Oportunidades para engenharia brasileira na Tunisia
O ministro das Relações Exteriores da Tunísia, Khemaies Jhinaoui, afirmou que seu país quer atrair investidores e empresas brasileiras para empreendimentos locais. “A Tunísia é hoje um grande canteiro de projetos”, disse ele em entrevista exclusiva à ANBA nesta terça-feira (25), durante visita à Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo. O chanceler está no Brasil com uma delegação de empresários e de representantes de diferentes órgãos do governo tunisiano com o objetivo de promover o comércio, os investimentos e a cooperação bilateral.
Sérgio Tomisaki/ANBA
Ministro quer que brasileiros conheçam oportunidades na Tunísia
Ele destacou que há muitos projetos de infraestrutura na Tunísia, como rodovias, portos e ferrovias, e um novo Código de Investimentos que garante maior liberdade e atratividade aos investidores estrangeiros. “Queremos que nossos amigos brasileiros conheçam estes projetos e participem de sua realização”, declarou.
O ministro disse ainda que a economia tunisiana está em recuperação. Segundo ele, em março foi registrado aumento de 9% nos investimentos estrangeiros e este ano o país espera receber cerca de sete milhões de turistas, um crescimento de 30% sobre 2016. Ele ressaltou ainda a retomada da indústria do fosfato e afirma que espera que este setor recupere sua fatia no mercado brasileiro de fertilizantes. “Evidentemente que a retomada [econômica] é lenta, mas a tendência é positiva”, afirmou.
O ministro cumpre agenda nesta quarta-feira (26) na capital paulista, que inclui um fórum econômico na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e na quinta e sexta-feira estará em Brasília. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
ANBA – Quais são suas prioridades nesta visita ao Brasil?
Khemaies Jhinaoui – É a minha primeira visita como ministro das Relações Exteriores à América Latina. Eu comecei pelo Brasil porque é um país amigo, que tem relações históricas com a Tunísia, mesmo antes da independência. O movimento nacional tunisiano tinha contato com diversos líderes brasileiros quando a Tunísia lutava por sua independência e o Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a independência da Tunísia. Nós sempre tivemos uma relação cordial e amigável, pois não há nenhum problema político ou econômico entre os dois países. Evidentemente, a distância geográfica impediu a criação de um intercâmbio sustentado nas áreas de comércio e investimentos, mas a nova Tunísia, a Tunísia democrática, decidiu retomar o contato com este país amigo e explorar as possibilidades de cooperação em todos os setores.
Começamos pelo comércio, afinal estamos na Câmara de Comércio Árabe Brasileira. A balança comercial é amplamente favorável ao Brasil, mas a Tunísia – que exporta, entre outros produtos, fosfato e fertilizantes fosfatados – espera retomar sua participação no mercado brasileiro. Nós exportamos também produtos da agroindústria, como azeite de oliva e tâmaras, e queremos aumentar a participação da Tunísia num mercado que é importante e imenso.
Além do comércio, nós queremos ter com o Brasil uma ligação de cooperação, sobretudo na área agrícola – a agricultura brasileira é conhecida mundialmente –, queremos aproveitar a experiência brasileira no desenvolvimento da agricultura de pequeno porte, onde vocês têm grande experiência, pois na Tunísia as propriedades agrícolas são pequenas.
Nós queremos também desenvolver a cooperação no setor de saúde. Como você sabe, este é um setor bastante desenvolvido na Tunísia e também no Brasil. Em matéria de pesquisa científica, o Brasil é muito avançado, então vamos colocar em contato equipes brasileiras e tunisianas para ver o que elas podem fazer conjuntamente na área de pesquisa científica, principalmente em pesquisa médica.
O senhor vai assinar acordos nestas áreas?
Sim, nós temos uma série de acordos para assinar com meu colega, o ministro das Relações Exteriores [Aloysio Nunes]. Creio que não em matéria de saúde, isso está sendo discutido, mas em outros setores como o comercial, econômico, de pesquisa científica e educação. Nós queremos que esta visita – a primeira de um ministro tunisiano dos Negócios Estrangeiros depois de 11 anos – seja um marco nas relações bilaterais.
O senhor está acompanhado de uma delegação de empresários. Ela é representativa da economia tunisiana, dos produtos que a Tunísia quer exportar?
Eu estou acompanhado de uma delegação importante de empresários e de representantes de vários ministérios. Nós organizaremos amanhã (quarta-feira, 26) aqui em São Paulo um fórum econômico que colocará em contato os empresários tunisianos com seus homólogos brasileiros. Nós apresentaremos aos amigos brasileiros as oportunidades de comércio, investimentos e parcerias na Tunísia. A Tunísia é hoje um grande canteiro de projetos. Há muitos projetos de infraestrutura, como rodovias, portos e ferrovias, e queremos que nossos amigos brasileiros conheçam estes projetos e participem de sua realização.
Não há nenhuma razão para que os empresários e as empresas brasileiras não tirem proveito das vantagens e das oportunidades que a Tunísia oferece. Nós aprovamos um novo Código de Investimentos, muito vantajoso para os investidores estrangeiros, dando praticamente liberdade de investimento, permitindo repatriar todos os benefícios e dividendos dos projetos livremente, e nós desejamos que nossos amigos brasileiros participem deste esforço de desenvolvimento que ocorre na Tunísia hoje.
Nosso objetivo é propor ao governo e ao setor privado do Brasil que vejam como utilizar a Tunísia como uma plataforma para desenvolver não só o comércio e as parcerias com o próprio país, mas com toda a região da África do Norte e da África Subsaariana. Nós estamos numa posição estratégica importante, estamos no coração do Mediterrâneo, no cruzamento da África com o mundo árabe e com a Europa, e a Tunísia pode ser utilizada como uma plataforma pelas empresas brasileira que buscam desenvolver seus negócios no mundo árabe, na África subsaariana e na Europa.
Para chegar a outros mercados?
Isso, para acessar outros mercados. E nós queremos também conhecer melhor o cenário brasileiro para igualmente utilizar o País como uma plataforma para trabalhar juntos na região da América Latina.
O governo brasileiro negocia com a Tunísia um acordo de facilitação de investimentos.
Sim, nós estamos no meio de uma negociação sobre este acordo e queremos avançar nesta negociação. Este é um acordo novo, não é um acordo clássico, então nós temos que entendê-lo melhor e ver se ele é adaptável à legislação tunisiana, mas o processo avança e nós desejamos avançar mais para concluí-lo o mais breve possível.
Há também a negociação de um acordo de livre comércio com o Mercosul. Como está o andamento?
Estamos em contato, nosso objetivo é ter uma parceria com este bloco para desenvolver o intercâmbio comercial, mas a Tunísia é membro igualmente de diversas organizações comerciais regionais, então precisamos ver como adaptar um acordo com outros. A Tunísia faz parte da Zona de Livre Comércio Árabe, do Acordo de Agadir – que é um acordo de associação entre a Tunísia, Marrocos, Jordânia e Egito, e acabamos de assinar com a Palestina e com o Líbano – e também temos uma zona de livre comércio com a União Europeia, então é bastante complexo, mas há negociações entre especialistas da Tunísia e do Mercosul para avançar nesta questão.
E como está a economia tunisiana? Há necessidade de crescimento, de geração de empregos…
Chanceler: retomada é lenta, mas tendência é positiva
A economia Tunisiana cresceu em média 5% ao ano por quase 20 anos, mas infelizmente enfrenta dificuldades desde 2011, provocadas pela revolução (Primavera Árabe, ou Revolução de Jasmim na Tunísia), então o ritmo de trabalho e da produtividade diminuiu em função da situação política, e infelizmente atos terroristas que atingiram o país afetaram o turismo, mas posso afirmar que hoje, em abril de 2017, todos os índices econômicos são positivos.
Primeiramente, há uma retomada do turismo. As informações que nós temos dos operadores de turismo sobre as reservas para a próxima temporada de verão, que começa no mês de junho, são extremamente positivas, esperamos retomar o nível, nos aproximar de sete milhões de turistas por ano este ano. Há também uma retomada dos investimentos depois da aprovação do novo Código de Investimentos. As últimas estatísticas mostram que há um crescimento de 9% dos investimentos estrangeiros na Tunísia. Isso no mês de março. Os setores importantes que passaram por dificuldades, como o de fosfato, também passam por uma retomada e esperamos que de agora até o final do ano nós tenhamos o mesmo nível de produção de 2010, o que nos permitirá realizar exportações para o mercado brasileiro. Nós esperamos também uma safra agrícola muito boa este ano. Evidentemente que a retomada é lenta, mas a tendência é positiva.
Há perspectiva de maior promoção do turismo tunisiano no Brasil? Hoje (terça-feira), por exemplo, saiu na imprensa que os gastos de brasileiros no exterior subiram 50% no primeiro trimestre.
Em nossa delegação temos o presidente da federação das instituições turísticas, como hotéis e outras, e também um representante do departamento de promoção do turismo tunisiano. Evidentemente que há uma grande distância entre os dois países, mas eu sei que os brasileiros visitam a Europa, vistam a Itália, Portugal, a França, e viajam com operadores de turismo em pacotes, então eu penso que os profissionais de turismo terão oportunidade de discutir com seus colegas aqui a possibilidade de incluir a Tunísia nestes pacotes pelo Mediterrâneo. A Tunísia tem uma história de três mil anos e por lá passaram muitas civilizações desde Cartago, e temos um patrimônio arqueológico que ilustra essa riqueza. Não seria mal que nossos amigos brasileiros quisessem conhecer a pátria de Hannibal (famoso general cartaginês).
Eu penso que a Tunísia deve fazer um esforço neste mercado, pois estou certo que se os brasileiros conhecerem melhor a Tunísia e os produtos tunisianos – as praias, a história, a arqueologia, a culinária, o vinho – haverá um fluxo importante de turistas. Não há razão para os brasileiros que visitam a Itália ou a França ou mesmo o Marrocos não irem à Tunísia.