Principal matéria-prima de uma obra é a informação
O princípio básico de uma obra é a informação. Sem dados sobre como construir, nenhum projeto se torna viável. Esses são conceitos que nortearam a palestra do engenheiro civil Tiago Francisco Campestrini no Congresso de Inovação Tecnológica (Cintec 2015), realizado recentemente em Joinville-SC. O especialista afirmou que atualmente não há melhor ferramenta para fazer a gestão de toda a informação de um empreendimento do que o BIM (Building Information Modeling), apesar de existirem outros modelos para gestão de obras. Segundo ele, operar bem essas tecnologias, e explorar toda a potencialidade, é implantar um processo de melhoria contínua desde o projeto até a execução da obra. “O BIM permite entender a matéria-prima da obra, que é a informação, e fazer a gestão de todos os dados relacionados a uma construção”, diz.
O engenheiro explicou ainda que o bom uso do BIM, assim como de outras ferramentas de gestão de obras, se reflete em futuros projetos que a construtora vá empreender. “Ele permite fazer um diário da obra, coletando informações de cada área envolvida, e os respectivos problemas ocorridos diariamente. Esses dados ficam armazenados e quando se monta um novo projeto ele alerta para problemas que possam surgir em determinada etapa, seja concretagem, alvenaria ou revestimento. O objetivo é que o erro não seja repetido. Então, ele gera um processo automático de melhoria contínua. Por isso, costumo dizer que o BIM é a tecnologia das tecnologias”, elogia Tiago Francisco Campestrini.
O palestrante alertou ainda que o BIM e seus similares começam a estabelecer uma fronteira entre as construtoras, e que, futuramente, irá segregar as que não trabalham com softwares de gestão de obras. “BIM já não é mais um sistema, mas um conceito em que estão ligadas produtividade, tecnologia e qualidade da obra”, define. “Por isso, quando uma empresa usa a ferramenta pela primeira vez, vê os ganhos, e que vale a pena o investimento, ela não para mais de fazer o projeto e a gestão da obra pelo BIM. Além disso, usá-lo é uma questão de sobrevivência no mercado. Daqui a três anos, será impossível para qualquer empresa que não tenha BIM ganhar licitação governamental, por exemplo”, estima.
Obviamente, o BIM – software mais usado no mundo para gestão de obras – não é uma ferramenta que, por si só, irá resolver todos os problemas que surgirem no canteiro. Como instrumento de gestão, ele precisa que as pessoas envolvidas no empreendimento estejam compromissadas e entendam todos os processos. “A formação das equipes é primordial, pois a tecnologia impõe uma mudança cultural. A equipe de projetos precisa atuar junto com a de execução. Também é necessário seguir rigorosamente o cronograma. Não adianta nada o projetista atuar com BIM, mas atrasar a entrega do projeto”, orienta. Essa unidade, lembra Tiago Francisco Campestrini, é importante por que a ferramenta funciona também como um simulador de situações. “Na construção civil é normal surgirem problemas e o BIM ajuda a solucioná-los”, garante.
Por agregar todas as informações, a ferramenta permite também que haja o controle da mão de obra e dos equipamentos que serão usados no canteiro, além de possibilitar construir com redução de custo e de desperdícios. “No BIM são definidas as metas: preciso reduzir custos, preciso minimizar perdas no revestimento, preciso controlar a alvenaria estrutural. Reunidas essas informações, a ferramenta simula e aponta soluções. Foi assim que a China construiu um prédio em 15 dias. Lá a obra só começa quando o planejamento chega a 100%. Aqui no Brasil, a construção civil se dá por satisfeita se o planejamento atingir 70% do que foi definido na fase de projeto. Mas esse processo de melhoria contínua pode evoluir sempre com o BIM (e outros modelos de gestão de obras)”, conclui Tiago Francisco Campestrini.
Entrevistado
Engenheiro civil Tiago Francisco Campestrini, coordenador de projetos BIM da Campestrini Gestão de Projetos e autor do livro Entendendo BIM