Obra milionária em Usina começa em abril, com abertura de 1.5 mil empregos
A Eldorado Brasil pretende, com a inauguração da Usina Onça Pintada, liderar um movimento de geração de energia verde a partir de material que normalmente se perdia no campo. Com restos de galhos, cascas e tocos de árvores cortadas para a produção de celulose, a Eldorado produzirá energia para abastecer uma cidade de mais de 300 mil habitantes – ou três vezes o tamanho de Três Lagoas.
A reportagem esteve na Eldorado Brasil para conversar com o responsável pelo empreendimento, o Diretor Industrial Carlos Monteiro.
O investimento para a construção da usina beira os R$ 350 milhões – recursos próprios da Eldorado, que não dependem de investidores. A construção gerará, de forma indireta, entre mil e 1.500 empregos que, segundo Monteiro, devem ser preenchidos prioritariamente por três-lagoenses.
ESSAS SÃO VAGAS QUE SERÃO OCUPADAS DURANTE A CONSTRUÇÃO CIVIL. ALÉM DOS EMPREGOS INDIRETOS, HAVERÁ TAMBÉM OS EMPREGOS PARA A OPERAÇÃO DA USINA. SERÃO NECESSÁRIAS CERCA DE 40 PESSOAS PARA FAZER A USINA GIRAR. “OS EMPREGOS PERMANENTES SERÃO ESPECIALMENTE NA ÁREA FLORESTAL, JÁ QUE O INSUMO PRINCIPAL É BIOMASSA”, DISSE MONTEIRO.
Carlos Monteiro (centro) fala com a reportagem do Perfil News.
A USINA
O projeto Onça Pintada prevê a geração de energia a partir da biomassa da madeira. Ou seja: a Eldorado reaproveitará o resto do corte do eucalipto que sustenta a indústria de celulose. A biomassa é feita de tocos, raízes, cascas e restos de árvores que não eram aproveitados no campo e que, agora, passarão a gerar energia elétrica.
A usina processará uma tonelada de biomassa para cada MW/h de energia produzida.
As obras de construção civil devem começar em abril. Segundo Monteiro, os equipamentos já estão comprados.
Pelo cronograma, a Usina deve começar a rodar no vazio (ou seja, em fase de testes) a partir de agosto de 2020. O compromisso com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é que as turbinas comecem a operar para valer em janeiro de 2021.
“NÃO TENHO DÚVIDAS QUE SERÁ UM MARCO”, AFIRMOU MONTEIRO. A USINA É A DE MAIOR GERAÇÃO DE ENERGIA DO BRASIL COM ESSAS CARACTERÍSTICAS: A ONÇA PINTADA DEVE ENTREGAR 50 MEGAWATTS/HORA AO SISTEMA ELÉTRICO NACIONAL, CONHECIDO COMO “LINHÃO”. A PARTIR DAÍ, A ANEEL DISTRIBUIRÁ A ENERGIA DE ACORDO COM O NECESSÁRIO PARA TODAS AS REGIÕES DO PAÍS.
“Não tenho dúvidas que será um marco”, afirmou Monteiro.
NEGÓCIO PARALELO
Apesar de ficar no mesmo espaço físico em que está a fábrica da Eldorado, a Usina Onça Pintada não abastecerá a fábrica com energia. Mesmo porque a Eldorado, além de ser auto-suficiente (ela mesma gera a energia que usa) já produz energia suficiente para exportar para o grid nacional outros 50 MW/h.
“É um processo diferente, independente da produção de celulose, que utilizará o que sobra da colheita de eucalipto para a geração de energia verde”, afirmou Monteiro.
Segundo o Diretor Industrial, não é possível calcular o faturamento esperado com o novo negócio. Apesar da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) pagar as usinas por MW, a variação do clima faz os preços flutuarem.
“A Eldorado exporta energia como PLD – Preço de Liquidação das Diferenças. É um valor já divulgado no mercado, dependendo da oferta e procura de energia. Já a Onça Pintada é o que chamamos de unidade despachada, ou seja, quem define o preço é a Aneel. Nós participamos do leilão e tem um valor estabelecido da venda da energia para a Agência. Se esse valor ficar muito baixo, a Aneel pode mandar a gente desligar e paga um fixo para a manutenção do pessoal e a estrutura. Flutua muito, depende do consumo”, disse Monteiro.
A Onça Pintada será a primeira usina de geração de energia a partir de biomassa a produzir essa quantidade de energia. Existem outras, pequenas, produzindo cerca de 5 MW/h.
“TEMOS UMA FLORESTA ENORME AQUI, É UMA MATÉRIA-PRIMA QUE ESTÁ LÁ E FICA NO CAMPO APODRECENDO. SE VOCÊ CONSEGUE TRANSFORMAR ISSO EM ENERGIA VOCÊ ESTÁ AGREGANDO VALOR AO SEU NEGÓCIO” — CARLOS MONTEIRO, DIRETOR INDUSTRIAL DA ELDORADO BRASIL
ENERGIA VERDE, TENDÊNCIA MUNDIAL
Existem várias experiências bem-sucedidas de energia renovável no mundo, e não há mais dúvidas que essa seja uma tendência. Hoje, o mercado trabalha basicamente com três áreas energia limpa: a eólica, a solar e a energia verde, que é o caso da usina de Três Lagoas.
Existem atualmente 271 usinas à biomassa em operação no Brasil, o que representa 12,7 gigawatts em capacidade, segundo dados da CCEE. A maioria, entretanto, funciona à base de bagaço de cana. O potencial representa quase uma usina de Itaipu, que soma 14 gigawatts em potência instalada.
A Eldorado pode estar liderando o processo de energia verde no Brasil. Além da Onça Pintada a empresa já tem o projeto de mais duas usinas – todas no Mato Grosso do Sul. “Temos uma floresta enorme aqui, é uma matéria-prima que está lá e fica no campo apodrecendo. Se você consegue transformar isso em energia você está agregando valor”, afirmou o diretor.
Usina de Biomassa será instalada próximo à portaria de recebimento de carretas com madeira, na Eldorado. Foto: Ricardo Ojeda.
POR QUE TRÊS LAGOAS?
A construção da Usina Onça Pintada havia sido anunciada para acontecer em Selvíria. Entretanto, a Eldorado bateu o martelo e afirmou que o empreendimento será feito em Três Lagoas. A razão é estritamente financeira.
“O plano de viabilidade técnico-econômica mostrou ser muito mais atrativo fazer a Usina dentro da fábrica, com toda a infraestrutura que já temos, restaurante, vigilância, portarias, acessos prontos, pessoal de jardinagem. Tudo isso é economia, porque se fôssemos fazer em outro lugar ia ter que investir nisso também”, disse Monteiro.
A Usina vai ser construída ao lado da portaria por onde entram os caminhões de madeira. E isso também se mostra um ponto estratégico, já que o fluxo de caminhões não mudará e toda a matéria-prima da usina virá das florestas.
COMPENSAÇÃO AMBIENTAL
O Imasul definiu a compensação ambiental a ser paga pela Eldorado para a construção da usina termoelétrica em R$ 1,7 milhão. Monteiro afirma que, por melhor que seja o projeto, ele sempre causa um impacto e, por isso, o Governo determina as compensações.
“Todo projeto, por melhor que seja em termos ambientais, ele causa um impacto no local onde ele é implantado. Normalmente são impactos positivos, mas acaba gerando algum transtorno. Os órgãos ambientais avaliam esse tipo de impacto e já tem um valor padronizado. Para esse tipo de projeto a compensação é de R$ 1,7 milhão”.