Construção civil ainda atrai poucas startups
A construção civil é um campo fértil para a criação de startups, mas, ao mesmo tempo, árido. “Setores em que há muitos problemas a serem resolvidos são setores com muitas oportunidades. O da construção civil é um deles. Porém, é ainda muito pouco receptivo a inovações. Mas há oportunidades para se pensar em novos processos industriais, soluções que diminuam o tempo das obras, ajudem a evitar desperdícios e agreguem valor sem aumentar o custo”, define Henrique Tormena, coordenador do Instituto Endeavor no Paraná.
Tormena, da Endeavor: quanto mais problemas para resolver, mais as startups podem ser bem-sucedidas
Além de quebrar paradigmas, startups que planejem atuar na construção civil brasileira precisam também estar preparadas para os obstáculos burocráticos e tributários. Outro desafio é encontrar profissionais capacitados, e que entendam o conceito de uma startup: empresa que é concebida a partir de uma ideia inovadora. “Empreender não é tarefa fácil. Existe a questão do ambiente regulatório, que muda de uma cidade para outra, da dificuldade para encontrar colaboradores capacitados e também da cultura empreendedora no Brasil. Três entre quatro brasileiros sonham ser donos do próprio negócio, mas pouca gente se prepara”, afirma Tormena.
De longe, os empecilhos tributários são os que mais afetam startups no Brasil. De acordo com o Banco Mundial, são necessárias 2.600 horas para pagar impostos no país. A explicação está em outro estudo, do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), que detectou 11.500 normas tributárias que uma empresa deve seguir no Brasil. Isso se reflete em dificuldades para que o empreendedor priorize a produtividade e dificulta a captação de recursos para financiar o negócio e fazer evoluir a ideia que originou a startup.
Cinco pecados capitais
Outra pesquisa – desta vez realizada pela Fundação Dom Cabral – revela que quatro em cada dez empresas de inovação não passam dos 12 meses vida no Brasil, por causa de erros recorrentes, que são os seguintes:
1. Fluxo do caixa: a maioria das startups começa a funcionar com o caixa para apenas os dois primeiros meses. Sem planejamento de contas a pagar e receber, elas não chegam a 12 meses de atuação no mercado.
2. Número de sócios: a grande quantidade de sócios em uma mesma empresa dificulta o desempenho no relacionamento e nas decisões, pois os interesses pessoais e profissionais se confundem no ambiente de trabalho.
3. Empréstimos bancários: para permanecer no mercado, as startups recorrem a financiamentos bancários para se manter. A falta de conhecimento e organização nas finanças faz as pequenas empresas entrarem nos juros e parcelamentos bancários, o que inviabiliza a gestão saudável do caixa.
4. Faturamento: um dos problemas é o gasto com folha de pagamento superior a 30% do faturamento. Algumas empresas acabam contratando mais funcionários do que podem, depois acabam por demitir por falta de dinheiro no caixa.
5. Capital de giro: as startups invariavelmente não têm dinheiro em caixa e, assim, não conseguem cumprir com as necessidades imediatas da empresa, o que é algo fundamental para manter o negócio saudável e uma boa imagem no mercado perante fornecedores e clientes.
O resultado deste ambiente pouco propício para startups é que o Brasil ainda não conseguiu produzir uma empresa inovadora que fature U$ 1 bilhão (cerca de R$ 2,6 bilhões) por ano. No mundo, há 46 que já atingiram esse patamar. Destas, 72% encontram-se nos Estados Unidos, 20% na China e 8% na Europa. Porém, mesmo fora do país, o volume de startups ligados à construção civil ainda é pequeno. Não chega a 15%. A maioria ainda está ligada a vendas pela internet.
“Geralmente, os pilares que formam um bom ambiente empreendedor têm vínculo com infraestrutura, acesso ao capital, disponibilidade de capital humano qualificado, ambiente favorável à inovação e cultura”, define Henrique Tormena.
Em 2013, o Fórum Econômico Mundial elegeu, entre as 36 startups mais inovadoras do mundo, uma empresa brasileira: a Bug Agentes Biológicos, localizada em Piracicaba-SP. Ele desenvolve vespas geneticamente modificadas para combater pragas em plantações de cana-de-açúcar e soja, reduzindo a aplicação de agrotóxicos nestas lavouras.
Entrevistado
Engenheiro mecânico Henrique Tormena, coordenador do Instituto Endeavor no Paraná
Contato: henrique.tormena@endeavor.org.br
Crédito Fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330