Experimentar é chave para a revolução verde em São Paulo
São Paulo - As cidades estão no cerne dos grandes problemas urbanos. E quem melhor que elas, palcos da vida cotidiana, para resolvê-los? No processo de desenvolvimento, a sustentabilidade é um pilar importante.
Mas concretizá-lo exige um grande pacto social e, principalmente, liberdade para experimentar. Falando assim, parece simples. Mas quanto mais complexa for uma sociedade, maior será o desafio. São Paulo é exemplo.
Não podemos olhar a cidade por fragmentos, mas como um grande ecossistema urbano, que demanda visão holística. Para crescer de forma sustentável, precisamos enfrentar politicas que deem conta da totalidade e diversidade dos territórios, agentes privados, públicos e população, afirmou Fernando de Mello Franco, secretário de desenvolvimento urbano de SP, durante o EXAME Fórum Sustentabilidade, que acontece nesta quarta-feira, em São Paulo.
Segundo Mello Franco, o novo Plano Diretor vai ao encontro dessa visão. Ele direciona o crescimento da cidade não mais pelo paradigma rodoviarista, mas pelo desenvolvimento do transporte publico. É uma política de contenção, que privilegia uma cidade mais compacta, cuja estrutura de projetos de expansão é articulada entre vários setores, não apenas pela lógica imobiliária.
Apesar de enxergar pontos positivos nas novas regras que orientam como construir e utilizar o espaço urbano, Marcos Lisboa, economista e vice-presidente do Insper, critica a lei muito detalhada, que engessa a possibilidade de inovação.
Tem muita regra, muita complexidade. Isso é da nossa tradição legislativa, ela é autoritária, deixa as cidades experimentarem muito pouco, pontuou. Ele citou como exemplo de sucesso de reinvenção a experiência de Nova York nos últimos 20 anos.
Nova York passou por uma revitalização incrível porque experimentou seus espaços. Deu certo, mantém, deu errado, esquece, disse, destacando que a cidade é um organismo vivo, que se transforma com o tempo. Nesse sentido, a regulação excessiva acabaria por prejudicar e não ajudar.
O potencial de reinvenção da capital paulista é monstruoso. De acordo com Philip Yang, fundador do Instituto Urbem, entre as cidades globais, SP é a que tem os maiores estoques de áreas locais subutilizadas.
Para ele, o novo Plano Diretor oferece uma visão ampliada e mais integrada do tecido urbano. Mas há obstáculos para implementá-lo.
É preciso baixar o nível de desconfiança entre os grandes atores, academia, setor privado, Ongs e população. A simplificação passa por um modelo de governança que não temos aqui, acrescentou.
Essa união, segundo o especialista, é fundamental para termos uma cidade mais sustentável, com menos muros, mais calçadas largas e ativas, praças e áreas de convivência múltipla. É este, segundo ele, o caminho para forjar cidades melhores e livres do apartheid social que gera ressentimentos.