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Causas da tragédia de Mariana (MG) ainda não têm explicação conclusiva

Nildo Carlos Oliveira - 11 de março de 2016 1171 Visualizações
 Causas da tragédia de Mariana (MG) ainda não têm explicação conclusiva
A situação está assim: passados cinco meses (a ocorrência se deu no dia 5 de novembro de 2015), a tragédia de Mariana ainda não tem uma explicação plausível para as causas da ruptura na barragem de Fundão e de seu impacto na barragem de Santarém, no distrito mineiro de Bento Rodrigues. A engenharia precisa dar respostas convincentes à sociedade e aos familiares das vítimas, independentemente das investigações em curso para a elaboração do laudo técnico definitivo. 
Só para refrescar algumas memórias que insistem em tentar esquecer o episódio, aguçado ainda mais por conta do cenário político brasileiro moralmente degradado: com o surpreendente desmoronamento da barragem, perto de 130 residências foram atingidas e ficaram sob uma grossa camada de lama e dejetos.  Até ontem, 9 de março, os óbitos comprovados chegaram a 19. O desastre destruiu hábitats naturais de pássaros e animais e arruinou mais de 600 quilômetros ao longo do rio Doce e de seus afluentes. Os detritos convergiram para o rio Gualaxo e chegaram ao município de Barra Longa, a 60 km de Mariana e a 215 km de Belo Horizonte. A lama tomou conta de uma área de cerca de 10 mil km² e invadiu ampla faixa do litoral capixaba.  
Em crônica recente, sob o título Uma tragédia sem fim, salientei: “Esse desastre não vai parar com a contagem do último óbito. Tanto é, que enquanto o número de vítimas era contabilizado, a tragédia ambiental se propagava em cada  ninho destruído, em cada curso d´água contaminado e em cada peixe asfixiado e em cada residência arruinada sob a lama. E, não há apenas as perdas humanas.  A lama sepultou o futuro de crianças e de pais de famílias, além de enterrar lembranças dos primeiros povoadores da região.” Tradições da cultura popular local foram sacrificadas.  
Os responsáveis por tal ocorrência aparentemente não se deram conta de que ela jamais deveria e poderia ter acontecido. E, não haverá medidas materiais compensatórias capazes de reparar a extensão dos danos.  
 
Painéis técnicos 
Para voltar a debater as causas do desastre com as barragens da Samarco e de suas proprietárias, a Vale e a BHP, o Instituto de Engenharia de São Paulo acolheu, dia 9 último,  os responsáveis pela segunda edição de evento técnico anteriormente realizado no Clube de Engenharia, Rio de Janeiro. Ele consistiu na realização de quatro painéis e de uma palestra a cargo do engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila, autor do projeto da barragem de Fundão, concebida para uma altura de até 920 m acima do nível do mar. 

O que ficou claro, ao final do evento, é que a sociedade continua a reivindicar respostas objetivas que expliquem a origem da tragédia, a fim de que ocorrência desse tipo jamais se repita.
O Brasil tem uma engenharia consolidada no planejamento, projeto e construção de barragens, sejam elas para aproveitamento hidrelétrico, abastecimento ou de rejeitos. Para essa última finalidade, já foram construídas, no País, possivelmente mais de 650 barragens. Portanto, a engenharia, nesse campo, tem ampla experiência de obras realizadas. 
Considerando, porém, que toda barragem sugere uma condição de risco, é natural pensar que a tragédia poderia ter sido evitada. A potencialidade dos riscos deveria ter sido dimensionada desde os seus primórdios. Em caso de obras desse tipo – e mesmo de qualquer outra obra -  o fator segurança deve sobrepor-se à preocupação com o fator custo, seja ele qual for.  É não se pode deixar que fato dessa natureza acabe  caindo no esquecimento, conforme tem acontecido com outras tragédias brasileiras. 

Notas
 
Literatura
 
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Lançado no Rio de Janeiro, com notável sucesso, o livro “O mestre da arte de resolver estruturas – a história do engenheiro Bruno Contarini”, de autoria de Nildo Carlos Oliveira.  A obra, que teve o patrocínio da Arcelor Mittal e apoio de outras empresas (SH, Vedacit, Carioca Engenharia, Casagrande, Atex Brasil e TQS), mostra alguns dos principais projetos em que Contarini trabalhou: a construção da ponte Rio-Niterói, do Museu de Arte Contemporânea de Niterói e obras na Argélia e Itália.
- Sinicesp. Sílvio Ciampaglia, presidente do Sindicato da Construção Pesada no Estado de São Paulo, critica a prorrogação do cronograma de pagamento de obras pelo governo paulista. Os pagamentos atrasados já somam R$ 100 milhões, segundo o sindicato. 
- Uma saída. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) continua empenhada em discutir o potencial dos projetos de concessão e parcerias público-privadas na construção. Em encontro com esse fim representantes da entidades estiveram com empresários da região Norte, em Belém-PA. Concessão e parcerias segundo a modalidade PPPs constituem uma saída, possivelmente a mais favorável. 
 
Frase da semana
“O melhor programa econômico de governo é não atrapalhar aqueles que produzem, poupam, investem, empregam, trabalham e consomem”. De Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.