Inovação e sustentabilidade: como as garrafas PET estão servindo de insumo para a construção civil
O PET – ou poli-tereftalato de etileno – é considerado um dos maiores vilões do mundo contemporâneo, gerador de poluição para o meio ambiente. Infelizmente, seu uso em garrafas plásticas tem aumentado nos últimos anos, mas estudos recentes apontam novas alternativas para a destinação correta desse material. Já se sabe que é possível reutilizar esses resíduos sólidos em outras aplicações. Isso, no mínimo, ajudaria a aumentar a vida útil dos aterros sanitários e também poderia representar um grande avanço na indústria da construção civil.
(imagem extraída de Pixabay)
Visando suprir as necessidades da construção civil, em conjunto com o desenvolvimento sustentável, cientistas do mundo todo vêm buscando alternativas inovadoras e ecologicamente corretas para o reuso do PET. De repente, empresas de arquitetura e de engenharia civil têm dado mais atenção ao material.
Sabe-se que esse plástico possui alta resistência mecânica, química, à compressão, ao fogo, aos fenômenos naturais e capacidade isolante maior que a dos tijolos e blocos convencionais.
Por todas essas qualidades, o PET vem sendo utilizado como um insumo alternativo em edificações residenciais de baixo custo, uma possível solução para o déficit habitacional mundial. Podem se ver, no mercado, três tipos de aplicações das garrafas na construção civil ecológica. Primeiro, como substitutas da brita, na fabricação de cimento. Segundo, como substitutas da areia, na produção de tijolos e blocos. E terceiro, como peças preenchidas com areia ou entulho de obra, intercaladas de argamassa ou barro e moldadas em fôrmas de madeira, para a formação de paredes.
Logo abaixo, temos um excelente exemplo de construção contemporânea. É o prédio Ecoark, projetado pelo arquiteto Arthur Huang e construído em Taiwan, em 2010. Utilizado como pavilhão cultural, tem um milhão e meio de tijolos plásticos, feitos à partir de garrafas PET.
(imagem extraída de Ello Sustentável)
O economista Mário Augusto Batista Rocha desenvolveu um projeto chamado de ‘Composto de Resíduo Plástico’ ou ‘CREP’. Trata-se de um material obtido a partir de um processo onde o plástico de PET triturado – junto de seixo de areia, vidro e outros materiais – é submetido a um aquecimento e misturado em uma máquina, a ‘Creponeira’. O resultado é uma massa muito semelhante ao asfalto.
Uma peça comum, em barro, levaria dois dias queimando, à noventa graus, para estar finalizada. Mas, a ideia de Mário é considerada ecológica. Seu protótipo apresenta muitas vantagens. Depois de passar pela ‘Creponeira’, o novo composto é simplesmente colocado em moldes, para a produção de artefatos de formas e usos diferentes, como blocos para pisos de calçadas, meio-fio, estacas e outros. Cada tijolo ecológico deve usar em torno de vinte garrafas PET.
(imagem extraída de Gazeta do Povo) (imagem extraída de A Crítica)
Uma estudante do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Estadual de Mato Grasso do Sul desenvolveu a pesquisa intitulada “Caracterização física e mecânica de blocos vazados de concreto simples confeccionados com a adição parcial de resíduos plásticos pós-consumo: Classificação”. Nela, avaliou-se o trabalho da indústria de embalagens, a geração de lixo plástico e de resíduos de obras no Brasil. A proposta final do texto é a substituição de quinze por cento de areia por garrafas PET moídas na produção de blocos de concreto.
Outro trabalho de pesquisa muito significativo nessa área é a do CONICET – Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica. Em seu projeto, também se analisou a substituição da areia dos blocos de concreto por poli-tereftalato de etileno. A equipe constatou que as peças, com adição de PET, ficavam padronizadas, com poros melhor preenchidos, menos permeáveis e mais resistentes a impactos. O tijolo comum teve resultado de 1,10 Mpa – Resistência à Flexão Média. Já os tijolos ecológicos apresentaram 1,94 Mpa. Ou seja, mais leves e resistentes.
Para uma casa popular de cinquenta metros quadrados, seriam necessárias quase oito mil e quinhentas unidades de garrafa PET.
(imagens extraídas de Eco Debate e Jornal Mãos à Obra)
A ideia da “garrafa-tijolo” surgiu na Índia, mas foi a Associação de Desenvolvimento de Energias Renováveis, em parceria com a Africa Community Trust, que construiu a primeira casa feita com PET e areia, em Yelwa, na Nigéria. Ela segue o modelo das construções convencionais do país, com formato arredondado. A fundação é de concreto e as paredes têm garrafas preenchidas com areia – colocadas lado a lado, unidas com lama e com fundos expostos. O efeito visual é surpreendente.
(imagens extraídas de Líguagem Geográfica)
Esse método de construção é uma boa alternativa para regiões quentes, desprovidas de certas tecnologias, de materiais e recursos financeiros. No Brasil, já se pode ver várias casas construídas com garrafas plásticas. Um projeto do Estado do Rio Grande do Norte, idealizado por Antônio Duarte Gomes, construiu quarenta residências como essas. Suas paredes são preparadas em fôrmas, com pontos de saída de água e luz já pré-estabelecidos e não recebem, necessariamente, reboco ou outro tipo de revestimento.
Em tese, garrafas PET podem ser preenchidas com quaisquer sólidos. Mas, normalmente, usa-se terra, areia, palha de arroz, de trigo ou outros resíduos de compostagem. A mistura pode ter a proporção de um de cimento, seis de areia ou argila e meia de cal – ou uma, se for para a construção de paredes e colunas mais simples.
(imagem extraída de Meio Ambiente Taru Mirim)
(imagens extraídas de Jornal Mãos à Obra) e Política Local)