Polônia quer se aproximar do Brasil para explorar o mercado de trilhos
DCI
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20 de janeiro de 2015
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São Paulo - A previsão do governo federal de investir R$ 99,6 bilhões em ferrovias nos próximos 10 anos tem atraído atenção de investidores de todo o mundo. Recentemente, a Polônia se colocou como potencial investidor em trilhos por aqui, aproveitando a tecnologia usada no país europeu.
Nosso país tem tradição na indústria ferroviária, tanto pela posição geográfica, quanto pela qualidade de suas operações e produção de trens. É o que afirma o especialista polonês em política de transporte, Bogdan Waligorski. O que pesa sobre a eficiência das empresas polonesas em licitações para fornecimento de equipamentos para as maiores cidades europeias não é apenas a alta qualidade dos produtos vendidos, mas também o prazo curto de entrega e os preços competitivos garante.
De olho na expansão territorial, os empresários poloneses têm prospectado o mercado brasileiro nos últimos quatro anos, nos mais diversos segmentos.
A cooperação comercial entre os dois países nos anos de 2011-2012 registrou US$ 1,4 milhão, valor que tem potencial para se multiplicar muitas vezes. É esta a visão do empresário Dorota Daszkowska-Kosewska, que veio ao Brasil para difundir as organizações e instituições polonesas que dão suporte a empreendedores do setor de transportes. Os produtos da indústria ferroviária e metrô respondem por mais de 40% das exportações polonesas para o Brasil e ainda há muito mais a ser prospectado.
Interesse
Atenta a esse potencial de negócios no País está a Pesa Bydgoszcz, maior fabricante e modernizadora de veículos sobre trilhos da Polônia. Ela concebe, constrói e fornece veículos leves sobre trilhos (VLT) com 100% de piso baixo. Fundada em 1851, como Real Oficina Geral de Consertos Ferroviários, o grupo ganhou a maior concorrência na história da Europa para fornecer à Varsóvia 186 modernos veículos VLT Swing.
A indústria tem capacidade de fabricar, em média, 200 VLTs por ano. Nosso objetivo nos próximos anos é ganhar espaço na América Latina, tendo o Brasil como principal mercado, afirma Wichlacz.
Para tanto, a empresa está em busca de parceiros locais para construir sua primeira planta industrial no País até 2016, em local ainda a ser definido entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
Há quatro anos estamos estudando o mercado brasileiro, sabemos que temos preços competitivos e alta qualidade na produção de veículos leves, com design arrojado, afirma.
Com relação aos processos licitatórios no Brasil, o executivo é enfático: Nosso maior desafio é ganhar o primeiro contrato em um país tão distante da Polônia, com uma legislação que difere de estado para estado e altos tributos.
Primeiros passos
Apesar das dificuldades, a Pesa já deu seus primeiros passos por aqui, com operações de recuperação e fornecimento de novos equipamentos entre metrô, trens e VLTs nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília.
Parceira da Pesa, a também polonesa MEDCOM, com 25 anos de mercado e especializada em produtos elétricos de alta tensão e tração, já fincou seus pés fora da Polônia, com ativos na União Europeia, Ucrânia, Bielorrússia, Rússia, Canadá, Estados Unidos e Brasil, tendo como cliente o metrô de São Paulo com a modernização de 25 trens.
O Brasil é nosso maior destino exportador, como afirma o diretor comercial da Medcom, Piotr Wronski. Começamos a prospectar o mercado brasileiro em 2008. No ano seguinte fechamos nosso primeiro contrato, integrando o consórcio MT Trans. Hoje, estamos no Rio de Janeiro com a SuperVia (35 veículos) e ainda temos parceria com a CPTM (locomotiva com oito vagões) e com o metrô, em São Paulo, completa.
Só no último ano, a fabricante polonesa exportou sete milhões de euros para o Brasil. A empresa investe em média 6% do faturamento anual, que em 2013 foi de 47 milhões de euros, em pesquisa e desenvolvimento. Cerca de 20% de seus 250 funcionários trabalham na área de P&D, entre eles, oito PHDs e 54 engenheiros altamente especializados.
Outros estrangeiros
Para o professor de engenharia civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Roberto Liceu, a busca de estrangeiros para negócios sobre trilhos deve crescer. O Brasil, que tem a mesma malha ferroviária deste os tempos do Império, tem um enorme potencial de crescimento, se tornando um bom lugar para investimento, com retorno mais rápido que em países mais desenvolvidos.
Entre os países com interesse em novos negócios com o Brasil, o professor ressalta a Rússia, Alemanha e China. Os chineses são os mais organizados para entrar no País. Algumas comitivas foram feitas a convite do governo federal e, com a economia crescendo quase dois dígitos ao ano, a capacidade chinesa de financiamento é imensa, completou.
Segundo informações levantadas com a Associação Brasileira de Logística (Abralog), dos 27,782 quilômetros de malha ferroviária nacional, apenas um terço é produtivo e responde pelo transporte de minério de ferro. Os demais trechos, segundo o vice-presidente da entidade, Rodrigo Vilaça, são subutilizados.