Arquitetura municipal ajuda a melhorar as cidades
A Inglaterra sempre estimulou projetos dos chamados arquitetos municipais. São profissionais que nasceram e estudaram nas cidades e, consequentemente, conhecem melhor o espaço urbano do que quem vem de fora. Com isso, possuem mais ferramentas para influenciar positivamente em áreas que vão desde a ocupação urbana até a mobilidade. Agora, esse conceito se espalha pela Europa e chega também aos Estados Unidos. No Brasil, o exemplo melhor acabado de arquiteto municipal é Jaime Lerner, que, ao se tornar prefeito, ajudou a transformar a cidade em que nasceu: Curitiba.
Na capital do Paraná, o principal legado do arquiteto e urbanista foi o inovador sistema do BRT (Bus Rapid Transit), que se propagou por vários países. Em Londres, a transformação imposta na região da cidade conhecida como Westside, e que abrigou os equipamentos das Olimpíadas de 2012, também foi coordenada por engenheiros e arquitetos londrinos. Mas o uso da arquitetura municipal não nasceu recentemente. Remonta dos anos 1950, quando o governo britânico criou conselhos para repensar as cidades no pós-guerra. Surgiu o LCC Architects Departament (Departamento de Arquitetura do Conselho dos Condados de Londres).
O líder do LCC Architects Departament era Norman Engleback. “Ele produziu uma escola de arquitetos e urbanistas que até hoje influencia os projetos no Reino Unido”, revela Owen Hatherley, pesquisador da arquitetura inglesa. Hoje, movimentos semelhantes se espalham pela Europa, especialmente na Espanha e na Alemanha. Porém, Owen Hatherley cita que o arquiteto russo Moisei Ginzburg teria sido o precursor da arquitetura municipal na Moscou de 1920. Coincidentemente, no mesmo ano Lenin criou a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).
Tendência chega a Seul Moisei Ginzburg teria sido incumbido pelo regime comunista russo a criar um padrão de cidade para a União Soviética. Hoje, quase 100 anos depois, é o arquiteto russo Mikhail Posokhin quem melhor representa a arquitetura municipal de Moscou. O especialista tem sido um dos principais nomes à frente do comitê que organiza a Copa do Mundo de 2018, que será na Rússia, e que tem a incumbência também de modernizar a capital dos russos. Um dos principais planos é revitalizar a cidade com parques, uma malha de ciclovias e edifícios que revelam a nova arquitetura russa.
Também são importantes representantes da arquitetura municipal na Europa nomes como Ernst May, em Frankfurt; JJP Oud, em Roterdã, e Hubert Gessner, em Viena. O conceito cruza os oceanos e chega também em Seul, onde em 2014 a prefeitura da capital sul-coreana passou a valorizar profissionais nascidos e formados na cidade para repensar a cidade. “O conceito é de que essas pessoas são leais às cidades onde nasceram e, por isso, tem um compromisso maior com o legado que pretendem deixar para a população”, afirma Owen Hatherley, convicto de que a arquitetura municipal assumiu para si a transformação das cidades no século 21.
Entrevistado
Owen Hatherley, jornalista britânico especializado em arquitetura e articulista da revista eletrônica dezeen magazine
Contatos:
jobs@dezeen.com
@owenhatherley
Crédito Fotos: Divulgação/International Road Federation