Brasil perde 6,5 Cantareiras em vazamentos na distribuição
As perdas de água já tratada nos sistemas de distribuição das cidades brasileiras são o principal manancial a ser explorado pelos serviços de abastecimento. Os vazamentos representam uma perda de 6,5 vezes o Sistema Cantareira por ano, o que daria para abastecer com água de qualidade mais de 50 milhões de pessoas.
Esses vazamentos são um problema antigo e não eram combatidos de forma sistemática e efetiva por conta de uma aritmética simplista: é mais barato tratar a água do que combater os vazamentos. Essa conta estranha poderia fazer algum sentido enquanto havia água em abundância nos mananciais e tirar 30 ou 40% a mais do que o necessário não impactava o serviço a longo prazo.
Atualmente, com grande parte do Brasil vivendo uma crise hídrica, essa é uma conta que não fecha. A média de 40% de perdas nos sistemas de distribuição não é mais aceitável diante da possibilidade real de restrições no consumo em áreas densamente povoadas.
Essa é a ótica adotada pelo Movimento Pela Redução das Perdas de Água na Distribuição, lançado em 25 de novembro em evento em Brasília, durante o Congresso da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), com a presença de representantes de empresas que apoiam, de autoridades e especialistas no tema água.
O Movimento, que adotou o slogam “– Perda + Água”, é uma iniciativa da Rede Brasileira do Pacto Global das Nações Unidas, e tem como organizações líderes a Sanasa, empresa de distribuição de águas de Campinas, no interior paulista, e a Braskem.
Elas, no entanto, não estão sozinhas nessa cruzada, mais de 150 empresas, organizações sociais e órgãos de governo já se alinharam às metas do Movimento, que pretende alinhar o Brasil com as metas definidas nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Entre os ODS há um em especial, o de número 6, que prevê: “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”, e em seu item 6.4 diz: “Até 2030, aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os setores e assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez de água, e reduzir substancialmente o número de pessoas que sofrem com a escassez de água”.
O desafio do Movimento “- Perda + Agua” é criar uma consciência social e política da necessidade de ação em relação às perdas. Para isso está se organizando para atuar junto aos candidatos a prefeito em todo o Brasil, e em todos os partidos que participarão das eleições de 2016.
Para Sonia Chapman, executiva da Braskem e uma das porta-vozes do movimento, “essa é uma Missão de longo prazo e o horizonte vai até 2030, tempo estipulado pelas metas dos ODS”, explica.
Participaram do evento de lançamento o presidente da Agência Nacional de Água (ANA), Vicente Andreu Guillo, que colocou a ANA como apoiadora e fornecedora de dados e informações para balizar o Movimento, Paulo Ferreira, Secretário Nacional de Saneamento Básico, ligado ao Ministério das Cidades, o consultor independente e ex-presidente da Sabesp, Gesner Oliveira, o prefeito de Piracicaba (SP), Gabriel Ferrato, e o atual vereador por São Paulo, Ricardo Young, que fez a palestra de inspiração do lançamento.
Para Ricardo Young é importante a mudança do olhar dos gestores públicos, “tendo como valor não apenas os recursos financeiros, mas principalmente a preservação dos mananciais para a garantia do abastecimento às pessoas”, disse.
O consultor Gesner de Oliveira, que realizou um recente estudo sobre o tema para a organização Trata Brasil, além da decisão política das prefeituras e empresas que atuam na captação, tratamento e distribuição de água, é necessário que haja fontes de recursos para as ações.
“O problema é antigo e a maior parte das empresas sabe que existe, no entanto, o custo de uma grande operação de redução de perdas não é pequeno”, alerta. Para ele é necessário que as prefeituras e empresas tenham apoio na elaboração de projetos e no financiamento às ações.
Para Arly de Lara Romêo, Presidente Sanasa, nomeado Embaixador do Movimento, a redução de perdas é possível, mas será necessário um intenso trabalho de informação e transferência de tecnologias entre empresas do setor. “Temos os melhores técnicos e precisamos articular ações efetivas que resultem em ganhos para a sociedade”, explicou.
O movimento tem quatro linhas de atuação.
O de políticas públicas propõe pressão política para que o plano de saneamento adote meta ousada para redução de perdas hídricas, além de definição do papel dos órgãos públicos na execução, monitoramento e fiscalização dos sistemas de distribuição e abastecimento de água.
Consciência e engajamento quer realizar campanhas disseminadas amplamente por mídias sociais, veículos de comunicação, participação e organização de eventos sobre o assunto.
Existe ainda a proposta de elaboração de indicadores confiáveis e consistentes, que permitam o monitoramento ao longo de um período e cujos resultados possam ser comparados com outros países.
Por fim, há a capacitação de gestores e mão de obra – abrangendo prefeitos, assessores e quadros técnicos das prefeituras e empresas de saneamento para gestão dos recursos hídricos –, elaboração de projetos, mapeamento de linhas de financiamento e operação de equipamentos. Além disso, uso da tecnologia para acesso às melhores soluções e equipamentos para redução de perdas hídricas