Cimento do futuro será o Cimento Portland
Arnaldo Battagin: nenhum cimento ainda consegue competir com o Cimento Portland em larga escala
Crédito: Cia. de Cimento Itambé
Em sua palestra na Concrete Show 2019, intitulada “Cimento do Futuro”, o gerente de laboratórios da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), Arnaldo Battagin, fez um relato das pesquisas mais relevantes para se chegar a um produto que substitua o Cimento Portland em larga escala de consumo, desempenho e, principalmente, com menores emissões de CO2. Até agora, todos os materiais estudados focaram na mitigação do impacto ambiental, mas não conseguiram se tornar viáveis economicamente.
Por outro lado, a indústria de Cimento Portland tem agregado cada vez mais inovações, a fim de aumentar o desempenho do material e diminuir as emissões de gases. Com isso, se sobrepõe aos desafios que crescem ano a ano. “Certa vez ouvi em uma palestra que a indústria de cimento teria futuro sustentável se a taxa de inovações fosse maior que a taxa de restrições. O investimento em tecnologia faz o setor superar os desafios referentes a desempenho e agora a tecnologia tem trabalhado para mitigar as emissões e superar as restrições ambientais impostas”, diz.
Em 1990, apenas na Europa, havia 19 regulamentações de meio ambiente exclusivas para a indústria de cimento. Em 2010, segundo a estatística mais atualizada, esse número subiu para 635. Para se adequar às normas ambientais, o Cimento Portland encontrou no incremento de teores de adições uma fórmula de sucesso. De acordo com Battagin, no futuro a captura de carbono poderá se mostrar mais eficaz, mas por enquanto ela esbarra nas mesmas restrições que dificultam a substituição do Cimento Portland por outro material: a inviabilidade econômica.
Como exemplo, o gerente de laboratórios da ABCP citou o cimento desenvolvido a partir de 2007 no Imperial College London, na Grã-Bretanha. Usando silicato de magnésio como ligante, o material foi testado em concreto estrutural e artefatos pré-fabricados de cimento. Em 2010, foi premiado pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) e havia a promessa de que entraria em escala comercial em 2014. No entanto, todo o planejamento foi paralisado. “Apesar do forte apelo tecnológico, esbarrou na questão do custo. No futuro, poderá vir a ocupar um nicho de mercado”, afirma Arnaldo Battagin.
Graças ao Cimento Portland, um quilo de concreto custa menos que um litro de água
Outro exemplo é o de um cimento desenvolvido há mais de 20 anos nos Estados Unidos, com comportamento que se assemelha à cerâmica. Testado na estabilização de resíduos radioativos e como selante de poços petrolíferos, o material também não alcançou competitividade comercial para substituir o Cimento Portland. Atualmente, desponta como um produto para uso restrito na construção civil.
Arnaldo Battagin também relatou outros cimentos que tendem a se tornar nichos de mercado, como o cimento com nanotubos de carbono, o cimento modificado energeticamente (EMC, do inglês energetically modified cement) e o cimento de sulfalominato de cálcio, com tempo de pega de 10 minutos e cuja resistência máxima é atingida nas primeiras 12 horas. “Trata-se de um cimento que possui norma técnica na Europa, mas que a confiança sobre a durabilidade ainda não está madura”, expôs o palestrante.
Para finalizar, Battagin concluiu sua fala com a seguinte reflexão: “Nenhum cimento ainda consegue competir com o Cimento Portland em larga escala. Graças ao Cimento Portland, um quilo de concreto custa menos que um litro de água. Por isso, por longo tempo, continuará como produto-chave para a indústria da construção civil. Não significa que não buscará atingir menores níveis de emissão de gases, o que virá através do clínquer coprocessado e de maiores níveis de adições. É o cenário que se desenha até 2050, pelo menos.”
Entrevistado
Reportagem com base na palestra “Cimento do Futuro”, do gerente de laboratórios da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), Arnaldo Battagin, dentro da Concrete Show 2019