A Amazônia é o bioma mais desmatado no País, com uma perda de 26 mil km² de área somente este ano. Há necessidade da aplicação de quatro aspectos baseados na natureza, infraestrutura da economia e dispositivos básicos sociais que deveriam ser aplicados ao bioma para o desenvolvimento sustentável. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Ricardo Abramovay, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, detalha quais são eles.
Ele começa relembrando que se as forças destrutivas continuarem “prevalecendo” as mudanças para o desenvolvimento sustentável do bioma podem não acontecer, e que o quadro depende de decisões políticas. Anteriormente, as zonas mais devastadas eram áreas públicas, que eram invadidas e reivindicadas como propriedade privada, por meio de falsificações. Para esse processo, as sucessivas alterações nas leis ocasionaram um “estímulo para quem exerce essa função de desmatar”, salienta o professor.
O território amazônico atualmente compõe um quadro de 50% de demarcação. Isso vai desde territórios indígenas às florestas nacionais e parques, sendo esses os principais elementos no combate ao desmatamento.
Explica que nesses locais a expectativa de se legalizar zonas é baixa, em contrapartida ao número de invasões em áreas protegidas legalmente, e de encontro com o que configuraria crimes contra o patrimônio público: “O crime contra o patrimônio público se dava fundamentalmente nas áreas não demarcadas ou nas áreas privadas que não poderiam ser desmatadas”.
Soluções viáveis
As saídas viáveis para se reverter a situação na Amazônia são vistas a partir de quatro “dimensões”. A primeira delas é a de que a floresta é a mais importante infraestrutura da qual dispõe o Brasil. A segunda trata do fato de que nós precisamos de uma infraestrutura de cuidado, voltada para serviços essenciais para a população, como o saneamento básico, que sofre com um dos piores indicadores entre as populações brasileiras.
A terceira diz respeito à necessidade de uma infraestrutura material. Para este caso, o professor cita a questão do óleo diesel na região do transporte de castanhas e da energia elétrica. Já o quarto elemento seria no tocante à população amazônica, com melhorias na infraestrutura imaterial ligada a marcas de qualidade de serviços, como a educação.
Ricardo Abramovay – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
A formação técnica e educacional deveria ser aliada a esses quatro tópicos, a fim de abranger também as cidades, inspiradas na ideia de soluções direcionadas baseadas na natureza e pensadas no desenvolvimento sustentável. Abramovay finaliza ressaltando que, em um momento em que ainda se pensa os avanços na Amazônia a partir da construção de portos e estradas para a construção de commodities, há uma “avenida de oportunidades de crescimento econômico” voltada para melhorar as condições de vida da população e do meio ambiente.