Concreto especial sustenta nova estação do Brasil na Antártica
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27 de março de 2019
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Base brasileira na Antártica: nova Comandante Ferraz é a mais moderna entre as estações que pesquisam o pólo sul. Crédito: MCTIC
Em 11 de março de 2019 foi inaugurada a nova base de pesquisa do Brasil na Antártica. A antiga estação Comandante Ferraz foi destruída por um incêndio em 2012. A estrutura substituta é futurista, inovadora e atende a elevados parâmetros de
segurança contra fogo, desempenho térmico e acústico, além de ter sido erguida
sob conceitos de sustentabilidade. A tecnologia em
construção civil também se fez presente, mas foi importada. A estatal chinesa CEIEC, cuja especialidade é construir em condições adversas e em ambientes inóspitos, foi contratada para executar o
projeto arquitetônico do escritório brasileiro Estúdio 41.
O investimento para reconstruir a nova estação Comandante Ferraz em 540 dias superou os 370 milhões de reais, dos quais mais de 150 milhões de reais foram gastos apenas com a
logística para transportar os
materiais de construção para o pólo sul. Também foram deslocados para o canteiro de obras 250 operários e engenheiros do nordeste da China, onde as temperaturas se aproximam das registradas na Antártica. Acostumados a trabalhar no frio extremo, eles utilizaram maquinários especiais para escavar a neve a 80 metros de profundidade, até encontrar terreno rochoso para fixar as fundações. As perfurações foram preenchidas com
Concreto de Ultra-Alto Desempenho (CUAD) de 500 MPa de resistência e VUP (vida útil de projeto) de 200 anos.
A opção pelo CUAD se deu por causa dos fortes ventos que atingem a região onde está localizada a Comandante Ferraz, e que podem ultrapassar os 100 km/h, e também por causa do risco de abalos sísmicos. A estação está encravada nas fundações através de palafitas de aço especial, também projetadas para suportar baixíssimas temperaturas e fortes ventos. “A precisão do projeto atinge o nível de fabricação de relógios suíços”, explica a engenheira civil Cao Hong, chefe do projeto-executivo da nova base brasileira na Antártica. “A construção é um projeto turnkey total. Transformamos o projeto confiado a nós em uma base encravada em um monolito de concreto na Antártica, gerenciando toda a cadeia de fornecimento de material, equipamentos, logística e do canteiro de obras no local”, completa.
Países do BRICS poderão usar a Comandante Ferraz para pesquisas
Parte dos recursos da Comandante Ferraz foi bancada pelos demais países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que também poderão usar a estação para pesquisas. A China já possui quatro bases na Antártica: Great Wall, Zhongshan, Kunlun e Taishan. A Kunlun, por exemplo, está localizada a 4.093 metros acima do nível do mar, e é a mais alta das estações no continente polar. Também foi construída pela CEIEC. Porém, a Comandante Ferraz é a mais moderna e confortável hoje em operação na Antártica. Com 32 alojamentos, ela comporta até 64 pessoas. O design coloca os quartos na parte superior de duas estruturas, juntamente com uma sala de vídeo, um cybercafé, uma sala de conferências e uma biblioteca. O bloco inferior abriga os 17 laboratórios, garagens e armazéns centrais.
O projeto faz parte do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). Criado em 1982, realiza, em média, 20 projetos de pesquisas por ano, nas áreas de oceanografia, biologia marinha, glaciologia, geologia, meteorologia e arquitetura, além de permitir à Marinha do Brasil, com o apoio da Força Aérea Brasileira (FAB), realizar uma das maiores operações de apoio logístico, em termos de complexidade e distância.