Logotipo Engenharia Compartilhada
Home Notícias Tudo o que você precisa saber sobre pontes estaiadas – e as possíveis causas do acidente ocorrido na Colômbia

Tudo o que você precisa saber sobre pontes estaiadas – e as possíveis causas do acidente ocorrido na Colômbia

Blog da Engenharia - 01 de fevereiro de 2018 4902 Visualizações
Tudo o que você precisa saber sobre pontes estaiadas – e as possíveis causas do acidente ocorrido na Colômbia
As pontes estaiadas são um tipo de ponte suspensa – uma solução de engenhara intermediária entre o modelo fixo e o modelo pênsil. É a opção mais moderna e economicamente viável indicada para se vencer grandes distâncias ou intervalos longos, preferencialmente acima de 150 ou 200 metros. Atualmente, seu emprego mais comum é sobre rios ou canais que necessitam de espaço para a passagem de embarcações. No Brasil, um exemplo conhecido de ponte estaiada é a da Margem Pinheiros, em São Paulo.
O aumento impressionante no número de construções desse tipo pelo mundo se deve a vários fatores. Primeiro, aos avanços tecnológicos quanto à fabricação de aço e concreto com mais resistência. Segundo, ao desenvolvimento de softwares capazes de calcular rapidamente, e com maior precisão, todos os elementos de sustentação. Isso deu aos projetistas possibilidades criativas ilimitadas. Além disso, de um modo geral, os novos sistemas agregam maior valor estético a essas belas estruturas, fazendo-as ser uma arquitetura requintada e atrativa ao gosto popular.
“A engenharia sempre soube que essa ponte poderia ser feita, mas não era possível realizar os cálculos para executá-la. Com o surgimento dos computadores modernos, aliados aos softwares, tornou-se viável fazer qualquer tipo de ponte. A ponte (…) localizada na Marginal Pinheiros, em São Paulo, tem 144 cabos, ou seja, são 144 equações para cada carga (…) impossível de ser feita sem o uso de softwares”  – engenheiro Catão Francisco Ribeiro, diretor-executivo na Enescil Engenharia de Projetos, em reportagem de AEC Web.
Um pouco de história
A ideia de se construir pontes estaiadas não é algo contemporâneo, até mesmo Leonardo Da Vinci já havia feito rabiscos de um sistema muito semelhante no passado. As construções mais antigas já documentadas são a de autoria do carpinteiro alemão Löscher, com 32 metros e em madeira, do ano de 1784; e a do Rio Tweed, na Escócia, com quase 80 metros de vão. Esta segunda marcou a história, pois não resistiu à força dos ventos e ruiu. Foi por causa desse acidente e de outros seguintes que muitos engenheiros passaram a considerar a construção de pontes pênseis como a alternativa mais confiável.
Passado o tempo, em 1899, o francês A. Ginclard provou, com seus diversos trabalhos, que pontes estaiadas eram, sim, uma boa ideia, apresentando inúmeras vantagens quanto à transmissão de cargas e à rigidez estrutural. Décadas depois, na América, o projeto do arquiteto italiano R. Morandi, na Venezuela, provou que era possível suportar tabuleiros feitos de materiais mais pesados do que madeira, como o concreto. Em 1967, o engenheiro H. Homberg utilizou pela primeira vez, na construção da Ponte Friederich Ebert, na Alemanha, a solução mais próxima da que é empregada e aceita nos dias de hoje – econômica, de fácil execução e com aparência harmoniosa.
/
Ponte idealizada por Leonardo Da Vinci.
/
Ponte Rio Pinheiros, São Paulo.
Características das pontes estaiadas
As pontes estaiadas são constituídas, basicamente, de um ou mais mastros, hastes de sustentação, tabuleiros e fundações. Explicando melhor, é um tipo de ponte sustentada por cabos, geralmente de aço, que partem de grandes pilares e vão até a uma base suspensa. Há dois tipos de direção para o qual os estais seguem: de “harpa”, onde saem paralelos a partir do mastro, de modo que a altura do ponto de fixação do cabo no mastro é proporcional à distância do ponto de fixação do mesmo no tabuleiro, na base; e de “leque”, onde partem todos, juntos, do topo do mastro.
“Em distâncias maiores que 150 metros nada justifica a utilização de outra solução que não esta, já que ela é a alternativa mais moderna, bonita e economicamente viável hoje” – engenheiro Ribeiro, em reportagem de AEC Web.
/
O aprimoramento da engenharia em pontes fez com que grandes estruturas ficassem cada vez mais esbeltas e flexíveis. No início, as pontes estaiadas apresentavam tabuleiros de formas rígidas, sustentados por poucos cabos. Depois, esse número aumentou ao mesmo tempo em que o espaçamento dos elementos diminuiu. Isso permitiu a realização de modelos mais ousados, como os em balanços consecutivos, e de baixa rigidez. Também descomplicou a transmissão dos esforços e a manutenção dos elementos danificados. Em suma, é um modelo mais simples, em comparação a outros, mas que envolve muito planejamento, muito cálculo.
O triste acidente ocorrido na Colômbia
Em Chirajara, uma localidade que fica a 75 quilômetros da capital colombiana, Bogotá, ocorreu um terrível acidente. No dia 15 de janeiro deste ano, 2018, uma estrutura de 446 metros de extensão e 280 metros de altura, que estava sendo construída sobre o Rio Guatiquía, desabou, vitimando dez pessoas. Tudo ocorreu no momento em que cerca de quarenta operários trabalhavam na nova ponte estaiada, que estava prevista para ficar pronta só no mês de março.
/
Ponte de Chirajara
A obra, como um todo, incluía a construção de dezenas de viadutos e pontes ao longo de 120 quilômetros de percurso, em uma região bastante montanhosa, de difícil medição instrumental, repleta de vales e florestas. A maioria das vítimas eram de soldadores. Enquanto outros trabalhadores estavam em horário de almoço, esses realizavam um serviço na parte de baixo da grande estrutura. Quando a ponte ruiu, todos caíram no abismo, a uma altura de 280 metros.  Dias depois, ninguém ainda sabia dizer quais as causas desse triste episódio.
/
Ponte de Chirajara. (imagem extraída de Jair Sampaio)
“É uma ponte estaiada e faltavam só 20 metros para terminar o fechamento definitivo” – Germán Cardona, ministro dos transportes, em reportagem de El País.
“Solicitamos à concessionária que inicie uma investigação para apurar as causas do colapso” – Cardona, em reportagem de DW.
Veja mais informações sobre o acidente na ponte de Chirajara, na Colômbia, assistindo aos vídeos a seguir:
Análise dos fatos
A tecnologia das pontes estaiadas é altamente complexa, porém pouco explorada na academia. Não há muitas empresas no mercado que a dominam, mesmo em países desenvolvidos. Quando obras desse porte são feitas sempre envolvem o poder público, seja onde for. Infelizmente, sabe-se que em comunidades mais pobres o repasse financeiro nem sempre é correto. Não são conferidas quaisquer competências, de nenhum dos envolvidos, prevalecendo contratações sem licitações ou concursos de projetos, com indicações baseadas apenas em interesses políticos. Acaba que, desse jeito, o ritmo de trabalho e a qualidade de execução das obras ficam seriamente comprometidos.
/
Ponte de Chirajara. (imagem extraída de Exame)
“Quando se faz uma ponte estaiada, equipara-se aos países do primeiro mundo na sua tecnologia de ponta. (…) Os problemas que elas apresentaram de manutenção e durabilidade também foram resolvidos. Hoje uma ponte estaiada é a que exige menos manutenção que as outras, ela deve durar mais de 100 anos” – engenheiro Ribeiro, em reportagem de Infraestrutura Urbana.
“As estruturas estaiadas são muito sensíveis ao erro de execução. Por isso, é fundamental que a construtora disponha de uma equipe de profissionais qualificada” – vice-presidente da Associação Brasileira de Pontes e Estruturas, em reportagem de Infraestrutura Urbana.
São inúmeras as causas que podem ter levado a ponte de Chirajara ao desmoronamento. O interessante é que pontes estaiadas são indicadas para pistas de rolagem de veículos – um item, portanto, a ser descartado. Talvez tenha sido o traçado muito acentuado ou íngreme da rodovia. Talvez, o tipo de aço ou concreto utilizado seja de baixa qualidade. Ou talvez a estrutura tenha sido pouco dimensionada para vencer o vão. O fato é que pessoas morreram e isso não tem volta. Espera-se que em breve as partes envolvidas apurem e tragam um diagnóstico final para o ocorrido.