Só com engenharia de manutenção, PIB do Brasil cresceria 2%
Ponte do Jaguaré, em São Paulo-SP: o mais recente caso de obra urbana afetada pela falta de engenharia de manutenção. Crédito: Agência Brasil
Organismos internacionais recomendam que os países invistam anualmente pelo menos 2% do PIB na manutenção de obras de infraestrutura. O Brasil atualmente investe praticamente zero em engenharia de manutenção, segundo revelado no seminário “Pontes, viadutos, barragens e a conservação das cidades – Engenharia de manutenção para garantir segurança e qualidade de vida”.
O evento foi promovido recentemente pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), que, para dar sustentação aos debates, apresentou estudo coordenado pelo engenheiro civil Ciro José Ribeiro Villela Araújo, chefe da Seção de Engenharia de Estruturas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O levantamento abrangeu 22 cidades brasileiras – entre elas, 11 capitais -, e apontou que 20% das obras de arte em áreas urbanas do país se encontram em estado de pré-colapso.
O estudo sobre engenharia de manutenção, apresentado em 17 de junho de 2019, faz parte de um programa mais amplo coordenado pela FNE, intitulado “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”. Nele, a federação de engenheiros defende um plano nacional de desenvolvimento sustentável nas áreas de energia, ciência e tecnologia, meio ambiente, recursos hídricos e saneamento, comunicações, transportes de cargas e coletivo e agricultura.
As propostas concentradas no “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” estimam que a construção civil do país tem potencial para crescer a taxas de 6% ao ano, desde que se ampliem as parcerias público-privadas, reduzam-se os juros e seja facilitado o acesso ao crédito. O programa foi consolidado a partir de 14 seminários sobre os temas considerados relevantes pela FNE, e realizados nas cinco regiões do Brasil.
Saiba quais são as anomalias mais comuns em pontes, viadutos e passarelas
No estudo coordenado pelo chefe da Seção de Engenharia de Estruturas do IPT constatou-se que as anomalias mais comuns em pontes, viadutos e passarelas são danos em aparelhos de apoio, problemas em juntas de dilatação, descuido com sistemas de drenagem, fissuras e trincas, corrosões de armadura, danos nos pavimentos e em barreiras rígidas e guarda-corpos. “É preciso uma cultura de inspeção e manutenção de pontes e viadutos, demonstrando a importância significativa dessas atividades para a racionalização de custos e para a máxima garantia de segurança para os cidadãos”, conclui o estudo.
A pesquisa teve como ponto de partida o levantamento de 2005, do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), intitulado “Prazo de validade vencido”. A partir dele foi criado um banco de dados sobre estruturas em “estado febril”, ou seja, que já começavam a dar sintomas de que necessitavam de reparos.
O estudo do Sinaenco finaliza com o seguinte alerta: “É preciso superar certo senso comum que vê no concreto uma durabilidade quase infinita, o que leva à displicência em relação a programas contínuos de inspeção, conservação, manutenção e reparos. Mesmo o prazo médio de durabilidade das obras em concreto, estimado em torno de 50 anos no Brasil, só pode ser atingido se eventuais patologias forem identificadas antes que se alastrem, comprometendo a integridade e as características do material.”
Entrevistado
Federação Nacional dos Engenheiros (via assessoria de imprensa)