Diagrama esquemático do ciclo da água na superfície lunar associado a esferas de vidro de impacto.
[Imagem: Huicun He/Sen Hu]
Água no vidro
Em 16 de dezembro de 2020, a missão chinesa Chang'e-5 trouxe as primeiras amostras de solo e rochas lunares desde as missões Apolo (EUA) e Luna (URSS), há cerca de 50 anos.
E uma nova análise divulgada agora mostrou que minúsculas esferas de vidro, geradas pelo impacto de meteoritos no solo lunar, contêm uma quantidade razoável de água.
As esferas de vidro de impacto apresentam composições químicas homogêneas e superfícies expostas lisas.
As análises mostraram uma abundância de água até cerca de 2 microgramas de água por grama de material (μg. g-1), com extrema depleção de deutério.
Essa correlação negativa entre a abundância de água e a composição dos isótopos de hidrogênio leva os cientistas a concluírem que a água nas esferas de vidro de impacto trazidas pela Chang'e-5 é produto dos ventos solares.
"Essas descobertas indicam que os vidros de impacto na superfície da Lua e de outros corpos sem ar no Sistema Solar são capazes de armazenar água derivada do vento solar e liberá-la no espaço," disse o professor Sen Hu, do Instituto de Geologia e Geofísica da China.
Gotas de vidro trazidas da Lua apresentam quantidades inesperadas de água.
[Imagem: Huicun He et al. - 10.1038/s41561-023-01159-6]
Ciclo da água lunar
A Lua apresenta ciclos diários de perda de água para o espaço, indicando que deve haver uma camada ou reservatório hidratado nas profundezas dos solos lunares para sustentar a retenção, liberação e reposição de água na superfície da Lua.
No entanto, estudos anteriores de inventário de água de grãos minerais finos nos solos lunares, aglutinados produzidos por impacto, rochas vulcânicas e nas contas de vidro piroclásticas, não conseguiram explicar esse ciclo da água da superfície lunar.
Logo, deve haver um reservatório de água ainda não identificado nos solos lunares que tenha a capacidade de reter água suficiente para realimentar constantemente esse ciclo.
O professor Hu e sua aluna Huicun He, responsável pelas análises, acredita que as esferas de vidro produzidas pelos impactos podem ser parte dessa resposta.
De acordo com seus cálculos, se as ocorrências das esferas de vidro em toda a superfície da Lua for a mesma daquela do local onde a missão Chang'e-5 coletou suas amostras, então a quantidade de água na Lua armazenada nas contas de vidro de impacto pode variar de 3 × 1011 kg a 2,7 × 1014 kg.