Arábia Saudita pretende construir a megacidade mais revolucionária do mundo
As recentes mudanças climáticas – em grande parte, decorrentes da ação agressiva do homem sobre a natureza – têm ganhado mais força nas últimas décadas. Frequentes tsunamis, terremotos, maremotos, furacões e tantos outros fenômenos fazem as pessoas se perguntarem se um importante limite já não foi ultrapassado. A exploração excessiva dos recursos naturais provocou um desequilíbrio ameaçador à vida na Terra. Talvez, a diminuição de certas atividades, como a demanda petrolífera, por exemplo, seja um bom caminho para amenizar ou mesmo reverter – se ainda possível – alguns desses problemas.
Por uma Arábia mais moderada
O mundo está cada vez mais digital e mais jovem, com 70% da população com menos de trinta anos. E para acompanhar toda essa transformação, a Arábia Saudita – que é considerado um país extremamente conservador – está pensando em adotar, ao longo dos próximos anos, uma postura diferente, bem menos radical. Isso quer dizer que, para estimular seu crescimento, diversificar a economia, aumentar a produção em diferentes setores e promover a indústria, ela vai adotar um “islã moderado”, aberto ao mundo, a outras culturas e religiões. Começando por acabar com os extremismos. E, por fim, reduzir sua dependência em relação ao petróleo. Pelo menos, esse é o plano.
“Mudar o petróleo para a alta tecnologia e colocar o reino saudita na vanguarda dos avanços tecnológicos. Esta é a era pós-petróleo. Esses países estão tentando florescer além da exportação de petróleo e não no que os deixarão para trás” – Ghanem Nuseibeh, consultor, em reportagem de Inverse.
O próximo maior polo comercial do mundo
A Arábia Saudita pretende construir uma gigantesca cidade em Tabuk, na costa norte do país, entre a fronteira com o Egito e a Jordânia – uma zona estratégia, escolhida pela proximidade das rotas internacionais de transporte marítimo. A Neom, como é chamada, deverá ocupar uma área inicial de mais de 25 mil quilômetros quadrados. E, também, deverá ser dividida em nove setores: Energia e Água; Mobilidade; Biotecnologia; Alimentação; Indústria Avançada; Meios de Comunicação; Entretenimento; Ciências Tecnológicas e Digitais; e ‘Vivendo como a Fundação NEOM’.
O megaprojeto foi anunciado pelo príncipe herdeiro à coroa árabe, Mohammad bin Salman, durante a conferência da Future Investment Initiative, em 2017. Nas entrevistas que concedeu aos veículos de comunicação, ele confirmou que a maior parte dos custos da construção será retirada do Fundo de Investimentos Públicos da Arábia Saudita, algo que está ligado a um plano ainda maior, titulado de ‘Vision 2030’. Se o plano for concretizado, essa megacidade será a primeira zona econômica independente do mundo, com negociações bastantes avançadas, ligadas à biotecnologia, às mídias e muito mais. Pôde-se perceber, só por esse discurso, que a Neom não será mesmo o lugar de pessoas ou empresas convencionais.
Soluções futuristas para a NEOM
Será mesmo possível? Ou a Neom não passa de uma ideia utópica?
Neom será uma cidade 100% sustentável, dizem. Têm-se grandes planos para ela. Acredita-se que será como nos filmes de ficção cientifica. Não haverá dinheiro vivo circulando entre seu comércio cinco estrelas. Robôs farão a maior parte dos serviços. As torres de edifícios serão altas e envidraçadas. Toda a energia elétrica será provinda de painéis solares e turbinas eólicas. A água será obtida a partir do Mar Vermelho e dessalinizada. A população será alimentada a partir de produtos de fazendas verticais. Serão criados cais marítimos, grandes jardins, áreas temáticas, e parques sem fim. E o mais impressionante, não se terá carros movidos à gasolina circulando nas ruas.
“Um estilo de vida idílico… fundado na arquitetura moderna, espaços verdes exuberantes, qualidade de vida, segurança e qualidade no serviço da humanidade, emparelhados com excelentes oportunidades econômicas” – dizeres do site Discover Neom, dedicado à nova cidade.
Ilusão ou falsas promessas?
Em palavras, sem qualquer plano-mestre traçado, o governante da Arábia Saudita está prometendo um verdadeiro paraíso, totalmente limpo, organizado e futurista – apenas para os mais ricos do mundo, claro; para ser inaugurado muito em breve, em 2025. Ele está tentando convencer os investidores internacionais de que seu país está pronto para mudanças climáticas, culturais, religiosas e econômicas. Mas, é difícil imaginar que um povo tão conservador vá se distanciar de seus valores para se tornar mais receptivo às ideias ocidentais, que, na maioria, são avessas às práticas muçulmanas. Portanto, não é nada fácil. As mudanças têm que ir muito além do que uma simples permissão para mulheres dirigirem automóveis e colocarem biquínis. A Neom parece estar muito longe de se tornar realidade.
“Isso não vai acontecer em um ou dois anos. Mas, se preparar para o que parece ser um mercado global de energia muito diferente, é algo que precisa de planejamento, exige tempo e dinheiro. A economia da Arábia Saudita precisa se modernizar e se diversificar” – Andrew Walker, correspondente de economia, em reportagem de BBC.