Sai falta de mão de obra, entra falta de demanda
Induzido pelos números recentes da economia, o discurso dos empresários ligados à cadeia produtiva da construção civil brasileira mudou. Se antes pregava a busca de mão de obra qualificada para atender as vagas em aberto, atualmente a demanda é por obras. “Não podemos nos acomodar com o crescimento quase zero do PIB. A situação é grave, e se o governo não reagir, estimulando setores que impulsionam o desenvolvimento como o da construção, ela pode se agravar mais ainda”, afirma o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto.
O dirigente reverbera opiniões de vários segmentos, além de cobrar o pagamento de obras atrasadas e o lançamento de empreendimentos prometidos – tanto no âmbito federal quanto estadual e municipal. “Os governos precisam acabar com os atrasos dos pagamentos das obras de infraestrutura e habitação popular, colocar em dia os cronogramas de execução que foram adiados e retomar a concessão de financiamentos. O mesmo vale para o programa Minha Casa Minha Vida, que ainda não iniciou a contratação das prometidas 350 mil unidades habitacionais da fase 2 nem iniciou a fase 3”, reitera.
O vice-presidente de economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, avalia que a retomada das obras passa por concessões de obras públicas e PPPs (Parcerias Público-Privadas) desde que ofereçam contratos atrativos e segurança jurídica, além de procedimentos que estimulem a economia. “Precisamos destravar tudo o que bloqueia o aumento da produtividade, como o excesso de burocracia em aprovações de empreendimentos imobiliários, dificuldades nos registros de imóveis e falta de flexibilidade na legislação trabalhista”, opina.
Queda nos insumos
A constatação de que “mão de obra” foi substituída por “demanda por obras” se confirma nos dados recentemente apresentados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). No estudo “Construção civil: desempenho e perspectivas” detecta-se queda de 5,73% no volume de insumos, como cimento, areia, pedra brita e blocos, impactados, obviamente, pela baixa contratação de fundações e de estruturas. Para 2015, estima a análise, essa queda tende a se acentuar. Porém, a FGV vê crescimento nos insumos que envolvem a etapa do acabamento, haja vista que existem muitos empreendimentos iniciados em 2013, e que deverão ser entregues no primeiro semestre de 2015.
Obviamente, os reflexos da menor contratação de obras impactam no emprego. De acordo com os números levantados pela FGV, somando todos os segmentos, a redução de vagas na construção civil será de 6,47%. A maior queda, aponta o estudo, ficará com a infraestrutura, que deverá contratar 14,09% a menos, seguido do setor imobiliário, que tende a cair 7%. “Os dados que apontam queda nos setores imobiliários e de infraestrutura deixam evidentes que a preocupação futura dos empresários passou a ser a falta de demanda, superando os problemas com falta de mão de obra”, atesta Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção da FGV.
Confira a íntegra do estudo da FGV
Entrevistados
Presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto; vice-presidente de economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan e coordenadora de projetos da construção da FGV, Ana Maria Castelo
Contato: sindusconsp@sindusconsp.com.br