Logotipo Engenharia Compartilhada
Home Notícias como o banco do Brics pode beneficiar o Brasil

como o banco do Brics pode beneficiar o Brasil

Marcelo Gonzatto/Agência Brasil - 16 de julho de 2014 1209 Visualizações
como o banco do Brics pode beneficiar o Brasil
A criação de um banco do Brics — grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, anunciada nesta terça-feira, é vista por especialistas como uma oportunidade para o país ampliar investimentos em infraestrutura e aumentar sua relevância internacional.

Além de lançar o Novo Banco de Desenvolvimento, que terá sede em Xangai, na China, o bloco oficializou a formação de um fundo de emergência contra crises de US$ 100 bilhões.

A novidade, divulgada durante a 6ª Cúpula do Brics, realizada em Fortaleza (CE), é a primeira ação significativa do grupo de países emergentes criado em 2006 em busca de uma maior influência global. Até então, os encontros eram pautados por muitos discursos e intenções comuns, sem grandes resultados práticos. Isso mudou nesta semana e, segundo especialistas consultados por ZH, pode trazer benefícios ao país e ao Estado em diferentes áreas — embora não imediatamente.

O banco, com capital inicial de US$ 50 bilhões que pode chegar ao dobro nos anos seguintes, terá de ser ratificado pelos parlamentos de cada país e poderá começar a emprestar dinheiro em 2016. Mas, para a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo Cristina Pecequilo, o simples anúncio da instituição já é significativo para o país.

— Trata-se de um marco para as relações internacionais contemporâneas por ser a primeira iniciativa de peso de países em desenvolvimento que busca solução para nações emergentes. Aumenta a responsabilidade econômica desse grupo, com o Brasil entre eles — analisa Cristina.

Quando o banco começar a injetar dinheiro, segundo o economista Antonio Carlos Fraquelli, o Brasil e o Rio Grande do Sul poderão se beneficiar do fato de que um dos focos da instituição serão projetos de infraestrutura — um dos principais gargalos do Estado e do país para garantir crescimento econômico de forma planejada.

— O banco não vai atender somente aos Brics, mas pode garantir projetos de infraestrutura em setores como estradas, portos, ferrovias, entre outros por aqui. Essas áreas precisam de recursos pesados e há muito por fazer — sustenta Fraquelli.

Para o economista, o momento de criação do banco e do fundo de emergência também é apropriado. Quando o assunto começou a ser discutido, no auge da crise econômica deflagrada em 2008, a economia dos países emergentes ganhou relevância mundial diante da retração experimentada por superpotências como os Estados Unidos e a União Europeia. Agora, segundo Fraquelli, os líderes mundiais dão sinais de recuperação, e países como o Brasil registram PIBs mais tímidos.

— A economia chinesa está em desaceleração, a Rússia tem a crise na Ucrânia, Índia e Brasil enfrentam a inflação, então todos estão sob forte observação dos investidores — acrescenta o economista.

Há alguma desconfiança em relação ao fato de a sede do banco ser na China, e do primeiro presidente ser indiano, o que poderia simbolizar um papel secundário do Brasil. Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) André Reis da Silva, isso não diminui a importância da iniciativa.

— É quase natural a sede ser na China pela capacidade econômica do país, embora isso desperte certa preocupação na nossa diplomacia de que os chineses poderiam usar a instituição para interesses próprios — afirma Silva.

O professor pondera que o formato de gestão e as grandes decisões deverão se basear no consenso entre os membros, reduzindo as preocupações de uma eventual hegemonia de um país.

— O banco deverá seguir o formato colegiado que as cúpulas dos Brics têm mantido nos últimos anos — completa silva.

 

COMO A INICIATIVA PODE BENEFICIAR O BRASIL

Infraestrutura: um dos focos do banco do Brics será o apoio a projetos de infraestrutura — justamente um dos maiores gargalos de países emergentes como o Brasil para garantir crescimento adequado. O acesso facilitado aos recursos do banco pode estimular investimentos em estradas, portos, energia, entre muitas outras áreas que hoje carecem de melhorias.

Condições de empréstimo: os países emergentes dependiam do auxílio de instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional para tocar grandes projetos ou superar crises. Essas instituições exigem obediência a determinadas regras para liberar o dinheiro. Essas regras são determinadas segundo as políticas econômicas defendidas pelos países que controlam essas instituições, como os Estados Unidos. De acordo com o professor de Relações Institucionais André Silva, a instituição deve criar condições voltadas aos interesses dos emergentes, com potencial de interação com outros países em desenvolvimento na Ásia, na África e na América Latina.

Relevância política: um dos objetivos estratégicos do novo banco e do fundo de emergência é criar uma alternativa a instituições controladas pelas superpotências como o FMI. Há vários anos, o Brics tentava alterar a organização do FMI para aumentar o nível de poder dos emergentes na instituição. Como até agora os avanços foram limitados, o lançamento de seu próprio banco e de um novo fundo de emergência aumenta o peso político e econômico desses países no cenário internacional.

Estímulo a empresas: a Confederação Nacional da Indústria (CNI) acredita que o lançamento do banco deverá fortalecer as empresas brasileiras no Exterior ao facilitar investimentos. Projetos em infraestrutura viabilizados pelo banco no Brasil também poderiam reduzir o custo da produção nacional, aumentando a competitividade do país.

Ajuda a outros países: além do banco, a criação de um fundo de emergência para economias emergentes pode ajudar não apenas diretamente o Brasil, mas indiretamente ao socorrer países com os quais os brasileiros mantêm fortes relações comerciais. Uma eventual ajuda à Argentina, por exemplo, ajudaria o setor calçadista gaúcho que exporta para o país vizinho, segundo o economista Antonio Carlos Fraquelli.