Propostas de mudanças nos cursos de engenharia buscam uma formação mais empreendedora e humanística
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25 de abril de 2019
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Formar engenheiros que tenham desenvolvido competências para o enfrentamento de problemas complexos e que não tenham somente a dimensão científica e tecnológica, mas também social, ambiental, de comunicação e de franca iniciativa – essa é a principal motivação por trás da reforma curricular das graduações de engenharia ofertadas no Brasil, que está em discussão no Ministério da Educação (MEC).
Segundo o diretor de Assuntos Acadêmicos do Instituto de Engenharia, Ângelo Zanini, as novas diretrizes curriculares mantém as mesmas bases do ensino de engenharia tradicional, de necessidade de forte base científica e profundidade em ciências básicas. “No entanto, elas acrescentam a obrigatoriedade para os projetos pedagógicos incluírem ações que visem o desenvolvimento do pensamento sistêmico, do empreendedorismo, da comunicação e do trabalho em equipes multidisciplinares, além da necessidade de espaços de prototipação e o incentivo ao uso de metodologias ativas, como sala de aula investida, instrução em pares, entre outras”, explica.
Como resultado, as mudanças tornariam a graduação em engenharia mais completa, formando um profissional comunicador, empreendedor, experimentador e facilmente integrado em equipes multidisciplinares, além da excelência técnica e tecnológica que sempre o caracterizou.
Até o momento, a reforma já foi discutida em vários fóruns e reúne propostas de entidades como a Associação Brasileira de Escolas de Engenharia (Abenge), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto de Engenharia (IE). As alterações foram apresentadas ao Conselho Federal de Educação (CFE), o qual discutiu a proposta, fez modificações, votou, aprovou por unanimidade e publicou. O que falta agora é a sanção no MEC.
Para o professor adjunto do curso de Engenharia Civil da Faculdade Padre Anchieta, em Jundiaí (SP), e coordenador técnico da Maccaferri, a reforma será muito bem-vinda. “Na maior parte das faculdades, a grade curricular ainda segue um padrão estabelecido há décadas, que não condiz com uma realidade de Smartphones, Wi-Fi, streaming e tantas outras tecnologias que poderiam contribuir para o ensino”, enfatiza.
No entanto, ele ressalta que não existe uma homogeneidade dentro da engenharia, muito pelo contrário. O que acontece hoje é que dentro da flexibilidade existente no padrão estabelecido, as faculdades conseguem oferecer cursos muito diferentes entre si, não apenas oferecendo diferentes disciplinas, mas também com conteúdo diferente dentro das próprias disciplinas.
Quem elabora mais esta questão é o presidente da Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), vinculado ao MEC. “O Brasil conta hoje com mais de seis mil cursos ou especializações em engenharia. Caso todas as matrizes curriculares fossem assemelhadas, não haveria trabalho para todos os engenheiros. Com as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), por exemplo, uma pequena faculdade, em qualquer cidade do país, pode elaborar uma matriz curricular focada em uma determinada área, como Engenharia do Meio Ambiente ou Engenharia Mecatrônica ou Engenharia de Pesca, e assim, competir, eventualmente, com vantagem, com instituições de grande porte, consolidadas nacionalmente”, diz.
Para além das universidades
Reforma à parte, existe outro ponto que merece atenção: a boa formação em Engenharia vai muito além dos conhecimentos obtidos durante a passagem pela universidade. “Atividades externas, denominadas atividades complementares, também são fundamentais”, ressalta Zanini. O Instituto de Engenharia, por exemplo, colabora neste sentido com uma extensa agenda de palestras, simpósios, workshops e principalmente pela oportunidade do contato estreito entre alunos que procuram a entidade e os engenheiros mais experientes, do quadro associativo do IE.
Paulo Rocha, por sua vez, enfatiza que também é de responsabilidade das grandes empresas contribuírem na preparação dos futuros profissionais. A Maccaferri, empresa na qual ele atua, historicamente realiza palestras, cursos e workshops junto às Universidades de todo o país, com o intuito de apresentar aos estudantes possíveis caminhos que estes possam traçar, seja através da busca por informação de forma independente, disciplinas optativas e ou eletivas, realização de estágios, entre outros.
“Por fim, independente do currículo da universidade, os melhores profissionais serão aqueles que buscam algo além do curso que escolheram. São profissionais que mesmo antes de sair da universidade estão se especializando. Entre tantas outras coisas, a Universidade deve ensinar o aluno a “aprender”, pois quando este começar a exercer sua função dentro de uma empresa, saber aprender, de preferência de forma rápida e permanente, será sua habilidade mais valorizada”, finaliza Rocha.