Engenharia desenvolve estruturas antiabalo sísmico
Na Holanda e na Itália pesquisas convergem para desenvolver materiais não-estruturantes capazes de minimizar danos em caso de abalos sísmicos. Dados revelam que não são as estruturas, mas as paredes internas de vedação que mais oferecem perigo às pessoas quando ocorre um tremor. Pesados, os tijolos cerâmicos acabam ocasionando lesões e, em casos mais graves, morte. Preocupadas com a redução desses danos, a Universidade Tecnológica de Delft, na Holanda, e a Fundação Eucentre, da Itália, trabalham em conjunto para desenvolver blocos mais leves e menos espessos, porém, sem perder a capacidade termoacústica.
Tanto os engenheiros da Delft quanto da Fundação Eucentre são especializados em engenharia sísmica. Nos primeiros estudos, detectou-se que, mesmo que os elementos estruturais de um edifício suportem um evento sísmico, a falha de componentes não-estruturantes pode vir a comprometer todo o desempenho do sistema. Essa conclusão veio com base em estatísticas, onde as perdas causadas por danos aos elementos não estruturais ultrapassaram as perdas geradas por danos estruturais. Neste caso, boa parte das informações coletadas pelos pesquisadores veio de abalos ocorridos em construções hospitalares.
Com base em dados colhidos de tremores sísmicos ocorridos na Itália, a Universidade Tecnológica de Delft passou a trabalhar em novos materiais para minimizar os impactos gerados por eventuais desmoronamentos de paredes de vedação. Testes em uma casa-protótipo construída no campus de Delft começaram a ser realizados em 2014. No ano passado, foram divulgadas as primeiras conclusões. As pesquisas trabalham em duas direções: eliminar a argamassa de acabamento nas paredes internas e produzir blocos de vedação mais leves, porém resistentes, duráveis e com desempenho termoacústico.
Paredes de 10 centímetros
Segundo o gerente do projeto, Ton van Beek, na casa-protótipo foram desenvolvidas paredes de vedação com espessura de 10 centímetros, e que atendem às exigências normativas de forma mais eficiente do que as tradicionais paredes de 30 centímetros – construídas com blocos cerâmicos, e tradicionais nas construções antigas da Europa (principalmente na Itália). “Os italianos mal podiam acreditar quando viram nossas paredes finas e superleves”, disse Ton van Beek, cujo desenvolvimento de estruturas com pouca espessura está concentrado em pesquisas com um novo modelo de concreto leve. “Chegamos ao material ideal. Agora precisamos trabalhar para tornar sua produção viável economicamente”, completa.
O concreto leve é obtido através da adição de espumígenos, os quais garantem diferentes densidades ao material, além de resistência mecânica, isolação térmica, isolação acústica e absorção de energia. “Realizamos cerca de 600 testes em nossa casa-protótipo e não encontramos nenhum outro componente que traga resultados semelhantes quanto o concreto leve”, explica Ton van Beek, que apontou outra vantagem do material: os blocos, mesmo após atingidos por tremores, podem ser reciclados, ou seja, reutilizados na reconstrução de parede de vedação. “Esse efeito de sustentabilidade do concreto leve, por si só, já ajuda a torná-lo economicamente viável em estruturas antiabalo sísmico”, finaliza.
Entrevistados
Ton van Beek, engenheiro civil com especialização em engenharia sísmica, e gerente do projeto da Universidade de Delft, na Holanda
Fundação Eucentre (via assessoria de imprensa)
Contatos
A.vanBeek-1@tudelft.nl
info@eucentre.it
Créditos fotos: Divulgação/TUDelft/Eucentre
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330