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A dimensão social da sustentabilidade

ArchDaily - 16 de março de 2017 1236 Visualizações
A dimensão social da sustentabilidade
É possível notar que o uso da palavra “sustentabilidade” em projetos - de qualquer natureza - tem perdido credibilidade e significado nos último anos, tanto pela grande abrangência de sua definição quanto pela superficialidade de sua aplicação. No entanto, projetos arquitetônicos e urbanos sustentáveis são sim necessários e vão além do uso de produtos certificados ou energia renovável. Eles devem tocar igualmente os três pilares que definem o conceito de sustentabilidade: o ambiental, o econômico e o social. Dentre eles, o último é o menos visado, talvez pela dificuldade da aplicação de métricas, talvez pelo resultado vir a longo prazo, mas sua importância é fundamental para a obtenção de um projeto verdadeiramente sustentável.
Sustentabilidade como ferramenta de marketing: o “greenwashing”
Foi na Conferência de Estocolmo, organizada pela ONU em 1972, que iniciou-se a discussão da degradação ambiental como problema global, reconhecendo a necessária busca por um desenvolvimento econômico mais equilibrado, que respeitasse os recursos naturais do planeta. Mais tarde, o conceito de desenvolvimento sustentável foi formalizado a partir do Relatório Brundtland, em 1987, com a definição clássica de desenvolvimento sustentável como “o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações”.
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Em 1992, um novo encontro mundial aconteceu no Rio de Janeiro, a ECO-92, cujo principal documento produzido foi a Agenda 21, que estabeleceu a importância de cada país a se comprometer com a um novo padrão de desenvolvimento, refletindo sobre os problemas socioambientais. A partir daí, inúmeras iniciativas foram sendo criadas nas últimas décadas, além de diversas conferências, certificações, produtos, tecnologias, etc.
No entanto, é necessário tomar cuidado com produtos e ações “verdes” que se dizem responsáveis ambientalmente, mas que no fundo não passam de ferramentas de marketing para alavancar vendas ou justificar práticas irresponsáveis. Greenwashing, portanto, é o termo em inglês que descreve o ato de induzir consumidores a acreditarem nas práticas ambientais de uma empresa ou nos benefícios ambientais de um produto ou serviço de forma errônea.
Um exemplo clássico foi o caso da empresa Mobil Chemical, que lançou sacolas “biodegradáveis” que na verdade se comportavam como sacolas comuns, não sendo decompostas se jogadas em aterros sanitários, somente quando deixadas no sol, e ainda assim eram apenas reduzidas a pedaços menores de plástico. O próprio porta-voz da empresa admitiu que a tal biodegradabilidade era nada mais que uma ferramenta de marketing para vender mais sacolas.
No ramo da construção civil não é diferente: quantos empreendimentos imobiliários vendidos como “verdes” estão inseridos em APPs (Áreas de Preservação Ambiental), impactando os recursos naturais circundantes? E quantos pouco levam em consideração os condicionantes sociais?
O fator humano da sustentabilidade
Como dito anteriormente, “sustentabilidade” é definida por três dimensões: a ambiental, a econômica e a social e, para ser “verdadeiramente” sustentável, é necessário olhar para os três aspectos. Na literatura especializada, são inúmeros os estudos centrados na dimensão ambiental, buscando soluções para reduzir o impacto ambiental das mais diversas atividades, assim como a dimensão econômica, com estudos extensos sobre tecnologias e estratégias para redução de custos com energia ou e/ou operações.
No entanto, a dimensão social é uma das menos exploradas, é a mais difícil de medir e está geralmente atrelada às dimensões econômicas e ambientais - a sociedade como uma ameaça aos recursos naturais ou o ser humano como objeto do aumento da produtividade para redução de custos.
Autores como Magis e Shinn (2008) afirmam que a sociedade deve ser sustentada por direito próprio e, por isso, a sustentabilidade social tem papel fundamental na sustentabilidade como um todo, uma vez que são os seres humanos, individual ou coletivamente, que irão determinar níveis de bem-estar econômico ou ambiental. Para Larsen (2008), sustentabilidade deve pensar primeiro nas pessoas, como elas fazem suas escolhas e suas respectivas consequências.
Esses autores também apontam que há quatro condições principais que apoiam o bem-estar social e, consequentemente, a sustentabilidade social. Essas condições possibilitam a criação de movimentos que equilibram interesses múltiplos e diversos, guiam políticas e encorajam a resiliência:
o bem-estar humano (suprimento das necessidades básicas e segurança),
a igualdade (garantia de um compartilhamento igualitário dos benefícios e custos da sociedade)
o governo democrático (governança orientada à população) e
a sociedade civil democrática (empoderamento da população para participar do processo democrático). 
O caminho a partir da interdisciplinaridade
Dessa forma, o papel da interdisciplinaridade torna-se ainda maior quando abraçamos a dimensão social da sustentabilidade, uma vez que o bem-estar humano depende de condições culturais, econômicas, sociais, ambientais e políticas. É necessário criar políticas urbanas que promovam a interação social e a participação pública na tomada de decisões, tornando comunidades entes vivos, coesos e integrados; encorajar a colaboração entre os diversos atores para a resolução de problemas; oferecer acesso aos serviços básicos, ao espaço público de qualidade, ao emprego, saúde, etc.
Portanto, sustentabilidade não se reduz apenas a uma tecnologia “verde” ou a utilização de materiais reciclados numa praça. É criar a oportunidade para as pessoas prosperarem, aumentando sua integração social, participação e qualidade de vida. Ir além dos relatórios de responsabilidade social empresariais e repensar questões éticas centrais de suas operações. A dimensão social da sustentabilidade não tem a ver com a capacidade do ser humano ser mais produtivo trabalhando num edifício certificado, mas aumentar seu engajamento cívico e sua responsabilidade sobre o consumo, suas escolhas e até mesmo suas atitudes.