mais de 30 anos, mais recentemente como CEO do Templeton Emerging Markets Group.

Durante seu comando, o grupo expandiu os ativos sob gestão de US$ 100 milhões para mais de US$ 50 bilhões. Considerado um "guru dos mercados emergentes", por ter colocado as nações em desenvolvimento no radar dos investidores globais, Mobius concedeu, por e-mail, a seguinte entrevista à BBC News Brasil.

BBC News Brasil: Em entrevista à agência de notícias financeira Bloomberg, o sr. disse que a volta de Lula "não é necessariamente ruim para os mercados". Por quê?
Mark Mobius:
A principal preocupação em relação a Lula era a corrupção. Se ele voltar, as preocupações com a corrupção não serão tão prevalentes simplesmente porque os escândalos da Lavo Jato resultaram em uma vigilância muito maior e preocupação com algo assim acontecendo novamente.

Mais importante, seu programa Bolsa Família para promover a educação de crianças em famílias de baixa renda foi um passo importante para o país e esperamos que seu retorno resulte em mais iniciativas desse tipo. Finalmente, sua imensa popularidade poderia resultar em um movimento para uma maior participação do governo pelas massas.

BBC News Brasil: A notícia do retorno de Lula fez com que a bolsa e o real brasileiro caíssem. Por que o sr. acha que isso aconteceu? Quão arriscado o sr. acha que Lula é para o Brasil?
Mobius:
A impressão agora é que o atual governo é favorável aos negócios, mas é duvidoso que um retorno de Lula resultaria em um governo marcadamente hostil aos negócios.

BBC News Brasil: O Lula de hoje será o mesmo Lula de 2002, com uma mensagem "de paz e amor amigável ao mercado"?
Mobius:
Lula certamente aprendeu muitas lições nos últimos anos. Mais importante ainda, muitas condenações e sentenças foram proferidas, então a corrupção no Brasil será muito diferente no futuro.

BBC News Brasil: Há quem diga que, se Lula puder concorrer novamente, a agenda de reformas provavelmente estaria fora da mesa e as perspectivas de disciplina fiscal se deteriorariam. Mas outros falam que as preocupações com a reeleição em meio à covid-19 já minaram o apoio de Bolsonaro à prudência fiscal e à reforma, e há uma perspectiva de que ele poderia implementar medidas mais populistas. Qual lado está certo?
Mobius:
Certamente Lula representa populismo, mas isso não significa necessariamente irresponsabilidade fiscal, uma vez que existem mecanismos no Brasil que jogam contra a falta de prudência fiscal.

No entanto, podemos esperar que, como no passado, ele se envolverá em grandes repasses do governo aos pobres e em grandes projetos de infraestrutura agora que os preços das commodities estão se recuperando. Isso poderia dar um grande impulso à economia. Neste mundo, como vemos no programa de gastos de Biden (Joe Biden, presidente dos EUA), grandes gastos do governo estão em voga, então Lula não será culpado por isso. Isso, é claro, levará a um crescimento que será bom para os negócios em geral. Alguns dirão que também levará à inflação e à desvalorização da moeda.

Como aponto em meu livro "The Inflation Myth and the Wonderful World of Deflation" ("O Mito da Inflação e o Mundo Maravilhoso da Deflação", em tradução livre para o português), a revolução tecnológica que o mundo está passando agora está resultando em preços de produtos e serviços mais baixos e melhores em relação ao poder de renda das pessoas. Isso certamente está ocorrendo no Brasil como em outros países. Com relação à reforma, algumas delas já foram realizadas, mas nunca temos muitas esperanças de uma mudança dramática no contencioso ambiente democrático do Brasil.

BBC News Brasil: Quem representa uma ameaça maior à economia do Brasil? Lula ou Bolsonaro?
Mobius:
Nenhum dos dois. Não acho que nenhum deles pode representar uma ameaça para a economia.

BBC News Brasil: Melhor investir no Brasil com Lula ou Bolsonaro (ou não investir de jeito nenhum)?
Mobius:
Eu investiria no Brasil com qualquer um deles. Já estamos investidos no Brasil e estamos satisfeitos com nossos investimentos com bons resultados enquanto Bolsonaro estiver na Presidência.

Porém, um regime liderado por Lula não nos assusta e se seu populismo resultar em um surto de crescimento, tanto melhor. Provavelmente, a coisa mais legal que você pode dizer sobre Lula é que ele é "um homem do povo" - uma representação dos segmentos de renda média e baixa da sociedade mais do que Bolsonaro. Essa popularidade entre os grupos de renda média e baixa pode resultar no aproveitamento de mais crescimento por meio de políticas que os favoreçam.