Obra de acelerador de elétrons é desafio à engenharia
Obras do Sirius estão na reta final e envolvem uma série de inovações
Está em construção em Campinas-SP, a maior e mais complexa infraestrutura científica já projetada no país: o Sirius – novo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). O empreendimento vai permitir ao Brasil estar na vanguarda da produção de luz síncrotron. Esse tipo de fonte de luz é uma ferramenta-chave para a resolução de questões importantes para as comunidades acadêmicas e industriais brasileiras. Ela permite aprofundar pesquisas em áreas estratégicas como energia, alimentação, construção civil, meio ambiente, saúde e defesa.
Pela complexidade dos equipamentos, a edificação que vai sustentá-los precisa ter superlajes de concreto armado moldadas in loco. A resistência do material também é diferenciada. O motivo é que fundações, pisos e paredes não podem sofrer recalques ou outras deformações causadas pela propagação de vibrações. Segundo Júlio Rodrigues, gerente de obra da Racional Engenharia – construtora responsável pela execução -, o projeto do Sirius é singular. Na entrevista a seguir, ele explica detalhes da complexidade e quais os desafios para viabilizar a edificação. Confira:
Com relação à construção do Sirius, quais os desafios?
O projeto do Sirius é singular e o mais complexo em termos de infraestrutura científica já construída no Brasil. O principal desafio é assegurar a estabilidade do piso do hall experimental, evitando recalques, deformações e principalmente mitigar o efeito de vibrações. Trata-se de uma construção moderna, onde é necessário assegurar todas as exigências relacionadas às estabilidades mecânicas e térmicas, garantindo altos níveis de precisão. Para garantir a alta performance, são criados protótipos para análise de comportamentos técnicos de cada sistema construtivo. Tudo é previamente testado e ensaiado.
Em termos de estrutura da obra, qual a resistência do concreto empregado?
O concreto especificado em projeto para a estrutura tem resistência de 30 MPa, mas em alguns casos, como no túnel de blindagem e piso do hall experimental, essa resistência atinge níveis superiores.
Projeção de como ficará o Sirius quando concluído: testes laboratoriais começam em 2018
Qual o volume de concreto que a obra deve consumir?
A obra vai consumir aproximadamente 35 mil m³ de concreto.
Algum tipo especial de concreto foi empregado na obra, já que ela precisa ter superlajes e grande rigidez?
Em função dos parâmetros exigidos e específicos para o concreto do túnel de blindagem e hall experimental, foi desenvolvido um concreto especial de alta performance, buscando atingir uma retração menor ou igual a 0,02%, com baixo fator água-cimento, de 0,40, e utilização de fibras sintéticas. Com o objetivo de minimizar riscos relativos à logística, e garantir o controle de qualidade, optamos por implantar uma central de concreto no canteiro de obras.
A cargo de quem ficou o projeto estrutural do Sirius?
O projeto estrutural foi elaborado pela empresa Engeti Consultoria e Engenharia, contratado diretamente pelo CNPEM.
Por se tratar de uma obra inédita no Brasil houve ou há alguma consultoria de fora do país ajudando nos detalhes da obra?
Sim, há um compartilhamento de informações através de conhecimentos já adquiridos na construção de outros laboratórios internacionais. Através do Comitê Internacional de Aconselhamento Científico, parte da equipe técnica teve a oportunidade de conhecer, por meio de visitas, os principais laboratórios internacionais de luz síncrotron da Europa. Além disso, há visitas de representantes de outros laboratórios ao Brasil, compartilhando conhecimento. Buscamos através de lições aprendidas mitigar possíveis falhas que possam prejudicar a performance do projeto.
Em termos de emprego de tecnologia construtiva, a obra do Sirius se equipara a alguma outra já feita no Brasil?
O projeto Sirius é único no Brasil. Trata-se de um acelerador de partículas de quarta geração, sendo o segundo dessa geração a ser executado no mundo. A edificação é parte do equipamento e está sendo construída com excelência, com padrões de exigências e precisão nunca vistos na história da engenharia brasileira.
As pesquisas desenvolvidas no Sirius poderão beneficiar também a cadeia produtiva da construção civil? Caso sim, de que forma?
Sim, haverá impacto também no estudo para desenvolvimento de materiais para construção civil. Entre eles, cimentos, fibras, solos e diversos outros materiais poderão ser aprimorados com as técnicas de luz síncrotron.
Qual a previsão para que o Sirius seja inaugurado?
O Sirius terá seu prédio e aceleradores inaugurados em 2018, quando será emitido o primeiro feixe de luz síncrotron. No entanto, após esta primeira inauguração passará por vários meses de comissionamento, ou seja, de ajustes finos. Ele será aberto para uso dos pesquisadores cerca de um ano depois, em meados de 2019.
Qual o custo da obra e quem está financiando?
O custo total do projeto Sirius está estimado em 1,8 bilhão. Deste total, quase 40% refere-se às suas obras civis (R$ 668 milhões). O projeto é majoritariamente financiado pelo governo federal, através do ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), e faz parte do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Recursos importantes também foram fornecidos pelo governo do Estado de São Paulo. Por exemplo, o terreno de 150 mil m², onde será instalado o Sirius, foi adquirido pelo governo estadual e cedido ao CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais). Além disso, a FAPESP tem sido importante parceira nos programas de interação com empresas, no apoio a eventos e na aquisição de instrumental científico que será instalado nas estações experimentais (linhas de luz) do Sirius.
Entrevistados
– Engenheiro civil Júlio Rodrigues, gerente de obra da Racional Engenharia
– Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) (via assessoria de imprensa)
Contato
lnlscomunica@cnpem.br
Crédito Fotos: Divulgação/CNPEM
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330