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SUSTENTABILIDADE

Construtoras intensificam adoção das práticas ESG

Por Daniela Maciel, do Diário do Comércio - 15 de julho de 2022 533 Visualizações
Construtoras intensificam adoção das práticas ESG

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) aponta que o setor da construção civil é responsável por aproximadamente 40% do consumo de energia e por 40% da emissão de CO2 em todo o mundo. Diante desse cenário e de uma pressão cada vez mais forte de consumidores, investidores e financiadores por uma produção mais responsável, o setor busca rever processos, evitar desperdícios, novos materiais e engajar pessoas.

Ao se aprofundar nas práticas ESG (responsabilidade socioambiental e governança), a indústria da construção civil se prepara para o enfrentamento às mudanças climáticas e aos eventos climáticos extremos, que colocam em risco a continuidade de obras e saúde dos colaboradores.

Há dez anos no mercado, a RL Costa se propõe a unir tecnologia, sustentabilidade, mobilidade urbana, estilo de vida e responsabilidade social em seus empreendimentos. De acordo com o presidente da RL Costa, Renato Costa, a construtora e incorporadora de imóveis de alto padrão, sediada em Belo Horizonte, desenvolve empreendimentos modernos e altamente personalizados, conectados aos mais diversos tipos de rotina.

“Entendo que o nosso papel como setor de construção civil é muito grande porque construímos cidades e se essas cidades são bonitas e boas para as pessoas ou não, isso tem muito a ver conosco. Acredito que a missão começa dentro da construtora, cuidando das pessoas: do cliente, do vizinho, do funcionário, na cidade em geral. Então investimos no desenvolvimento dos nossos colaboradores, proporcionando educação a partir de um plano de desenvolvimento humano (PDI). Também apostamos na criação de vínculos dos nossos empreendimentos com os clientes e a cidade. Queremos que o empreendimento tenha identidade, que gere uma gentileza urbana. Buscamos também evitar desperdício e gerir os nossos resíduos. É claro que tudo isso tem custos, mas a conta fecha porque ganhamos em eficiência. Pessoas bem tratadas são mais produtivas e engajadas. Assim, com processos melhores e com menos desperdício conseguimos levar a termo a nossa missão de sermos responsáveis”, explica Costa.


Costa: acredito que a missão começa dentro da construtora | Crédito: Ágata Reis

Às vésperas de completar 30 anos, o Grupo EPO já entregou mais de 400 obras de alto padrão. Para a gestora de Obras e diretora de Engenharia do Grupo EPO, Márcia Arruda, a base do enfrentamento às mudanças climáticas está no respeito à natureza. Por isso a companhia tem especial cuidado com os projetos estruturais e na qualificação das equipes.

“No caso de Belo Horizonte, por exemplo, as fortes chuvas em terrenos acidentados implicam na paralisação dos canteiros de obras, em dificuldade de acesso dos trabalhadores. Para essa parte geológica não tem outro caminho a não ser uma engenharia bem feita, com projetos que estruturam os empreendimentos e contribuem com a cidade. Podemos fazer contenções com as caixas de retardo e dimensionar bem as áreas permeáveis, entre outros pontos. Vamos além do exigido pela legislação”, afirma Márcia Arruda.

A questão dos custos das novas tecnologias implantadas é, segundo a gestora, equalizada pela eficiência que essas tecnologias oferecem. “Desenvolvemos uma diretoria de engenharia que desenvolve o melhor projeto, com bom planejamento e bom orçamento. Isso passa por soluções técnicas que evitam desperdícios. E também por uma mudança cultural em uma atividade ainda muito artesanal. É um caminho longo de industrialização do setor”, complementa a diretora de Engenharia do Grupo EPO.

Para Márcia Arruda, da EPO, é preciso respeitar a natureza | Crédito: Alexandre Sandrini

Pelo terceiro ano consecutivo, a MRV figura entre as 36 empresas que compõem a carteira do Índice CDP Brasil de Resiliência Climática (ICDPR70). O indicador – criado em 2020 pelo CDP e pela Resultante ESG – avalia o desempenho das companhias listadas na B3 que mais se destacam na conscientização sobre as questões climáticas e integração de medidas efetivas para a redução de suas pegadas de carbono.

O diretor-executivo de Relações Institucionais e Sustentabilidade da MRV, Raphael Lafetá, destaca que a construtora solicita, no momento de homologação e cadastro de seus fornecedores, informações sobre o desempenho em ESG de cada um deles. Conhecer a cadeia de fornecedores, implementar parcerias e premiar aqueles com melhor desempenho tem sido a estratégia da companhia. E a meta para os próximos anos é uma maior aproximação da cadeia, gerando valor compartilhado e atuando como uma grande e forte influência no mercado. A companhia negocia anualmente cerca R$ 1,5 bilhão junto a aproximadamente 8 mil fornecedores.

“Atuamos em duas frentes: a primeira, nos preparando de acordo com estudos científicos, para a escolha das melhores áreas. E, em seguida, na prevenção para que os eventos não aconteçam e não tenham impactos diminuídos. Temos feito um trabalho forte com os parceiros para modificar o processo produtivo para gerar menores emissões. Se conseguirmos organizar as comunidades produtivas, o impacto é global. O Brasil tem essa consciência da produção limpa, da reciclagem. O que falta, muitas vezes, é a ação. O investidor provoca essa ação”, avalia Lafetá.

Além do caráter artesanal da construção civil, outro dificultador para a implantação de soluções sustentáveis é a variedade de condições climáticas em um país tão grande como o Brasil e falta de padrão, já que cada município tem a sua legislação própria.

“Quando o processo é muito artesanal, o controle é muito difícil porque passa pelas limitações individuais. Quando o processo começa a ficar mais industrial, o controle aumenta. Como setor, estamos passando por essa transformação, mas de forma mais lenta. No caso da MRV, temos um certo pioneirismo nessa preocupação e busca de soluções. Pelo nosso volume de entrega, entendemos que temos a responsabilidade de puxar a cadeia, não só os nossos fornecedores e outros parceiros, mas também os nossos clientes. Temos um papel conscientizador”, afirma o diretor-executivo de Relações Institucionais e Sustentabilidade da MRV.


A RL Costa une tecnologia, sustentabilidade, mobilidade urbana, estilo de vida e responsabilidade social em seus projetos | Crédito: Francisco Dumont

As obras, porém, são a ponta mais visível do compromisso que toda a sociedade precisa estabelecer para mitigar o que for possível e se adaptar às mudanças climáticas. E uma das expressões mais fortes e importantes da sociedade se dá através do planejamento urbano. Ele é quem dita as regras e propõe as melhores práticas para o setor em determinado espaço geográfico.

Segundo o arquiteto, urbanista e diretor da MYR Projetos Sustentáveis, Sérgio Myssior, a construção civil tem um papel muito importante na sustentabilidade das cidades. Para ele, não adianta continuar produzindo moradias como foi feito até aqui. Para usar os recursos de maneira mais racional, é preciso que as pessoas morem perto das oportunidades de emprego, saúde, lazer e educação.

“Se você põe as famílias carentes em áreas mais distantes, acaba criando um ciclo vicioso. As pessoas morando cada vez mais distantes das oportunidades, mais oneroso é para a família e para o poder público, porque ele precisa criar mais infraestrutura. No Brasil tivemos uma migração muito grande para as cidades que não veio acompanhada de infraestrutura e planejamento. As cidades não têm recursos para lidar com esse movimento. Elas precisam de parcerias regionais e entre os entes federativos. As cidades são o território para a melhoria de vida das pessoas e da sustentabilidade do planeta como um todo. As empresas têm adotado processos construtivos mais enxutos, se aproximando da verdadeira indústria da construção civil, diminuindo o desperdício, evitando acidentes, puxando um ecossistema próprio. Hoje qualquer edificação precisa dialogar com o lugar onde está, sendo um vetor de desenvolvimento e vitalidade urbana. Não é só inserir elementos de sustentabilidade, mas também pensar que aquela edificação vai ter mais algumas centenas de anos de operação. Ela precisa, então, ser econômica”, destaca Myssior.

Conforme avaliação do arquiteto e urbanista e diretor da BLOC Arquitetura, Alexandre Nagazawa, os impactos que sentimos hoje são fruto de décadas de exploração e ocupação inadequada do espaço. Grandes adensamentos foram liberados no passado em regiões de grande impacto ambiental e paisagístico. Além de gerarem risco à população, demandam hoje em demasia a infraestrutura urbana deficiente e impossibilitada de melhora, ocupando áreas que hoje seriam classificadas como de risco ambiental e geológico.

“Um exemplo simples com a falta de cuidado dos planos diretores anteriores com o meio ambiente e a questão climática é a famosa taxa de permeabilidade. Antes a cidade podia impermeabilizar praticamente 100% dos seus terrenos, substituindo a área permeável em terreno natural por caixas de captação, que retardam o lançamento das águas pluviais na rede pública. O resultado nós podemos sentir na pele, no calor cada vez mais insuportável em nossas cidades sem áreas verdes e no volume catastrófico das águas das chuvas que escoam rua afora, levando tudo e todos, porque justamente o solo já não drena nada. O atual plano diretor vem tentar mitigar este grande problema, obrigando os novos empreendimentos a garantir o percentual mínimo de área permeável sobre terreno natural, possibilitando assim a criação de áreas verdes e permeabilidade da água no solo ao invés de sobrecarregar direta e totalmente a rede de drenagem pluvial. A concentração e incentivo ao adensamento em áreas de centralidade e corredores viários com maior capacidade de infraestrutura é um grande ponto positivo. Dessa forma otimiza-se a estrutura existente da cidade, desonerando áreas com menos capacidade de expansão de infraestrutura”, completa Nagazawa.