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É preciso unir universidade e indústria para gerar resultados, diz vice-reitor do ITA

POR ANA LAURA STACHEWSKI - Época Negócios - 24 de maio de 2019 946 Visualizações
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Carlos Henrique Costa Ribeiro, vice-reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) (Foto: Divulgação)

São muitas as discussões sobre os impactos da revolução digital nos negócios. Conceitos como inteligência artificial, automação e indústria 4.0 fazem parte das discussões diárias de líderes e funcionários. Mas está na hora das instituições de ensino também voltarem sua atenção para essas questões. A nossa função é prever o que pode acontecer e dar início aos processos de reforma de ensino, diz Carlos Henrique Costa Ribeiro, vice-reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

Discutir as tendências e os desafios do futuro para o ensino da engenharia é a proposta do Engineering Education for the Future (EEF), evento promovido pelo ITA que acontece entre os dias 23 e 25 de maio em São José dos Campos (SP). A programação inclui palestras, exposições e resoluções de desafios.

Em entrevista a Época NEGÓCIOS, Carlos Henrique Costa Ribeiro falou sobre o papel das instituições na promoção de inovação ao país. Para ele, o problema central não está, necessariamente, na capacitação oferecida aos estudantes. Precisamos dar oportunidade para que pesquisa acadêmica e indústria tecnológica se juntem e produzam conhecimentos com aplicação imediata para a sociedade.

Qual o papel da educação e das universidades no fomento ao ecossistema de inovação do país?
Para produzir algo inovador e com impacto, que mude a realidade de forma sustentável, você tem que ter teoria e conhecimento consistentes. O conceito de inovação e os elementos para que ela ocorra ainda são pouco conhecidos e aplicados pela maioria das empresas. É através da educação que a conscientização sobre a importância da inovação fica mais clara. O ITA, assim como várias outras escolas, tem iniciativas nesse sentido. Um exemplo é o programa de formação complementar em inovação, conduzido em paralelo à formação em engenharia, no qual são desenvolvidos projetos com aprofundamento de conceitos.

A revolução digital chegou à educação no Brasil?
O Brasil está muito aquém de onde deveria estar. Um exemplo é a inteligência artificial. Nos últimos três anos, vários países, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento, têm produzido iniciativas governamentais para fomentar a pesquisa e a formação em inteligência artificial. Nós ainda estamos engatinhando nesse processo.

Mas é possível ver um lado positivo. Existem mobilizações na comunidade acadêmica com o objetivo de promover integração com a indústria. A vontade e as iniciativas existem, mas vamos ter que correr em dobro para alcançar o status de outros países.

Quais são as barreiras?
Essa é uma pergunta difícil. Talvez a gente tenha modelos de financiamento muito restritivos. Talvez exista uma questão cultural no Brasil, onde se enxerga o ensino de engenharia de forma excessivamente acadêmica. Há ainda uma dificuldade em vincular a cultura de pesquisa científica à de inovação industrial, algo que é algo muito comum nos Estados Unidos.

Vários países conseguem manter a atividade de pesquisa em nível básico –aquela voltada à aquisição de conhecimento que talvez vire algo inovador em um prazo longo – e, ao mesmo tempo, sustentar um modelo de pesquisa científica com aplicação industrial quase imediata. Nós estamos avançando nesse processo, mas ainda temos muitos entraves burocráticos. 

Como incentivar a inovação nas universidads, especialmente no cenário conturbado em que estamos vivendo agora?
O nosso problema não é a capacitação das pessoas e das instituições. A universidade brasileira, pública ou privada, tem pujança. A indústria também. O que temos que fazer é dar oportunidade para que pesquisa acadêmica e indústria tecnológica se juntem e produzam conhecimento de forma mais sustentável e com aplicação mais imediata para a sociedade. 

Um exemplo de iniciativa que funciona bem em todos esses aspectos é a Embrapa. Ela consegue realizar pesquisa básica e pesquisa de cunho tecnológico voltado ao desenvolvimento de tecnologias. Há várias outras histórias, como a Embraer. Essas ações têm que ser mais bem conhecidas e servir de exemplos para novos avanços.

Muito tem se falado sobre o impacto das inovações tecnológicas no mercado de trabalho. Como isso deve impactar os profissionais e o ensino?
A questão do enxugamento de postos, na minha opinião, não é tão crítica. A humanidade já passou várias vezes por esse tipo de breakthrough tecnológico e sempre há a exigência de uma nova formação. Não sabemos hoje que tipo de formação vai ser exigida daqui 20 ou 30 anos. A nossa função nos processos de reforma de ensino é tentar prever o que pode acontecer daqui um tempo. Eu acredito que haverá uma mudança de perfil e de exigências formativas, e aí sim a sociedade e os sistemas educacionais vão ter de se adaptar de forma rápida.

Como a transformação digital afeta as habilidades comportamentais?
Hoje o engenheiro, principalmente o que está relacionado ao desenvolvimento tecnológico de ponta, não trabalha mais de forma individual. Ele trabalha em equipes interdisciplinares internacionais. Então o desenvolvimento das chamadas soft skills fundamental. Do ponto de vista formativo, a consequência é que vamos ter que integrar a engenharia a outras áreas, inclusive das ciências humanas, para haver essa formação integral.

Qual o objetivo do Engineering Education for the Future?
O evento é resultado de um processo de reforma no ensino de engenharia que já vem sendo estabelecido e proposto há vários anos. A necessidade de discutir esses temas é amplificada pelo grande problema da má qualidade da formação dos engenheiros. Historicamente, acreditava-se que o problema no Brasil era a escassez de engenheiros formados. Na verdade, o grande problema é a qualidade. E isso se acentua em uma época com demandas tecnológicas enormes, e em constante transformação.