O impacto do prejuízo da Petrobras
Não é pouco e sequer está dimensionado em toda a sua amplitude. Mas a Petrobras, conforme seu balanço, fechou 2015 registrando prejuízo de R$ 34,836 bilhões. Analistas do mercado internacional na área de petróleo e gás afirmam, de pés juntos, que esta é a maior perda da estatal, desde que ela foi fundada por Getúlio Vargas, no dia 3 de outubro de 1953, quando ele sancionou a lei 2004, ao final de uma série de lutas ideológicas e embates de rua e no Parlamento.
Daquela data em diante o Brasil efetivamente mudou. Quem alardeava que não tínhamos petróleo tratou de sorrir amarelo e escafeder-se, porque não teria mais como mostrar a cara aos patrícios.
As refinarias prosperaram; as plataformas avançaram mar adentro; a empresa passou a dominar a tecnologia da exploração em águas profundas. E a engenharia, em suas diversas modalidades, em particular a engenharia industrial, desenvolveu-se, fincando raízes a partir de cada obra para a construção de plataforma e contribuindo para que a indústria de máquinas e equipamentos, incluindo a indústria naval, adquirisse impulso. Foi uma conquista da capacitação nacional nesse campo. Chegamos até à autossuficiência em petróleo em 2006. Mas, depois disso, intensificou-se o processo de dilapidação da empresa.
Com o saque continuado e decisões equivocadas adotadas em cima do joelho (a compra da refinaria de Pasadena, EUA, é descalabro exemplar), o desenvolvimento da Petrobras inverteu-se e hoje, para sobreviver, pratica o humilhante exercício do desinvestimento. Contribuem, para essa debacle, a redução imensa do preço do petróleo no mercado externo e, aqui dentro, o chamado risco Brasil. Seja qual for o nome que se queira dar ao desastre, ela negocia seus ativos e tenta respirar, mesmo que por aparelho.
O impacto é absurdo na população de desempregados em Itaboraí, Macaé e em todas as regiões onde atua. A engenharia, sobretudo a industrial, foi colocada de pires na mão. Os responsáveis por esse desastre não seriam apenas aqueles que estão condenados ou prestando informações na Operação Lava-Jato. Tem muito mais gente comprometida. A Petrobras não merecia estar passando por esse inferno astral.
Dia Mundial da Água
Hoje, 22 de março, celebra-se o Dia Mundial da Água. E, admitamos, pouca coisa tem sido feita para que ele mereça celebração digna desse nome. Inútil nos alongarmos na exposição dos casos que colocam às escâncaras a falência de políticas públicas para coletá-la, tratá-la e economizá-la, a fim de que, um dia, não constatemos que a extensão das reservas nos mananciais integra a expansão das áreas desertificadas. Lastimavelmente caminhamos para isso, a passos largos.
Quanto ao abastecimento, as obras hoje em curso são absolutamente insatisfatórias e não acompanham planejamento de longo prazo. As obras acaso em andamento são para cobrir as insuficiências de ontem. Sempre estamos atrasados, sobretudo no tratamento. A esse respeito é importante assinalar registro do Instituto Trata Brasil:
A cada 100 litros de água coletados e tratados, em média, no país, apenas 67 litros são consumidos. Ou seja: 37% da água no Brasil é perdida, seja com vazamentos, roubos e ligações clandestinas, falta de medição ou medições incorretas no consumo de água, resultando no prejuízo de R$ 8 bilhões.
Coisas do Brasil
- A Advocacia Geral da União (AGU) diz que o juiz Sérgio Moro, que vem cuidando de apurar corrupção pelo país afora, “está colocando em risco a soberania nacional”.
- O ministro Eugênio Aragão, da Justiça, garante que identifica vazamento de investigação pelo olfato.
- E a advogada e ex-procuradora de Justiça Luiza Nagib Eluf, em artigo lapidar, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, edição de hoje (22), faz uma analogia entre Getúlio Vargas, que preferiu matar-se para não receber a pecha de corrupto, e corruptos atuais, que preferem “acabar com a vida dos outros”.
Nildo Carlos Oliveira