Blocos de concreto para calçadas: o que vem por aí?
Artefatos emborrachados se moldam ao crescimento das árvores e evitam ruptura do pavimento das calçadas?. Crédito: CityLab
Cidades brasileiras estão modificando suas calçadas por conta da aprovação de estatutos do pedestre pelas câmaras municipais. A pedra portuguesa, quando não é transformada em patrimônio cultural – como ocorre em Curitiba -, fica para a história e cede lugar às placas de concreto e aos blocos intertravados. Fora do país, esses artefatos estão agregando tecnologias e se misturando a outros materiais para criar calçadas mais duradouras, sustentáveis e com capacidade para gerar energia.
Nos Estados Unidos, por exemplo, elementos de concreto que se aquecem já são realidade. Nas cidades de Nova York e Minneapolis, estão em teste placas cimentícias embutidas com um sistema vascular de tubos que transporta água aquecida. A temperatura que a calçada atinge é suficiente para derreter a neve que se acumula na superfície. Apesar do conforto oferecido ao pedestre, o sistema ainda é inviável economicamente. Um trecho de 100 metros custa o equivalente a 100 mil dólares (aproximadamente 390 mil reais).
Na Inglaterra e na França, blocos de concreto cobertos com placas emborrachadas convertem a energia cinética gerada pelos passos dos pedestres em eletricidade. Nos dois países, o sistema é testado em calçadas instaladas na frente de duas estações de trens e transfere a energia para a iluminação pública. Outra tecnologia que usa o calçamento para gerar energia está em teste na Universidade George Washington, nos Estados Unidos. Placas de painéis solares coladas sobre os artefatos, em uma área de 10 m2, produzem eletricidade suficiente para alimentar 450 lâmpadas LED.
Tecnologia que usa artefatos de cimento permeáveis se consolida no Brasil
Blocos que convertem a energia cinética gerada pelos passos dos pedestres em eletricidade já são realidade na Inglaterra. Crédito: Pavegen
Em Cambridge, na Inglaterra, blocos de concreto revestidos com uma película que absorve e armazena a luz UV (ultravioleta) são capazes de se auto-iluminar durante a noite. Outra inovação em teste acontece na cidade de Santa Mônica, na Califórnia-EUA, onde blocos emborrachados circundam as árvores e conseguem se moldar ao crescimento do tronco e das raízes. Isso evita a ruptura das placas, causada pelo crescimento das plantas.
No Brasil, uma tecnologia que se consolida é a que utiliza artefatos de cimento permeáveis nas calçadas. A técnica, usada há mais de 30 anos em países como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, é vista como uma ferramenta que pode ajudar no combate às enchentes nos centros urbanos do país. A cidade de São Paulo decidiu aderir e está promovendo uma grande intervenção em sua mobilidade urbana, trocando as pedras portuguesas por placas cimentícias permeáveis no centro histórico e na região do Vale do Anhangabaú.
A intervenção vai agregar sistema LED na iluminação pública e permitir que toda a rede de energia e de telecomunicações fique enterrada em galerias técnicas e banco de dutos. A inovação no calçamento paulistano virá com a instalação de 850 pontos de jatos d’água para melhorar o microclima da região em dias de calor. A água será aspergida, molhando apenas a calçada, e depois recolhida por ralos para reaproveitamento. Um tanque subterrâneo, com capacidade de 1.500 m3, irá coletar a água para alimentar o sistema de drenagem.
Projeção de como ficará o Vale do Anhangabaú, em São Paulo-SP, após revitalização do calçamento?. Crédito: prefeitura de São Paulo-SP
Entrevistado
Reportagem com base em estudo da CityLab, laboratório que pesquisa os problemas e as soluções para as cidades, e prefeitura da cidade de São Paulo-SP.
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330