Instituto Moreira Salles abre suas portas em São Paulo
Archdaily
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20 de outubro de 2017
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A aspiração por parte dos representantes da instituição era construir um novo edifício dedicado a abrigar e expor o acervo artístico e fotográfico do IMS, que até então, encontrava-se na Sede do Rio de Janeiro e na capital paulista, numa tímida galeria no bairro de Higienópolis. O espaço receberá mostras, palestras e cursos.
Por meio de um concurso fechado realizado em 2011 por um conjunto de seis significantes escritórios brasileiros convidados (Andrade Morettin Arquitetos, Arquitetos Associados, Bernardes Arquitetura, UNA Arquitetos, SPBR e Studio MK27), a proposta inicial desenvolvida em cerca de dois meses pelo escritório paulistano Andrade Morettin Arquitetos sagrou-se vencedora.
Da questão central que norteou o projeto, um dos pontos relevantes nasce a partir da relação do edifício com a cidade, através de sua posição estratégica na Avenida Paulista, no lote com 20x50 metros. Dessa forma, os arquitetos pensaram-no como importante mecanismo ligado à cultura e papel museológico no privilegiado endereço, para que o mesmo assumisse a serenidade requerida dentro do ambiente dinâmico da Paulista.
Como impor um edifício que se relacione à vida da Avenida, conjuntamente ao espaço museológico, preservando a demanda à serenidade? De fato, a proposta do escritório foi condizente, dado que o novo prédio desde a fase projetual já estabeleceu resposta aos problemas impostos, norteando-os.
Durante a apresentação à Comissão do Concurso, Vinicius Andrade e Marcelo Morettin, sócios-fundadores do escritório, iniciaram seu discurso apresentando uma fotografia da Maison de Verre, projeto de Pierre Chareau e Bernard Bijvoet, reforçando a ideia de transparência controlada e a relação entre luz e opacidade. A referência trouxe significante contribuição ao partido do projeto, tentando responder à atmosfera requerida com a quietude, contudo, comunicando-se ao ambiente externo.
A resposta à relação entre o ambiente interno e externo é criada por meio de um invólucro, com sistema de envelopamento duplo ao edifício, protegendo seu interior, na área expositiva, mas ainda, permitindo a entrada de luz natural. Através da instalação de vidros especiais, semi-translúcidos, a pele estabelece diálogo entre o exterior e o interior, possibilitando contemplação a quem se encontra dentro do edifício, e para quem se encontra do lado de fora, ainda percebe resquícios da vida interna.
A pele em vidro ainda age como protetora térmica, filtrando o excesso de radiação solar, buscando o controle lumínico ideal ao espaço expositivo e circulações, além da visibilidade, consequentemente interferindo no desenho, que no período diurno age como um cristal e no período noturno, age como lanterna, emitindo luz à cidade.
Ainda na comissão, os arquitetos apresentaram breve análise da qualidade projetual de alguns dos edifícios ligados à cultura presentes ao longo da Avenida, analisando suas interfaces urbanas. No caso da Fundação Cásper Líbero, pontuam o modo como o térreo se eleva do nível da calçada e, portanto, uma longa escadaria, cria o papel de convívio. Já no segundo estudo de caso, o Edifício FIESP, pontua a ideia de “chão duplo”, uma vez que a calçada do edifício assume cota intermediária, a meio nível e o pedestre sobe ou desce, enquanto o bloco suspende-se gerando área sombreada.
No estudo de caso do Museu de Arte de São Paulo (MASP), pontuam-no como líder à visão, devido às suas condicionantes de térreo liberado pelo vão que vislumbra extensa área pública e liberdade à visada. No Conjunto Nacional, exaltam a fruição e conexão entre as ruas adjacentes, de forma que o térreo do edifício estabelece a ideia de continuidade da calçada, diluindo os limites entre público e privado.
Assim, após tais análises, o partido arquitetônico do novo centro cultural nasce da resolução de problemáticas identificadas em cada um dos estudos de caso, lidando conjuntamente às condicionantes da Avenida Paulista, intensa e frenética, junto às premissas do museu. A solução, então, foi elevar o pavimento da recepção a quinze metros de altura, liberando o térreo e transformando-o na extensão da calçada, permitindo que público flane livremente pelo mesmo.
Na estratégia, o público organiza-se no térreo, veículos no subsolo e ao subir ao primeiro pavimento, chega-se ao coração do edifício.
A transição do nível do solo ao primeiro pavimento é feita por escadas rolantes, concebendo passeio tridimensional pelo espaço, e à medida que o pedestre vai sendo transferido entre as cotas, no simples gesto, faz a leitura da cidade.
Dentro do Instituto, o passeio aos demais pavimentos é feito por um conjunto de escadas que recebem luz natural filtrada, dispostas entre a pele de vidro externa e o volume vermelho que protege as obras.
No edifício, com área três vezes maior que o IMS carioca, o programa é distribuído entre área administrativa, estacionamento, facilidades e reservas técnicas, midiateca, área de distribuição e área expositiva.
No nível da calçada, a grande área sombreada, junto às escadas, abriga o restaurante do edifício, num simpático diálogo entre os espaços público e privado, além de volume lateral em concreto que corta verticalmente o edifício, comportando escadas técnicas, de emergência, elevadores e sanitários.
No primeiro pavimento, biblioteca e administração são dispostas na tentativa de aproximar o visitante ao extenso acervo de livros do Instituto e permitindo que os mesmos flanem pelo espaço, aguardando pela subida aos demais pavimentos.
No segundo pavimento, a sala de aula que abrigará cursos ligados à Fotografia e Arte, é disposta na área frontal, permitindo a entrada de luz natural e visada à cidade.
O terceiro e quarto pavimento são dedicados ao auditório, estabelecendo área da plateia, palco e cabine de projeção.
O quinto pavimento contém espaço dedicado ao café, lojas e segunda recepção de controle às áreas expositivas. O sexto, oitavo e nono pavimento são posicionados dentro do elemento vermelho, protegendo-o da luz solar direta em consequência das obras e área de projeção. Vale destacar que os dois primeiros pavimentos do setor são responsáveis pela área expositiva temporária, enquanto que o último pavimento comporta a área expositiva permanente.
Em relação às técnicas construtivas, os sistemas utilizados foram pensados para que a obra assumisse papel de construção seca em maior porcentagem, por meio de estruturas metálicas, fechamentos em vidro e apenas o bloco do core posicionado lateralmente em concreto. Parte dos sistemas empregados, assim como grande parte das obras do escritório, apenas reforça sua preocupação na demanda e tempo de obra, junto à qualidade de trabalho dos funcionários.
O esqueleto metálico foi pré-dimenrsionado para que o canteiro de obra funcionasse com a melhor lógica construtiva, visto que o terreno com 20x50 metros, antigo estacionamento, não propiciava grandes espaço de canteiro, impondo um desafio estrutural junto à equipe. As lajes também foram dimensionadas para viabilizar o recebimento de grandes obras de arte e cargas.
Desse modo, o novo centro cultural reinventa-se, por meio programático e na escolha dos materiais, de modo primoroso. O desenho assumido pelo edifício reflete conexões com o tecido urbano da cidade, não agindo de modo isolado, mas convidando o pedestre a adentrá-lo. Para quem está dentro do edifício, é possível notar o franco diálogo ao espaço externo, por meio dos panos de vidro semi-translúcidos.