No dia 4 de março, sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do ano passado.
Apesar de o indicador ter registrado alta significativa de 4,6%, o nível de crescimento na margem foi diminuindo, fechando o quarto trimestre em 0,5%. Isso significa recuperação do índice pré-pandemia: 0,5% acima do quarto trimestre de 2019, mas 2,8% abaixo do pico de 2013.
Assim, é possível afirmar que o ano de 2021 recuperou o nível de dois anos antes, mas o que vai determinar o rumo das coisas será o ano corrente.
O número mostra também uma clara desaceleração econômica, dado que, em janeiro, as previsões chegaram a um crescimento de 5,5%.
Ao analisar os dados mais a fundo, percebemos que, quanto à oferta, os serviços cresceram 4,7%, apoiados em comunicação e transportes. A indústria obteve alta de 4,5%, fortemente influenciada pela alta da construção civil, enquanto a agropecuária caiu 0,2%.
Vale lembrar que este último setor apontou alta mesmo no pior momento da pandemia em 2020. O resultado ruim também foi afetado por um clima mais hostil: geadas e estiagens, em diferentes pontos do País, prejudicaram a safra e impactaram demais o número.
O caso da indústria ilustra bem o que aconteceu no ano passado –início muito forte e quedas sucessivas no último semestre. Já o setor de serviços mostrou heterogeneidade, em que alguns setores (comunicação e transportes e logística) apresentaram ótimo desempenho – enquanto o turismo seguiu na contramão.
Quanto à demanda, houve crescimento no consumo das famílias (3,6%) e do governo (2%). A formação bruta de capital fixo, que inclui investimentos e formação de estoques, cresceu 17,2%, elevando o nível de investimento sobre o PIB de 16,6% para 19,2% – com base num desenvolvimento incomum da construção civil.
O grande impasse é que, com o novo cenário, dificilmente esse setor repetirá o feito de 2021.
Contudo, as informações reveladas pelo IBGE já são antigas.
Expectativa
Infelizmente, a perspectiva não é otimista. Em estudo divulgado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), no mês de fevereiro, 77,8% das famílias estavam endividadas no Brasil, um recorde histórico. Mais: 27% já têm algum tipo de inadimplência, número que sobe para 30,3% quando falamos de lares com menos de dez salários mínimos.
Por outro lado, a Fundação Getulio Vargas (FGV) publicou pesquisa destacando que o PIB per capita do nacional só deve voltar ao nível de nove anos atrás em 2029. Juros altos e mercado de trabalho fraco se somam a um cenário de crescimento modesto (ou pequena retração) em 2022.
A conjuntura é de juros e endividamento elevados, mercado laboral frágil e massa de renda em queda. Todos estes fatores, mais as condições externas, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, contribuem para um ano mais fraco.
O efeito do conflito internacional nos preços das commodities pode aumentar o risco inflacionário por aqui e levar os juros a um patamar mais alto por mais tempo. Isso posto, uma eleição mais tranquila, com candidatos comprometidos com um governo mais liberal e preocupado com as mazelas sociais do País, pode amenizar a situação.
Esperemos os próximos passos deste quebra-cabeça.