Terrenos com elementos agressivos afetam concreto
A escassez de terrenos nos grandes centros urbanos tem levado a indústria da construção civil a empreender em áreas que se tornaram agressivas para o concreto. São locais onde antes funcionavam fábricas de automóveis, produtos químicos, farmacêuticos ou de baterias, e que acabaram recebendo elementos que alteraram o pH do solo. Isso tornou as construções mais propensas a ataques de sulfatos e, consequentemente, mais suscetíveis a patologias.
Levando em conta esse novo ambiente é que o CB-18 da ABNT (Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados) durante o processo de revisão da ABNT NBR 12655 (Concreto de Cimento Portland – Preparo, controle e recebimento) promoveu mudanças, inclusive, na nomenclatura da norma. “Melhoramos várias análises, incluindo ensaios mais detalhados sobre os agregados do concreto, incluindo a água, para minimizar os efeitos do solo”, diz o engenheiro civil Carlos Britez, que atuou como secretário da comissão que revisou a norma.
A ABNT NBR 12655 (Concreto de Cimento Portland – Preparo, controle e recebimento) teve a inclusão do termo Aceitação em seu nome, transformando-se em ABNT NBR 12655 – Concreto de Cimento Portland – Preparo, Controle, Recebimento e Aceitação – Procedimento. “A aceitação refere-se à verificação do atendimento de todos os requisitos especificados para a fabricação do concreto, inclusive as propriedades mecânicas aos 28 dias, de acordo com o que foi definido no projeto. Isso se aplica a concretos normais, pesados e leves, e não se aplica para concretos aerados, espumosos e com estrutura leve sem finos e também ao concreto de pavimento”, explica Carlos Britez.
Obra-modelo
A nova ABNT NBR 12655 também procurou estreitar a relação entre os atores envolvidos em uma obra. “Ela melhora a interação entre diversos intervenientes: projetista-estrutural, serviço de concretagem, construtora, tecnologista e laboratório de controle. Todos fazem parte de uma mesma equipe e a norma deixa isso bem claro ao distribuir incumbências a cada um destes setores”, cita Britez, afirmando que a revisão também aproximou a norma de outras 31 correlatas. “Por que fizemos isso? Para atender os dois requisitos básicos que levaram à revisão, que são segurança e vida útil”, completa.
O integrante da comissão que revisou a norma ressalta que todas as condições que envolvem a estrutura devem ser consideradas, inclusive as ambientais às quais ela estará exposta, assim como as cargas suportadas pelo elemento estrutural, os contaminantes que podem atacar a estrutura, as condições de aplicação do reparo e a resposta esperada do material aos requisitos do projeto. “A resistência do material deve ser no mínimo igual à resistência especificada no projeto”, reafirma. A ABNT NBR 12655 entrou em consulta pública em junho de 2014 e ficou até 12 de setembro de 2014.
O início do processo de revisão aconteceu em março de 2013 e as reuniões se estenderam até fevereiro de 2014. Curiosamente, foi uma das poucas que tiveram uma obra como modelo. O ParkShopping Campo Grande, no estado do Rio de Janeiro, inaugurado em 2012, serviu de referência para a comissão revisora. “Todos os procedimentos da norma foram contemplados na construção do shopping”, garante Britez, assegurando ainda que a revisão da ABNT NBR 12655 também aproveitou o que há de melhor nas normas internacionais referentes a preparo, controle, recebimento e aceitação do concreto. O engenheiro explicou detalhes da norma no Concrete Show 2014, realizado no final de agosto.
Entrevistado
Engenheiro civil Carlos Britez, doutor em Ciências pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP) e diretor da PhD Engenharia Ltda. em sociedade com o professor-doutor Paulo Helene
Contato: carlos.britez@concretophd.com.br
Crédito Foto: Divulgação/Cia. Cimento Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Foto: Shopping em Campo Grande-RJ: modelo de obra que atendeu requisitos da norma quanto à relação das estruturas com o solo