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OPINIÃO

Reconstrução do Rio Grande do Sul deve favorecer um novo modelo de política urbana

Por Raquel Rolnik, Jornal da USP - 16 de maio de 2024 544 Visualizações
Reconstrução do Rio Grande do Sul deve favorecer um novo modelo de política urbana

[Foto: Gustavo Mansur]


No Rio Grande do Sul, a palavra de ordem agora é reconstrução. Bairros inteiros – e até municípios que ficaram debaixo de água – terão de ser reconstruídos, exigindo, em algumas situações, o reassentamento, o que significa que deverão ser construídos em outro lugar, diz a professora Raquel Rolnik. E isso, segundo ela, leva a questões de fundamental importância. “Como será essa reconstrução? Nós vamos repetir um modelo de construção das cidades responsável pelo altíssimo impacto dessas inundações, além daquele que também é muito responsável pelos alagamentos?” É uma questão de política urbana, que até aqui tem se preocupado em aterrar e ocupar as várzeas, “enfiando os rios dentro de calhas e canais”, e que é contrária a uma política que promova uma maior resiliência a inundações. “A questão fundamental é não ocupar a várzea”, afirma a colunista. No entanto, tudo se torna muito mais difícil quando a própria legislação atualmente existente promove o aterramento da várzea e é alvo de mais flexibilizações, com várias propostas nesse sentido tramitando no Congresso Nacional.

“Nesse momento da reconstrução, o fundamental é fazer exatamente o contrário. É definir que as várzeas dos rios também devem evitar uma ocupação e um aterramento, tem que preservar as matas ciliares.” Outro ponto destacado pela colunista é o de que os alagamentos estão diretamente relacionados à impermeabilização do solo. “E aí a gente não tem área de absorção, a terra não funciona como uma esponja.” Para a colunista, é importante que se entenda que, em vez de trabalhar contra o rio e a natureza, devemos trabalhar a seu favor, como, menciona ela, vem ocorrendo no campus Butantã da USP, com a reinauguração do Restaurante do Viveiro. “Se as pessoas forem visitar lá, vão perceber que toda área é uma grande esponja. Foi tudo pensado como uma solução baseada na natureza, com jardins de chuva, valetas nos estacionamentos. O que eu estou querendo dizer com isso? Estou querendo dizer que é absolutamente possível se implantar políticas desse tipo”, afirma.