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Smartphones e redes sociais poderão refinar análises meteorológicas

Correio Braziliense - Vilhena Soares - 05 de julho de 2019 844 Visualizações
 Smartphones e redes sociais poderão refinar análises meteorológicas
A quarta revolução industrial, também chamada de Indústria 4.0, é um fenômeno que tem impactado a comunicação, o comércio e a prestação de serviços graças a um de seus pilares: a internet das coisas. Essa conexão de itens cotidianos à rede mundial de computadores também mudará radicalmente as previsões meteorológicas. Segundo especialistas, celulares e redes sociais, entre outras tecnologias, poderão ser usados na coleta de dados que resultam na previsão do tempo. Há também a aposta de que as novas aplicações vão contribuir para melhorar o monitoramento do meio ambiente.

Boa parte dos instrumentos usados para a vigilância ambiental é considerada limitada, devido a uma série de restrições técnicas e práticas. “As tecnologias existentes, incluindo sistemas de sensoriamento remoto e ferramentas no nível do solo, podem sofrer com obstáculos, como a baixa representatividade espacial e falta de precisão, ao medir próximo à superfície da Terra”, ilustra Noam David, pesquisador no Instituto de Ciência Industrial da Universidade de Tóquio.

Em um artigo publicado recentemente na revista Advances in Atmospheric Sciences, o cientista do Japão mostra como as tecnologias que compõem a internet das coisas poderão mudar esse cenário. “Elas geram volumes de dados sem precedentes e com imensa cobertura, rapidez e disponibilidade. Há uma oportunidade crescente para complementar as técnicas de monitoramento de ponta com os grandes fluxos de dados produzidos”, defende Noam David.

Segundo o especialista, os smartphones contêm sensores sensíveis ao clima e há pesquisas recentes mostrando a viabilidade de considerar os dados coletados por esses dispositivos para monitorar a pressão atmosférica e a temperatura. “Outra ferramenta interessante é o uso de redes sociais, que podem fornecer informações ambientais vitais relatadas por milhares de ‘observadores humanos’”, complementa.

Noam David cita também a transmissão de dados feita por links de comunicação sem fio, como as antenas de celulares, que estão presentes em quase todos os territórios. “Elas podem ser utilizadas como uma instalação de monitoramento ambiental. Uma variedade de estudos sobre o assunto aponta para a capacidade de monitorar chuvas e outros hidrofenômenos, incluindo neblina, vapor de água, orvalho e até os precursores da poluição do ar, usando os dados gerados por esses sistemas”, detalha.

Complementares

Apesar da versatilidade, o especialista acredita que essas tecnologias não devem ser pensadas como substitutas dos aparelhos usados em previsões atualmente, mas como ferramentas complementares. “Esses recursos foram originalmente projetados para outros fins que não o monitoramento ambiental e, naturalmente, não são tão precisos quanto os sensores dedicados a isso. No entanto, nos muitos casos em que instrumentos dedicados não são implantados no campo, esses novos sensores ambientais disponíveis poderão fornecer alguma resposta, algo que geralmente é inestimável”, explica.

A ponderação é compartilhada por Gilvan Sampaio, chefe da Divisão de Operações do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). “Na previsão atual, juntamos uma série de medidas que são feitas por aparelhos presentes nas estações especializadas e também nos aeroportos, o que chamamos de dados de entrada. Se você conseguir, por meio dessa nova aparelhagem, ter dados em áreas inóspitas, como a Amazônia, será possível ter mais acuidade na hora de realizar os cálculos que resultam na previsão”, ilustra.

O especialista brasileiro acredita que a criação de supercomputadores também potencializará a área. Para Sampaio, o setor que será mais beneficiado pelo uso de novas tecnologias será o de previsão imediata. “A previsão do tempo normal é de cerca de 15 dias, mas a imediata é feita para períodos mais curtos, de até seis horas. É realizada em regiões específicas e usada para prever fenômenos como tornados, que se formam em cerca de 20 minutos. Por isso, os Estados Unidos são um dos países que mais têm investido no uso desses novos recursos inteligentes, voltados para esse tipo de análise”, diferencia.

Poluição
 
Professora do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB), Luciana Figueiredo Prado também acredita que o uso de aparelhos que compõem a internet das coisas pode contribuir para refinar as técnicas de monitoramento usadas na preservação do meio ambiente. “Temos locais na Floresta Amazônica e em regiões mais pobres, muito presentes na África, por exemplo, em que é difícil instalar os aparelhos que usamos para as medições usadas em análises ambientais, como os pluviômetros, que medem a chuva. Se pudéssemos usar antenas de celulares, isso contribuiria extremamente para esse tipo de trabalho”, afirma.

Para a professora da UnB, o monitoramento das cidades também poderá ser melhorado, incluindo o controle da poluição atmosférica. “As áreas urbanas são as que mais podem sofrer com fenômenos como alagamentos. Seria interessante ter alternativas que mostrassem com antecipação as chuvas intensas, impedindo, por exemplo, a ocorrência de enchentes. Temos alguns aplicativos voltados para dar esses alertas para a população diretamente no celular. Seria interessante torná-los ainda mais eficazes”, diz.


Palavra de especialista
Um conceito a ser explorado

“Essa é uma nova abordagem para coleta de dados ou inferências sobre condições do tempo (condições meteorológicas) por meio de diversas fontes possíveis, que já estejam na internet ou interconectadas. Essas fontes são variadas, vão desde mineração de texto em redes sociais — as pessoas comentam como está o tempo hoje ou se houve algum evento extremo, como granizo, vendaval, geada etc. — até pós-processamento de imagens de câmeras de vigilância, dados de celulares, ou de veículos em trânsito. A hipótese do autor desse estudo é de que isso seria barato porque esses outros ‘sensores’ já estão operando em diversos pontos. Porém, é uma ideia conceitual, que poderia ser desenvolvida e explorada. A Embrapa está com um projeto de internet das coisas com a área de agronomia para uma solução integradora chamada AgroAPI, que envolve 45 parceiros, operadoras, empresas de dispositivos e conectividade, além de 13 unidades da Embrapa. Essas novas tecnologias podem agregar muito ao sistema produtivo, tanto do ponto de vista ambiental, quanto do econômico e social. Por exemplo, você pode melhorar a eficiência do uso de recursos naturais. Um sensor de solo, de umidade, pode fazer uma aplicação de fertilizantes ou defensivos agrícolas de maneira assertiva. Uma irrigação inteligente pode minimizar o desperdício de água. Com isso, o produtor pode mitigar o impacto dos recursos naturais, reduzir custos”
Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária

“Elas (as tecnologias) geram volumes de dados sem precedentes e com imensa cobertura, rapidez e disponibilidade. Há uma oportunidade crescente para complementar as técnicas de monitoramento de ponta”
Noam David, pesquisador no Instituto de Ciência Industrial da Universidade de Tóquio