A Olimpíada verde do Brasil
Novos ares: O projeto foi criado para valorizar a sustentabilidade, diz Maurício Cruz Lopes, diretor geral da Ilha Pura, num dos 31 edifícios que irão abrigar os atletas nas Olimpíadas de 2016 ( foto: Stefano Martini)
Nos últimos 20 anos, o setor de construção civil vem empreendendo inúmeras ações destinadas a reduzir a pegada de carbono de seus empreendimentos. Nesse contexto, além dos investimentos em tecnologias construtivas e sistemas feitos por fabricantes de insumos para o setor, alguns incorporadores conseguiram convencer fundos de investimentos a apostar até mesmo em bairros sustentáveis. O mais marcante deles é Masdar City, encravado no deserto de Abu Dhabi, integrante dos Emirados Árabes Unidos, que consumiu cerca de US$ 20 bilhões.
Os sul-coreanos investiram US$ 35 bilhões em Songdo, enquanto os japoneses despontam com a construção de Fujisawa, um bairro auto-suficiente em energia e imune aos efeitos de terremotos. Apesar de ter entrado atrasado nesta espécie de disputa construtiva verde, o Brasil já tem o que mostrar. Mais especificamente na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde está sendo erguida a Ilha Pura. O empreendimento em nada fica devendo aos projetos semelhantes que existem em outros cantos do planeta.
A começar pela grandiosidade. Suas 31 torres vão acomodar 15 mil pessoas. No total, a carioca Carvalho Hosken e a Odebrecht Realizações Imobiliárias (OR) esperam movimentar R$ 4,5 bilhões com o empreendimento, levando-se em conta o Valor Geral de Vendas (VGV). “Criamos um projeto destinado a acomodar pessoas de faixas etárias e estágios de vida diferenciados, mas que têm em comum o fato de valorizarem a sustentabilidade”, afirma Maurício Cruz Lopes, diretor geral da Ilha Pura, nome da empresa criada para gerir o empreendimento, que servirá de Vila Olímpica para atletas e comissões técnicas.
Apesar de a entrega estar prevista para 1º de março de 2016, para atender o calendário da Rio 2016, as vendas das unidades começaram apenas há poucas semanas. Mas Lopes se mostra confiante em relação ao sucesso do projeto, que contará com 11 tipos de plantas, com área total de 77 m² a 400 m². O valor médio de lançamento foi de R$ 10 mil por metro quadrado. Trata-se de um valor competitivo e que, nas palavras de Lopes, não incorpora os cerca de 10% de gastos adicionais com a sustentabilidade no projeto, em relação a uma obra convencional.
Faz parte dessa conta, ainda, atrativos como o bosque privativo, assinado pelo escritório de Burle Max, além de áreas de lazer e compras, num espaço total de 72 mil m². A despeito dos inúmeros exemplos mundo afora, Lopes conta que a grande inspiração para o bairro planejado carioca vem das próprias experiências dos sócios. Aqui e no exterior. Do Brasil, foram resgatados muitos conceitos do Bairro Península, criado pela Carvalho Hosken, em 2010, também na Barra da Tijuca. Por conta da parceria com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Londres, que abrigou os Jogos de 2012, também entrou no roteiro de visitas.
“O Ilha Pura é a soma de todas as experiências acumuladas pelos sócios, além do que existe de mais moderno nos Estados Unidos, na Europa e nos países da Ásia”, diz o executivo. Mas, afinal, o que esse bairro possui de tão especial? “Trata-se da primeira obra, no Brasil, a conseguir a certificação AQUA tanto para as edificações, como para o bairro”, afirma Manuel Carlos Reis Martins, coordenador executivo da certificação AQUA-HQE, da Fundação Vanzolini. A certificação leva em conta o planejamento e também a gestão de todas as etapas previstas no projeto executivo.
Ou seja, mais que apenas recomendar a adoção de sistemas de captação de água da chuva, a instalação de sistemas de tratamento e o reuso, é avaliado se esses componentes vão gerar os efeitos desejados. “A análise leva em conta a sustentabilidade do empreendimento na fase construtiva. Mas também ao longo de toda a sua vida útil”, diz Martins. De acordo com Lopes, diretor geral da Ilha Pura, tanto a Carvalho Hosken quanto a Odebrecht Realizações viram na obra uma oportunidade única de se firmar no segmento de obras verdes aos olhos do mundo.
Tarefa que será bastante facilitada pela visibilidade que o empreendimento terá a partir dos holofotes das câmeras de TV e das fotografias da Olimpíada de 2016, além da memória de seus primeiros moradores. “Vamos abrigar pessoas de mais de 200 nacionalidades”, afirma. “É uma grande responsabilidade, mas também uma imensa vitrine para o País e as empresas envolvidas no projeto.” Desde a concepção, dois itens exigiram bastante atenção da equipe: água e energia.
Em tempos de escassez de recursos naturais, os moradores do Ilha Pura terão à disposição uma usina de tratamento da chamada água cinza, aquela descartada das pias e dos chuveiros do banheiro. Após ser tratada, ela seguirá para o sistema de descarga de banheiros e para a limpeza de áreas comuns, além da rega das áreas verdes. No caso da energia, alguns empreendimentos contarão com painéis solares para aquecimento da água. “Em vez da autossuficiência, apostamos na redução dos custos de uso, de manutenção e de operação dos equipamentos para ajudar a tornar as edificações mais sustentáveis”, diz.