Investimentos para transporte sobre trilhos dependem de intermodalidade
DCI
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10 de setembro de 2015
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São Paulo - Há dinheiro disponível para investimentos em mobilidade urbana, inclusive para a expansão da malha metroferroviária. No entanto, a dificuldade para os poderes público e privado é articular projetos que unam as necessidades do tecido urbano e que conectem os modais do transporte público, sem negligenciar quem se locomove de carro.
A afirmação vem do secretário nacional de Transporte e Mobilidade Urbana (Semob) do Ministério das Cidades, Dario Lopes. Há dinheiro para ser emprestado. O que falta é usar esse potencial para gerar receitas no Capex [sigla em inglês para despesas de capital com investimento], afirmou Lopes. Como informado pelo secretário ao DCI, atualmente há cerca de R$ 60 bilhões empenhados em projetos de mobilidade urbana somente no Estado de São Paulo. O montante representa 40% do dinheiro investido em empreitadas semelhantes no País.
Entre os projetos de mobilidade que contam com apoio do governo federal estão a Linha 6 do metrô (que ligará Brasilândia à zona sul), que operará através de uma parceria público-privada (PPP), a linha 18 (de monotrilhos, localizada no ABC Paulista), os metrôs das cidades de Salvador e Curitiba e o VLT (veículo leve sobre trilhos) da Baixada Santista.
O VLT carioca é outra obra que conta com apoio. Também desenvolvido como PPP, o projeto deve integrar o centro do Rio de Janeiro e o Aeroporto Santos Dumont à região portuária da cidade. A expectativa é que a construção seja concluída até as Olimpíadas do ano que vem.
De acordo com dados do Ministério do Planejamento, 132 km de trilhos foram entregues pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) entre janeiro e junho de 2015.
Barreiras
Apesar da quantidade aparentemente grande de parcerias, a expansão do transporte sobre trilhos ainda enfrenta desafios. O principal deles é a execução de projetos que reúnam esforços tanto das prefeituras envolvidas quanto das gestões estaduais. A união é importante para que ocorra uma integração entre a malha de ônibus, trens, metrô, carros, além de veículos não motorizados
Durante encontro promovido pela Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aeamesp), em São Paulo, o diretor de Planejamento da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Silvestre Eduardo Rocha Ribeiro, jogou luz sobre a questão. Saímos de um processo histórico de construção de rede para outro, de adequação, afirmou.
Como não há garantias de que o número de pagantes vai aumentar junto com a expansão da rede, a questão da remuneração fica distante, continuou Ribeiro, defendendo o aumento dos aportes destinados pelo governo federal. Ribeiro também criticou o ambiente jurídico, que dificultaria o andamento de projetos.
Já o consultor da Aeamesp, Antonio Maria Claret, citou a dificuldade que municípios médios, mas com mais de 300 mil habitantes, enfrentam para ter acesso ao crédito.
Integração
Envolvido na construção das Linhas 1 e 3 do metrô paulistano (durante as décadas de 1970 e 1980), Claret ainda relatou que ao não contemplar a intermodalidade, o projetos entregaram resultados aquém dos possíveis. Ao não integrarmos, a logística na cidade perdeu eficácia, afirmou.
A declaração encontra suporte no estudo apresentando pelo professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Eduardo Haddad, ainda durante o encontro da Aeamesp: segundo ele, o impacto do trânsito sobre a economia brasileira ocasiona perda de R$ 156,2 bilhões anuais.
ABC
Ainda assim, o desenvolvimento de iniciativas nos moldes de integração preconizados pelo governo federal está acontecendo. Destacado pelo secretário Dario Lopes, a Linha 18 - Bronze é um caso em São Caetano do Sul. Há um plano de mobilidade que envolve os 8 municípios do consórcio, exemplificou. O traçado do monotrilho será compatível com as malhas urbanas de cada uma das cidades do ABC participantes. Os investimentos metroferroviários ainda devem ganhar reforço com a criação de uma linha de crédito especial da Caixa. Os R$ 6,2 bilhões injetados pelo governo federal em 2014 são oriundos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Henrique Julião