A mudança de governo não deverá afetar o desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro, que deverá continuar com seu ritmo de expansão ao longo deste novo ano. Essa é a visão do presidente da Eletronuclear, Eduardo Grand Court, nosso entrevistado do Projeto Perspectivas 2023. Ele faz um balanço muito positivo das operações da empresa no último ano, quando a Eletronuclear retomou as obras de Angra 3 e avançou em outros importantes projetos. Além disso, mais de 100 concursados começaram a trabalhar na companhia em 2022 e a expectativa é que, neste ano, muito mais profissionais sejam chamados para trabalharem na Eletronuclear. Grand Court detalhou ainda que o foco deste ano da empresa será a continuidade das obras de Angra 3 e na expansão de vida útil da usina de Angra 1. Além disso, a Eletronuclear também diz que irá contribuir com os estudos para a localização da quarta usina nuclear brasileira, anunciada no último Plano Decenal de Energia.
Como a sua empresa atuou em 2022? Os resultados foram positivos? Como os negócios transcorreram?
2022 foi um ano muito bom para a Eletronuclear, mas também de grandes mudanças. Passamos por um enorme processo de restruturação organizacional após o processo de capitalização da Eletrobras, o que culminou com a nossa desvinculação da antiga holding. Nossa empresa agora tem como novo controlador, a ENBPar, um novo nome e uma nova marca.
Esse novo momento exigiu muitas adequações em nosso estatuto social e uma grande reformulação na nossa empresa com a implantação de um Governança robusta, coroada com a indicação de um novo conselho de administração e uma nova diretoria executiva.
O grande marco foi a retomada das obras de Angra 3, com a primeira concretagem realizada em novembro, após quase sete anos de paralisação. Outro ponto importante de 2022 foi a conclusão da primeira campanha de transferência de combustíveis usados de Angra 1 e 2 para a Unidade de Armazenamento a Seco de Combustível Irradiado (UAS) e a evolução do projeto de extensão da vida útil de Angra 1 (LTO). Também não poderia deixar de mencionar que, neste ano, completamos mais um ano de operação segura de Angra 1 e Angra 2, gerando muita energia e enchendo de orgulho a todos nós.
Tivemos também um amplo concurso público com disponibilização de centenas de vagas para a contratação de novos funcionários visando, principalmente, atender às demandas de Angra 3. Mais de 100 concursados começaram a trabalhar na empresa esse ano e a expectativa é que, em 2023, muito mais profissionais sejam chamados para trabalharem na companhia.
O próprio setor nuclear brasileiro também passou por transformações significativas em 2022. As mais marcantes foram a criação da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN) e a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), nossa nova holding, que congrega Itaipu Binacional e agora, também, a INB. Essa nova estrutura dá mais robustez e agilidade ao setor como um todo para enfrentar os grandes desafios que nos esperam no futuro, como a conclusão de Angra 3 e o início do projeto de uma quarta usina prevista no planejamento energético do país.
O que espera para 2023, com um novo governo?
A descarbonização e a transição energética para matrizes mais limpas (como é o caso da energia nuclear) é um projeto de Estado, e não de governo. Por isso, tenho a certeza de que os investimentos no Plano Nuclear Brasileiro irão continuar. Nossa principal meta em 2023 é dar continuidade às obras de Angra 3, projeto que foi iniciado em 2010, ano do segundo mandato do presidente, o que demonstra que a Eletronuclear é uma empresa que dialoga com todos os governos. Continuamos trabalhando também no projeto de expansão de vida útil da usina de Angra 1 e contribuindo para os estudos para a localização de uma nova usina.
É importante destacar a importância da energia nuclear na matriz energética brasileira e no mundo. Precisamos de um desenvolvimento forte do setor nuclear brasileiro. Temos uma capacidade técnica já instalada para que possamos dar seguimento ao Programa Nuclear e também apoiar o desenvolvimento de toda uma cadeia produtiva no setor.
O crescimento envolve a produção de combustível, desenvolvido pela INB, o suporte que é dado à indústria da construção pela Nuclep, a fiscalização no tocante ao licenciamento nuclear, realizado pela CNEN e futuramente pela ANSN. O Brasil tem a vantagem de ter minério suficiente para a produção do nosso combustível.
Não podemos esquecer que a nossa matriz energética passou recentemente por uma crise hídrica, e o papel da fonte nuclear é de base de sustentação do sistema. Hoje, quando falamos de uma economia de baixo carbono, não podemos descartar a energia nuclear, que é de baixa emissão e estável. Temos experiência técnica comprovada nesse quesito. A capacidade total instalada de fornecimento de energia que nós temos produzido com as usinas de Angra 1 e 2 é de quase 2.000 megawatts, e com a finalização da obra de Angra 3, essa capacidade atingirá a marca de 3.500 megawatts. Agora, as discussões já estão no pós-Angra 3. Muito se fala sobre uma quarta usina nuclear e o desenvolvimento dos pequenos reatores modulares, os SMRs. A grande vantagem dessa tecnologia, além do custo de produção e instalação, é que esse reator pode ser construído e homologado como uma linha de produção.
Quais as sugestões que daria aos governantes para que os negócios prosperem ainda mais?
Atuaremos junto ao novo governo para que, entre suas prioridades, esteja o incentivo ao desenvolvimento da tecnologia nuclear, com novos investimentos na área, além de um marco regulatório com abrangência sobre todos os materiais nucleares, que crie possibilidades à articulação público-privada para a construção e ampliação da cadeia produtiva e empreendimentos no setor. Não podemos abrir mão da vantagem competitiva do Brasil, pois tem minério de urânio abundante e competência técnica para produção do combustível, as parcerias internacionais poderão alavancar a nossa indústria e investimento/financiamento com parcerias público-privado.