Grandes obras são chances para o crescimento da construção civil
Se você andou por estabelecimentos comerciais de grande porte de Salvador certamente já pisou em trabalhos feitos pelo engenheiro Raymundo Dorea e sua equipe. A empresa, que atualmente tem 27 funcionários, já foi responsável pela colocação de 5,2 milhões de metros quadrados de piso em pontos com Shopping Salvador, Shopping Bela Vista e Ceasa do Rio Vermelho além da Ford, em Camaçari.
Em 19 anos de história, o máximo de funcionários que teve foi 44. Parece pouco. Mas, nesse período, ele e seus colaboradores colocaram simultaneamente todo piso da Arena Fonte Nova, em Salvador, e da Arena Pernambuco.
Enquadrada no padrão de pequena empresa, a Engpiso/Engenharia & Soluções Integradas Ltda representa uma tendência de mercado na construção civil: a participação de pequenas empresas na realização de grandes obras.
“Desenvolvemos uma solução chamada still deck, que elimina o uso de aço em até 90% na colocação de pisos através do uso de fibras sintéticas estruturais”, explica Raymundo Wilson da Silva Dórea, diretor de Negócios da Engpiso, que é a única empresa do segmento de engenharia da construção civil que integra atualmente o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento da ONU.
Para dar conta dos grandes projetos - em Angola (África) colocou 3 mil metros quadrados de piso com apenas três funcionários - Raymundo aposta na gestão dos recursos, da logística, tecnologia, inovação e tempo.
“A pequena empresa pode ser inserida na cadeia global de crescimento. Ela precisa ser encarada como fruto do trabalho de pessoas e de seus parceiros. Todos os encarregados da minha empresa já têm mais de oito anos trabalhando comigo”, indica o engenheiro que tem mestrado em
Gestão Estratégica.
Em 2013, o faturamento da empresa foi de R$ 1,2 milhão e a projeção para esse ano é de que esse percentual suba 5%. Para o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as ações como as da empresa de Raymundo são exemplos de um mercado com grandes possibilidades de investimento.
Em 2013, a cadeia da construção civil - que inclui indústria, construtoras, comércio e serviços - foi responsável por 8% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
“A tendência é que as grandes empresas terceirizem parte de seus negócios formando o que chamamos de encadeiamento produtivo. Uma empresa maior, que funciona como âncora, vira uma espécie de gerenciadora da obra e direciona algumas atividades do processo produtivo para outras empresas menores”, explica Elane Baqueiro Fróes, da unidade de indústria do Sebrae na Bahia.
Dentro do processo construtivo, as pequenas empresas podem conseguir desenvolver projetos, principalmente, nos dois gargalos do setor: prazos e qualidade.
“Dentro da construção civil, atualmente, há uma necessidade de investimento em manutenção industrial, instalação elétrica. A mão de obra local é muito carente de especialização e a partir do momento que há empresas menores fica mais fácil e efetivo fazer o treinamento e qualificação desses profissionais”, indica Elane.
É considerada pequena ou média empresa toda aquela organização que tem faturamento de até R$ 3,6 milhões.
Inovação
Assim com Raymundo, quem também investiu em inovação foi o empresário Augusto Alagia, da empresa Capitão Pintura. A empresa, que tem atualmente 80 funcionários, já foi responsável por obras de pintura dos bairros planejados Horto Bela Vista e Greenville além da Ceasa do Rio Vermelho e também fará a obra de pintura do complexo do Teatro Castro Alves.
Como diferencial de mercado, Augusto investiu na técnica chamada de airless, que usa equipamentos que têm aplicação suave e geram economia de material de aproximadamente 30%. Outra vantagem da técnica é o menor tempo de aplicação, mas que exige alto conhecimento técnico dos profissionais no manuseio do maquinário.
“Nossa empresa conseguiu fazer a pintura de 40 mil metros quadrados da Arena Fonte Nova, em Salvador, em um mês. Foi uma ousadia pegar essa obra, mas é preciso ser ousado se você quer ser grande”, conta Augusto que já estudou Direito, foi professor de ioga e morou na França onde cursou Comércio Exterior.
Até 2016, a intenção de Augusto é chegar a ter 800 funcionários e a partir de janeiro já começará a vender a franquia da empresa. “O investimento no valor da franquia vai ser de R$ 50 mil com faturamento estimado em R$ 2 milhões por ano”, explica Augusto lembrando que tem na gestão das pessoas um dos valores prioritários da empresa.
“Temos três diferenciais de inovação. O primeiro deles é o modelo de gestão que pensa no funcionário como colaborador. O segundo é o nosso processo de pintura que usa máquinas modernas e modelo de engenharia de alto padrão e o terceiro é uma gestão em rede, onde fazemos um marketing efetivo de relacionamento com engenheiros”, ensina.
Crescimento
Diretor da incorporadora Fator Realty, Marco Chompanidis indica que a construção civil deve ser encarada como uma atividade de linha de produção. Ele explica que as empresas atuam como grandes montadoras de produtos adquiridos no mercado com parceiros terceirizados.
“São terceirizadas atividades como sondagem, terraplenagem, fundações, controle de concreto, formas para estrutura, escoramentos, painéis de drywall, assentamentos de forros, instalações, montagens de esquadrias, impermeabilizações e paisagismo, dentre muitos outros”, argumenta.
Chompanidis enaltece a ação da chamada cadeia produtiva como uma forma de fortalecer o mercado da construção. “Isto cria mercado e a existência de empresas, gerando emprego e renda, movimentando a economia e dando oportunidade a profissionais mais qualificados”, destaca.
A representante do Sebrae alerta, porém, que antes da empresa pensar em desenvolver processos inovadores é fundamental planejar o crescimento.
“Antes de chegar na inovação, a empresa precisa pensar no básico que é ‘arrumar a casa’ e pensar, por exemplo, em avaliar os processos de gestão. Depois disso, investir em inovação é uma maneira de se destacar no mercado”, ressalta.
Na Bahia, 50% das empresas são pequenas ou médias
Metade das 13 mil empresas cadastradas no Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA) é considerada de pequeno ou médio porte, segundo explica o presidente da entidade, Carlos Henrique Passos.
“A participação da pequena e da média empresa é importante na cadeia da construção civil pela condição de trazer para o setor maior eficiência e redução de custo. O setor caminha para a busca da especialidade. A cadeia da construção civil se aproxima do segmento do setor automotivo onde há grandes empresas que vendem o produto ao mercado, mas a construção acontece de forma coletiva”, explica.
O presidente do Sinduscon ressalta que a participação dessas empresas menores em obras na Bahia já é uma realidade e segue uma tendência internacional.
“Esse é o modelo ideal da construção civil. Com isso, você ganha na produtividade, na qualidade de serviços e reduz de forma forte o número de acidentes de trabalho, pois quanto mais especialista a empresa for, melhor vai ser sua formação e capacitação dos funcionários, o que reduz os riscos”.
Raymundo Dórea, da Engpiso, argumenta que as pequenas empresas não podem ter pensamentos iguais ao seu rótulo. “O empresário de uma pequena empresa não é um pequeno empresário. É preciso mudar esse pensamento para aumentar a capacidade de investimento e captação de melhores projetos”, explica Raymundo.
Uma das obras que mais trouxeram visibilidade para a empresa dele foi a reforma do Hospital Roberto Santos. “Fizemos a reforma do piso com epox à base de água, que não tem cheiro. Foi o nosso primeiro passo inovador”.