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Estudo propõe modelo para medir impactos do rompimento da barragem de Fundão

Por Matheus Souza - Fonte Jornal da USP - 18 de outubro de 2019 1129 Visualizações
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Região da Barragem de Fundão um ano após o rompimento – Arte sobre foto de Léo Rodrigues/Agência Brasil
 
Um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil, o rompimento da barragem de Fundão, na cidade de Mariana (MG) em 2015, está longe de ser completamente superado. Entretanto, desde que a tragédia aconteceu, diferentes setores da sociedade têm mobilizado esforços para contribuir na recuperação, inclusive a comunidade científica. É o caso do Painel do Rio Doce, que desenvolveu um estudo propondo um modelo sistemático para avaliar os danos causados, de modo a buscar maneiras mais eficazes de resolvê-los.

Os dados levantados foram publicados no artigo Uma estrutura de avaliação dos impactos sociais e ambientais de desastres — Garantindo uma mitigação efetiva após o rompimento da Barragem de Fundão, que tem como autor principal Luis E. Sánchez, membro do Painel e professor de Engenharia de Minas na Escola Politécnica (Poli) da USP.

De acordo com o material, apesar de uma avaliação rápida ter sido feita pouco depois do desastre, até hoje não foi concluído nenhum cálculo aprofundado o suficiente para abranger todos os danos. O documento conta com orientações técnicas para mapear os efeitos ambientais e sociais causados, e foi entregue no último dia 30 à Fundação Renova, entidade criada para a reparação dos impactos após acordo entre os governos de Minas Gerais e Espírito Santo e as empresas Samarco, BHP Billiton e Vale, responsáveis pela barragem.

Avaliação sistemática
A publicação faz parte de uma série produzida pelo Painel do Rio Doce. Dentre os temas já abordados há, por exemplo, a busca por alternativas para diversificar as atividades econômicas nos locais afetados, de modo a torná-las condizentes com a recuperação ambiental. Outro artigo analisa especificamente a questão da pesca, um dos meios de subsistência mais importantes da região e também dos mais prejudicados.

Já o estudo mais recente tem como objetivo indicar uma maneira eficiente de quantificar todos os impactos a longo e curto prazo. “Nós recomendamos uma metodologia, uma estrutura sistemática, para identificar e avaliar com os maiores detalhes possíveis os impactos causados ao longo de toda a bacia hidrográfica”, diz Sánchez.

Desde a primeira publicação do Painel, em 2018, todos os relatórios têm sido enviados à Fundação Renova. De acordo com o professor, a entidade retorna dizendo se seguirá as orientações e como serão implementadas, além de fornecer um acompanhamento sobre como anda a recuperação.

Foi desse diálogo com a Renova, inclusive, que surgiu o estudo publicado agora. “No nosso primeiro artigo recomendamos que fizessem essa avaliação abrangente dos impactos, e eles nos perguntaram de que modo poderiam fazer isso. Foi o que respondemos apresentando esse novo relatório, que é um desdobramento de uma recomendação anterior”, acrescenta o professor.

O Painel do Rio Doce é um grupo independente organizado para apresentar orientações de base técnica e científica para a recuperação das áreas afetadas pelo rompimento da barragem em Mariana. Ele faz parte da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), e no total conta com sete especialistas que atuam nas áreas de engenharia, saúde, meio ambiente e biologia.

Recuperação lenta
Como explica o professor Sánchez, os impactos do desastre foram distribuídos ao longo de toda a bacia do Rio Doce e também na região litorânea, afetando diferentes comunidades e diferentes recursos ambientais. Por isso, a variedade de medidas que ainda precisam ser implementadas para a recuperação da região é enorme.

Ele cita como exemplo a contenção dos rejeitos na parte superior da bacia. No primeiro trecho atingido pela onda de lama foi construída uma nova barragem, menor, para evitar que os rejeitos que sobraram no local continuem fluindo para o rio. Além disso, o local passa por um processo de renaturalização, que busca fazer com que se recupere as condições ecológicas semelhantes às de trechos não afetados.
 
“É possível afirmar, nesse momento, que ainda será preciso no mínimo mais de uma década de atuação da Fundação Renova para implementação satisfatória de todas as medidas de restauração”, diz Sánchez. Porém, vale lembrar que o cálculo é apenas uma estimativa. A Renova possui atualmente 42 programas para diferentes eixos de intervenção e, embora alguns estejam em nível avançado, uma outra parte ainda está no estágio inicial.

Por isso, o professor ressalta também a perspectiva de longo prazo do Painel do Rio Doce. “Nós nos preocupamos, por exemplo, com quais podem ser os efeitos das mudanças climáticas sobre as medidas que estão sendo implementadas”, diz. “A fundação e os órgãos governamentais costumam ter preocupações emergenciais e de curto prazo, que evidentemente também são importantes. Mas nós olhamos para o problema com essa perspectiva mais ampla.”