China “compra” infraestrutura na América Latina
O trem-bala brasileiro seria o mais ousado projeto ferroviário nacional, caso tivesse saído do papel. Agora, o governo federal lança o plano daFerrovia Transoceânica. A extensão pode variar entre 4 mil e 5 mil quilômetros, já que o trajeto ainda não está definido. A princípio, a linha sairia do Rio de Janeiro, cortando outros cinco estados brasileiros (Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre) até entrar no Peru, para desembocar no Pacífico. A diferença desta megaobra, em relação ao trem-bala, é que agora há um investidor interessado: a China.
A potência mundial tem um novo foco de investimentos: a América Latina. Priorizando Brasil e Argentina, a China quer viabilizar corredores de transporte ferroviário para facilitar o escoamento de matérias-primas compradas destes países. Em território argentino, os chineses querem criar um corredor da carne. Já no Brasil, a meta é abrir um caminho para que a soja e os minérios do país possam ser embarcados no Oceano Pacífico – especificamente em portos do Peru. A intenção é baratear a logística, pois, atualmente, os navios saem carregados do Brasil e da Argentina e precisam passar pelo Canal do Panamá para transpor o continente ou cruzar o Atlântico e o Oceano Índico.
Hoje, as exportações brasileiras para a China levam de 30 dias a 40 dias para chegar ao destino, independentemente do caminho (via Canal do Panamá ou Atlântico/Índico). Com a megaobra, a estimativa é que o percurso cairia para 20 dias ou menos. Para viabilizá-la, o aporte financeiro pode chegar a R$ 34 bilhões, dependendo do trajeto a ser escolhido. O principal empecilho está na possibilidade de a ferrovia cortar a região amazônica – traçado mais curto -, o que implicaria em superar barreiras ambientais.
Abertura a empreiteiras estrangeiras
Independentemente das dificuldades que possam ser impostas à construção, na segunda quinzena de maio de 2015 os governos brasileiro, chinês e peruano assinaram 35 acordos, com validade até 2021, que viabilizam a construção da Ferrovia Transoceânica. Mas é possível que a megaobra exija também a inclusão da Bolívia na parceria, caso o trajeto tenha que evitar a floresta amazônica. Com a participação ou não dos bolivianos no empreendimento, esta será, após mais de 40 anos, a segunda obra transnacional viabilizada em território brasileiro. A primeira foi a hidrelétrica Itaipu.
Além disso, poderá ser também a primeira construção a usar empreiteiras estrangeiras. Com o andamento daoperação Lava Jato envolvendo as principais construtoras do Brasil, é possível que elas sejam impedidas de participar de licitações para esse tipo de obra. Com isso, a China já se “ofereceu” para viabilizar o projeto. O governo brasileiro reluta, mas os chineses acenam com a possibilidade de contratação de mão de obra brasileira e transferência de tecnologia. A Ferrovia Transoceânica é vista pela potência mundial também como uma porta de acesso para atuar na construção civil da América Latina.
Entrevistados
– Câmara de Comércio e Indústria Brasil China (CCIBC) (via assessoria de imprensa)
– VALEC, Engenharia, Construções e Ferrovias S.A (via assessoria de imprensa)
Contatos
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infosp@ccibc.com.br
Créditos Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Divulgação