Rio 2016: CIO detalha estratégias e desafios de TI para as Olimpíadas no Brasil
Elly Resende tem sob sua responsabilidade uma tarefa que passa longe do trivial. Ele é o diretor de tecnologia da informação dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e tem o desafio de entregar um evento memorável. “Temos que rodar uma solução robusta, com nível de serviço agressivo”, dimensiona. Há pouco mais de um ano para abertura da competição, o executivo conversou com Computerworld Brasil e revelou os desafios e estratégias que desenvolveu para atingir seus objetivos e metas.
Computerworld Brasil – Como estão os projetos de TI dos jogos?
Elly Resende – Seguimos o cronograma de atendimento. Temos um acompanhamento do COI (Comitê Olímpico Internacional), que elaborou marcos de entrega e, em geral, estamos correndo atrás desse cronograma, sempre dentro dos prazos. Estamos no caminho certo.
Computerworld Brasil – Quando começaram os trabalhos da tecnologia?
Resende – Estou no comitê desde a candidatura do Rio. Montamos o time e começamos a trabalhar a parte do planejamento da TI para os Jogos em meados de 2010.
Computerworld Brasil – Poderia dar uma ideia de como está estruturada a área de tecnologia?
Resende – Devemos ter mais ou menos 130 pessoas só em TI. Temos seis áreas funcionais dentro da tecnologia. Uma delas, que chamamos Resultado, é voltada para soluções dos jogos, é a que cuida da cronometragem e medição, por exemplo; outra área, de sistemas de tecnologia, é responsável por toda parte de arquitetura, segurança e aplicações e funciona quase como um departamento TI tradicional, existente nas empresas; além disso, temos uma área chamada VTS, que é responsável pelos serviços de tecnologia das instalações e que faz a interface nas áreas clientes para entender o que tem que ser colocado em cada lugar e com qual nível de serviço; tem também a área de telecom; depois temos outra frente que chamamos de service delivery, que faz a parte de frente no atendimento; e finalmente temos uma área TPO, que dá suporte a todas as outras, tanto na parte de gestão de projetos e programas, com em metodologias e relatórios de acompanhamento, sendo responsável pela parte de prontidão operacional, que é o que TI precisa para viabilizar seu funcionamento.
Computerworld Brasil – A dinâmica segue mais ou menos o que foi feito nas Olímpiadas anteriores?
Resende – Tem algumas diferenças. Vejo o trabalho que temos feito como um mix entre a maneira como os comitês anteriores se estruturaram e um pouco da nossa realidade.
Computerworld Brasil – Faltando pouco mais de um ano, quantos projetos foram concluídos?
Resende – Monitoramos por volta de 400 projetos. O que posso dizer é que temos um projeto que é macro, chamado Oris (Olympic Results Information Services), que é um processo que faz um acompanhamento para cada esporte considerando um ciclo completo. Ele faz um acompanhamento junto a federações, principais clientes e o COI para detalhar todas as informações daquela competição, sua evolução e o que mudou nos últimos tempos. Esse processo é onde se define o tipo de competição, com todos os detalhes e isso define como os sistemas têm que ser configurados para atenderem os requisitos. Cada esporte, uma vez fechado dentro do Oris, é implantado nos equipamentos que atenderão aos jogos. Temos dentro do ITL (Laboratório de Testes) uma célula para cada esporte, com todos os testes e cenários da solução que será instalada e rodará nas competições. Estamos exatamente no momento de rodar esses testes. Esses são grandes projetos. Além disso, tivemos a implantação dos data centers, primário e secundário; temos o atendimento da organização Rio 2016, que opera como se dobrasse de tamanho a cada ano pela natureza da operação.
Computerworld Brasil – Que desafios foram encontrados até o momento?
Resende – Um desafio constante do mundo e que aqui não é diferente é o de ter que convencer a organização do que tem que ser feito em TI. Os investimentos precisam ser justificados e comprovados. Esse é um dos principais desafios da rotina e não é privilégio nosso. É um pressuposto básico em qualquer empresa demonstrar o valor das soluções. Além disso, temos a necessidade de desenvolver soluções e fornecedores para situações onde não se tem toda maturidade do planejamento. Nos Jogos Olímpicos, a TI tem que entrar em projeto antes das outras áreas e isso nos coloca na situação de trabalhar com flexibilidade e criatividade para desenvolver contratos capazes de serem ajustados ao longo do andamento do projeto. Outro grande ponto que está sempre aqui no nosso pescoço é que temos o desafio de entregar jogos memoráveis.
Computerworld Brasil – Vem muita diretriz já pronta do COI?
Resende – O COI traz muito a questão dos níveis de serviços e regras de atendimento da competição. Mas temos conseguido executar um trabalho de formiguinha de alinhamento para cada uma das necessidades de implantação e como fazer isso de maneira eficiente.
Computerworld Brasil – Ainda falta fechar contratos com algum fornecedor?
Resende – Tem poucos fornecedores que ainda precisamos engajar. Um exemplo disso são serviços de reprografia, que ainda vamos escolher, para executar serviços de impressão.
Computerworld Brasil – Quantos fornecedores estão envolvidos no projeto?
Resende – Temos, hoje, diversos parceiros, principalmente os patrocinadores do próprio COI. Empresas como Panasonic, Omega, Samsung, Atos, Embratel e Claro, Cisco, EMC e Symantec. Além desses, temos alguns fornecedores específicos, algo com dez ou doze, além de mais uma dúzia de outras empresas que trazem diversas soluções que complementam o escopo da TI.
Computerworld Brasil – Teria como dizer de que forma a tecnologia será perceptível durante os Jogos?
Resende – Essa é uma questão interessante. Trabalhamos com a ideia de que nosso sucesso é o anonimato. Só se fala de TI quando ocorre algum problema, um defeito. Temos como principal função preparar a infraestrutura para que todos profissionais consigam executar seu trabalho para que os jogos atinjam toda projeção que os Jogos possuem. Além disso, trabalhamos em conjunto com a área de operações para sermos facilitadores em sua função de entregar serviços de qualidade para os usuários, por exemplo.
Computerworld Brasil – Que lições de TI deu para aprender observando o que ocorreu na Copa do Mundo de 2014?
Resende – Acho que basicamente na parte de Wi-Fi. Eles tiveram dificuldades nas entregas e na disponibilidade. Precisamos lembrar que TI entra em uma situação delicada em eventos desse porte. Brinco que estamos sempre em uma dificuldade. Isso ocorre porque entramos no começo das implantações de um projeto [na parte de infraestrutura] e retornamos só quando aquele espaço está em vias de ser entregue para instalação dos equipamentos. Ficamos nas pontas e é justamente onde os cronogramas apertam. Uma grande lição e desafio para a gente é conseguir fazer o trabalho de adequação desses prazos para estar sempre preparado para os jogos.
Computerworld Brasil – Quanto do budget de uma Olimpíada é destinado à TI?
Resende – Historicamente, algo da ordem 20%.
Computerworld Brasil – Que legado ficara dos Jogos de 2016 para os de 2020?
Resende – Nossa filosofia em tecnologia é fazer mais com menos, sendo enxuto e eficiente. Acho que essa é uma postura que estamos trilhando junto com o COI, buscando eficiência e otimização de recursos. Creio que esse será um dos principais legados.