Após leilão, empresa suíça dobra participação na gestão de aeroportos brasileiros
Uma visualização do novo aeroporto de Florianópolis, administrado pela Zürich Airport, atualmente ainda em obras. A inauguração está prevista para outubro de 2019.
A operadora Zürich AirportLink externo teve participação destacada no primeiro leilão de privatização de aeroportos promovido pelo atual governo brasileiro. Entre os principais itens à venda, os terminais de Vitória (ES) e de Macaé (RJ) foram arrematados pela empresa suíça, que desembolsará um total de R$ 437 milhões e pagou ágio de 830% pelo negócio.
Presente no Brasil desde 2013, quando arrematou em consórcio o aeroporto de Confins, em Belo Horizonte (MG), a Zürich Airport Latin America é também gestora do aeroporto de FlorianópolisLink externo (SC) desde 2017. Após um período no qual as incertezas políticas e econômicas pareciam desaconselhar novos investimentos no mercado brasileiro, as duas novas aquisições demonstram que a empresa suíça aposta em um novo ciclo de crescimento para o país.
“Acreditamos que o setor de aeroportos tem muito potencial de crescimento. A média de voos per capita no Brasil é inferior a um, enquanto na Europa é de quatro voos por pessoa. Além disso, a Zürich Airport está sempre buscando novas oportunidades para ampliar seu portfólio na América Latina, de modo a levar seu know-how e a excelência de seus serviços para outros aeroportos”, afirma, em conversa com a swissinfo.ch, Stefan Conrad, executivo responsável pelas operações da empresa no Brasil.
As estratégias de investimento serão distintas para os aeroportos de Vitória, cidade que é capital do Espírito Santo e tem forte espaço para crescimento turístico e econômico, e de Macaé, cidade do litoral do Rio de Janeiro fortemente incorporada à linha de exploração e produção da indústria de petróleo e gás.
“O plano de ação para ambos os terminais ainda está sendo delineado, mas já é possível observar que o aeroporto de Vitória está em uma região com forte potencial de crescimento. Já para Macaé, há necessidade de construção de uma nova pista, que permita o pouso e decolagem de aviões comerciais. Hoje, basicamente, o aeroporto funciona para helicópteros que circulam entre o continente e as plataformas de petróleo da Bacia de Campos”, diz Conrad.
Balanço positivo
Em seu maior investimento no país, na capital de Minas Gerais, a Zürich é um dos acionistas privados da concessionária BH Airport, que controla o aeroporto de Confins. Neste caso, a participação privada responde por 51% da Sociedade de Propósito Específico (SPE) na qual a empresa suíça detém 25%, ao lado do Grupo CCR, com 75%. A estatal InfraeroLink externo detém os restantes 49% das ações.
“A concessionária assumiu as operações em agosto de 2014 e o principal desafio à época foi a paralisação de parte das obras de responsabilidade do poder público que não estavam previstas no contrato de concessão. Para evitar que estes projetos prejudicassem o atendimento aos passageiros, usuários e clientes, além da eficiência operacional do aeroporto, a BH Airport assumiu parte destes investimentos entre 2015 e 2017”, conta o executivo.
Stefan Conrad, chefe de operações da Zurich Airport para a América Latina, durante uma coletiva de imprensa no aeroporto em Kloten, Suíça.
(© Keystone / Ennio Leanza)
A BH Airport investiu cerca de R$ 1 bilhão na construção de um novo terminal em Confins, além da criação de novos acessos viários, da ampliação do estacionamento e do aumento do número de pontos comerciais no aeroporto. Em 2016, em razão da crise econômica vivida pelo Brasil, a movimentação de passageiros registrou queda de quase 15%, mas desde 2017 houve retomada gradual da movimentação, “ainda em ritmo menor que o registrado anteriormente”, ressalta Conrad.
Em 2018, Confins foi considerado pelo Airports Council International (ACILink externo) como o melhor aeroporto da América Latina e Caribe na categoria entre cinco milhões e 15 milhões de passageiros/ano. Está também entre os três melhores aeroportos do Brasil, segundo a Pesquisa Trimestral de Satisfação dos Passageiros realizada pelo Ministério da Infraestrutura: “Para 2019, as perspectivas são que o número de passageiros que circula anualmente pelo aeroporto volte ou até mesmo supere o patamar registrado em 2015, antes da crise”, diz o suíço.
Segundo a Zürich Airport, os próximos projetos para Confins incluem a ampliação da participação do terminal de cargas do aeroporto na movimentação de cargas aéreas do Brasil, o incentivo ao turismo em Minas Gerais e o aumento do número de voos e destinos, entre outras ações.
Novo terminal em SC
Já em Florianópolis, com investimentos de R$ 550 milhões, a Zürich Airport está construindo um novo terminal, quatro vezes maior do que o atual e com capacidade para receber oito milhões de passageiros. “Enquanto construímos o novo aeroporto, fizemos investimentos de R$ 5 milhões no atual terminal, com reformas em todos os banheiros e construção de quatro novos, troca de todos os assentos do terminal, ampliação em 30% da área de inspeção e de 50% na capacidade da sala de embarque com a abertura de um lounge e de uma sala de espera”.
O foco da empresa suíça agora está na inauguração do novo terminal na capital de Santa Catarina, prevista para 1º de outubro de 2019: “Temos o desafio de atrair novas rotas, em relação direta com as estratégias de divulgação do turismo local. A construção do novo aeroporto garantirá uma infraestrutura aeroportuária moderna e inovadora, mas ela sozinha não atrairá novas rotas e voos internacionais. É necessário um conjunto de fatores integrados para desenvolver o turismo local, que tem um potencial extraordinário”, avalia Stefan Conrad.
Novo modelo
No mais recente leilão de aeroportos no Brasil, realizado em março deste ano pelo governo federal, foi adotado um modelo de negócio diferente daquele que regulamentou o leilão de 2013, ainda no governo de Dilma Rousseff, quando cada terminal era vendido separadamente. Naquele ano, a Zürich Airport Latin America arrematou o aeroporto de Confins, em Belo Horizonte (MG).
Desta vez, com a possibilidade de arrematar em um único lance blocos compostos por dois ou mais aeroportos, divididos por região, a operadora suíça pôde adquirir de uma só tacada os terminais de Vitória (ES) e de Macaé (RJ), que compunham o Bloco do Sudeste. O bloco interessava também à empresa francesa ADP do Brasil, subsidiária da operadora do aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, mas esta acabou não acompanhando o lance definitivo feito pelos suíços.
Ao contrário de Dilma, o governo do atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, anunciou que até o fim do mandato pretende privatizar todos os aeroportos ainda controlados pela empresa estatal do setor, a Infraero. Assim sendo, o governo já adiantou que o mesmo modelo de leilão em blocos será adotado na próxima rodada de privatização de aeroportos, prevista para 2020