“Mobilidade urbana passa por mudança cultural e continuidade administrativa”
As cidades precisam ter foco na mobilidade humana, que envolva o meio ambiente, a desigualdade social e as soluções para a falta de acessibilidade. A avaliação foi feita pelo presidente da Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), José Roberto Bernasconi, no painel Mobilidade Humana: Desafio da Infraestrutura Urbana, durante a Semana das Tecnologias Integradas para Construção, Meio Ambiente e Equipamentos, que começou nessa quarta-feira (7) e vai até sexta-feira (9) em São Paulo.
O presidente da Sobratema – Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração, Afonso Mamede, que também participou do painel, concorda com a análise de Berlusconi, mas salienta que colocar em prática as ações voltadas para mobilidade urbana depende da participação da sociedade. “Quando a sociedade se mobilizar e cobrar soluções da gestão fica mais fácil a concretização das ações, evitando-se a descontinuidade das obras no caso de mudança de gestão”, afirmou Mamede.
Para Bernasconi, é preciso transformar as cidades com políticas públicas que mostrem haver um cuidado com o ser humano e não apenas voltadas para acessibilidade. “Também é importante se preocupar em oferecer acesso a todos, em especial para as pessoas que têm alguma deficiência. Mas não é só isso, pois precisamos ficar atentos com o meio ambiente, garantindo, por exemplo, a permeabilidade de nossas vias, e superar a imensa desigualdade social”, lembra. “Não existe outra maneira de melhorarmos nossas cidades que não seja respeitando o ser humano”.
No entender do diretor de Cidades do WRI Brasil Luis Antonio Lindau, um dos caminhos é o conceito das vias completas, que envolve a reestruturação das ruas e calçadas com um redimensionamento das prioridades. “Hoje temos as vias praticamente dedicadas aos automóveis, com pedestres, ciclistas e até mesmo o transporte coletivo, relegados ao segundo plano”, explicou Lindau. “Precisamos mudar essa situação, com vias que garantam mais espaço para os pedestres, criação de ciclovias e uma área exclusiva para o transporte coletivo, reduzindo o espaço para os automóveis”.
Para a permeabilidade, Lindau propõe a instalação de jardins de chuvas, além de pavimentos que permitam absorver água. “Mas também é preciso ter melhoria na iluminação pública, que privilegie as pessoas e não os carros; travessias mais seguras das vias e mobiliário urbano adequado”, complementou.
O presidente da Sobratema lembrou ainda que a busca por novos materiais e equipamentos mais adequados para o uso urbano também colabora para melhorar a mobilidade humana. “Hoje temos novos métodos construtivos, com equipamentos menores, novos materiais, como o cabo de fio de carbono, mais leve e resistente, que substitui os cabos de aço em elevadores instalados em prédios altos, os pisos drenantes, que evitam impermeabilizar as vias evitando as enchentes, tão comuns em nossas cidades”, comentou.
Para o vice-presidente da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), Elvis Leonardo César, prefeito de Santana de Paranaíba, é preciso unir forças para buscar as mudanças propostas. Ele lembrou, durante o painel, que as “gestões públicas tem cada vez mais menos recursos enquanto os desafios aumentam”. “Precisamos de um plano de desenvolvimento urbano integrado que seja viável e estamos trabalhando para isso”, garantiu.