O Brasil é o país mais privilegiado do mundo quando o assunto é água. Com rios espalhados por todo o território brasileiro e períodos de chuva que se prolongam por meses, nossa nação deveria liderar os índices em relação aos serviços relacionados a esse bem que é vital à vida e aos negócios. Mas na contramão das oportunidades que esse recurso oferece, o Brasil desperdiça altos volumes de água por não implementar sistemas inteligentes e usufruir das ferramentas disponíveis para otimizar sua distribuição e evitar desperdícios.
Segundo dados publicados pelo Instituto Trata Brasil, são quase 35 milhões de brasileiros sem acesso à água tratada, ou seja, quase 20% da população não recebe este serviço básico. Outro dado alarmante é em relação às perdas na distribuição de água potável, cuja média nacional é de 38,4% e que chega a 55,5% na região Norte. E apenas 27 municípios entre as 100 maiores cidades brasileiras possuem 100% da população atendida com água potável.
Para reverter esse quadro, é urgente a implementação de soluções e serviços inteligentes voltados para otimizar o uso da água em todo o seu ciclo. Um projeto que servirá de exemplo para o país será Aguaduna, cidade que será construída na região do município de Entre Rios, no litoral norte da Bahia. Tendo como objetivo ser um modelo na relação entre cidade e meio ambiente, o projeto prevê uma infraestrutura de abastecimento que abrange reuso, captação de águas da chuva, utilização de água para agricultura e redução de superfícies impermeáveis – o projeto prevê apenas 14% de superfícies construídas e 86% de área permeável. Com essas iniciativas, estima-se uma redução de 50% na demanda de água potável para a cidade.
Outra iniciativa simples e muito benéfica que está prevista para o projeto na Bahia é a pavimentação das ruas feita com concreto permeável visando um melhor aproveitamento da água do solo. Essa drenagem do concreto pode chegar a um nível de permeabilidade de 70% das águas pluviais. Além disso, calçadas, jardins e praças serão pavimentados com blocos de concreto com junta aberta, aumentando assim a permeabilidade do solo.
Soma-se a essas iniciativas as soluções de digitalização, eletrificação, automação e controle que estabelecem as bases para processos eficientes, confiáveis e sustentáveis e ainda muito pouco utilizadas no mercado brasileiro. Ao digitalizar os sistemas de água e esgoto adotando o conceito de engenharia e operação integradas faz com que seja possível explorar de forma otimizada todo o potencial dos sistemas possibilitando ganhos durante todo o ciclo de vida das instalações, tais como a redução em tempo de projeto de até 20% e de comissionamento de até 15%, redução nos custos de manutenção em até 10%. Essa integração gera benefícios não apenas na execução como também na operação e manutenção de todo o sistema de água e esgoto.
A digitalização e o uso de dados permitem também o uso de novas tecnologias que geram otimização e redução de custos em toda a operação. Um exemplo é o gêmeo digital, um modelo preciso das plantas que está sempre atualizado, que a partir da representação digital do sistema possibilita antever problemas e realizar atividades de treinamento a partir da simulação em plataformas de acordo com a demanda local e a utilização dos dados em tempo real.
O uso de tecnologia também facilita a gestão de todo o sistema, possibilitando a utilização sustentável dos recursos hídricos atuando principalmente na eficiência e otimização de todo o sistema de água e esgoto, reduzindo principalmente o consumo energético e as perdas de água. A digitalização do sistema permite ainda a realização de ações preditivas e gera insights para realizar uma gestão mais inteligente de todos os ativos.
Projetos que sirvam de exemplo como Aguaduna e o uso de novas tecnologias visando otimizar o sistema de distribuição de água serão fundamentais para o Brasil resolver os problemas hídricos. A aprovação do Marco Regulatório do Saneamento, no ano passado, impõe metas robustas para serem atingidas até 2033, como levar água potável para 99% dos lares brasileiros. Para comemorarmos esse feito ao fim do prazo estipulado pela nova regulamentação, é urgente a adoção de sistemas inteligentes voltados ao uso da água.
Sergio Jacobsen, CEO da área de Smart Infrastructure da Siemens