Investir em treinamento é saída para driblar baixa qualificação profissional
DCI
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15 de dezembro de 2014
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São Paulo - Para tentar minimizar o problema da mão de obra qualificada, empresas brasileiras estão apostando mais em programas de treinamento e deixando de contar com o poder público quando o assunto é formação de qualidade.
De acordo com o estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (Ipea) Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes, o principal entrave ao crescimento da produtividade, na visão das empresas, é a baixa qualificação dos empregados. Esse obstáculo foi apontado por 67% das companhias entrevistadas. Cerca de 30% delas possuem mais de 500 funcionários e 21% empregam menos de 20 trabalhadores. Além disso, quase 60% são do Sudeste e 24% da Região Sul.
Na tentativa de melhorar a sua produtividade, a pesquisa apurou que 74,5% das empresas possuem programa de treinamento para os seus empregados. A indústria, quando precisa fazer investimentos tecnológicos, tem implementado treinamentos específicos, diz o economista e pesquisador do Ipea, João Maria de Oliveira.
No entanto, treinamentos são formações para resolver problemas pontuais das empresas e não é a solução para a formação mais abrangente e qualificada das pessoas. Do ponto de vista sistêmico, no médio e no longo prazo, não resolve, complementa.
O segundo principal entrave à produtividade apontado pelas empresas é a baixa escala de produção, principalmente para as indústrias com intensidade tecnológica mais alta, como a indústria química. Diferentemente de uma indústria alimentícia, por exemplo, as indústrias de alta tecnologia têm pouca demanda e isso gera problema de produtividade, diz Oliveira.
Inovação
Já para as indústrias de baixa intensidade tecnológica, como alimentícia, de bebidas, têxteis e acessórios, além da ausência de qualificação de trabalhadores, os principais problemas que enfrentam está na infraestrutura de transportes e de baixa qualidade e atualização dos equipamentos.
Outro apontamento da pesquisa do Ipea é que os empresários admitem que não investir em pesquisa e inovação tem prejudicado a eficiência dos seus negócios. Cerca de 42% delas demonstraram essa preocupação. Existe uma falta de interesse das próprias empresas brasileiras de investir em inovação, afirma Oliveira.
Por outro lado, faltam estímulos adequados por parte do poder público. Historicamente, nossa governança tem se preocupado mais em se proteger do que estimular a competitividade e forçar o setor privado brasileiro a investir em inovação, complementa.
Sobre essa questão, o pesquisador do Ipea lembra a janela de oportunidade que a indústria de confecção brasileira perdeu há cerca de trinta anos atrás, justamente por não ter estimulado a inovação.
Há trinta anos, as indústrias de confecção migraram dos Estados Unidos e da Europa para países com renda mais baixa, como o Brasil. No entanto, como por aqui não foram feitos esforços de investimentos em inovação, essas empresas acabaram se deslocando para a Ásia, em busca de custos de produção mais baixos. Foi uma janela de oportunidade que nós perdemos, considera o economista.
Competitividade
Quanto às barreiras à competitividade, as empresas mencionam a carga e complexidade tributária, os custos de mão de obra e regulação trabalhistas.
Um dos pontos interessantes é que a pesquisa traz indícios de que as empresas se sentem ofendidas não somente com a carga tributária, mas com a complexidade do sistema de tributação. Muitas das companhias entrevistadas têm suas matrizes em São Paulo e as filiais espalhadas pelo Brasil, portanto, realizam muitas movimentações interestaduais e esse processo gera uma grande complexidade tributária, afirma Oliveira.
Apesar dos obstáculos, a mesma pesquisa do Ipea mostra que cerca de 64% das empresas entrevistadas tiveram ganhos de produtividade nos últimos cinco anos.
No entanto, em apenas 36% delas esses ganhos superaram o aumento dos custos de produção, seja porque os custos permaneceram estáveis ou caíram, seja porque cresceram menos do que a produtividade. Aproximadamente 60% das empresas tiveram ganhos de produtividade menores do que o aumento dos custos de produção, ou não tiveram ganhos de produtividade no período. Menos de 5% das companhias não souberam dar informação em alguma dessas perguntas.
A maior parte das empresas avalia ser tão, ou mais, produtiva que seus concorrentes no mercado doméstico. Todavia, apenas 6% apontam ser mais produtivas que suas concorrentes internacionais.