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Projeto de Niemeyer abre debate sobre execução de obras de autores mortos

Agatha Gonzaga - Correio Braziliense - 08 de novembro de 2019 1251 Visualizações
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Lote no Eixo Monumental, próximo à Catedral Rainha do Paz, está destinado para a nova obra(foto: Breno Fortes/CB/D.A Press)

Um grupo composto por oito entidades de arquitetura e urbanismo do Distrito Federal publicou uma nota de preocupação com a construção do Museu da Bíblia. Para as entidades, a execução da obra sem um debate democrático sobre a necessidade e conveniência fere os princípios de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade. Para o colegiado, o projeto de Oscar Niemeyer não pode ser desenvolvido por outro profissional. “Reconhecemos, sem qualquer dúvida, que o gênio criativo de Oscar Niemeyer é central na construção de Brasília e em sua valoração como obra universal. Acredita-se, no entanto, que a autoria se estende por todas as etapas do processo de projeto e construção de um bem. (…) Estas entidades recomendam que croquis, estudos preliminares, anteprojetos etc. de autores falecidos, conquanto sejam valiosos registros de sua inventividade, não sejam desenvolvidos e levados à execução por terceiros”, defende a nota.

O documento é assinado por representantes do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do DF (CAU/DF), do Sindicato dos Arquitetos do DF (Arquitetos/DF), do Instituto dos Arquitetos do Brasil — Departamento Distrito Federal (IAB/DF), da Associação dos Escritórios de Arquitetura (AeArq), da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (Abea), da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap/DF) e da Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo — Departamento Distrito Federal (Fenea).

Nele, as entidades reforçam que não há descontentamento com a escolha do rascunho de Niemeyer. “Se um pintor morre e deixa um rabisco de uma obra, outro pintor vem e desenvolve aquele rabisco em uma tela, a autoria é de quem? A gente tem de acabar com essa ideia de que Oscar Niemeyer vive e seus projetos ainda podem ser executados. Ele deixou uma ideia do que pensava para o Museu da Bíblia, sim, mas isso não é um projeto. Projeto precisa de lançamento estrutural, de fachada, de toda uma compactabilidade”, avalia o presidente do CAU/DF, Daniel Mangabeira.
 
Plano de preservação
A construção do projeto de Oscar Niemeyer, desenhado nos anos 1990, foi anunciada pelo GDF no início de outubro. A previsão é de que o Museu da Bíblia seja entregue até 2022, ao custo de R$ 63 milhões, pagos com verba de emendas parlamentares. O monumento deve ser erguido no Eixo Monumental, na altura do Cruzeiro. O espaço cultural prevê cinema, praça de alimentação, teatro, biblioteca, estacionamento interno e salas para palestras e exposições. 

À época da assinatura da Carta de Intenções e Compromissos, o governo sinalizou que, antes de iniciar as obras, aguardaria avaliação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para encaminhar o projeto ao Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do DF (Conplan).

Em nota, o Executivo local informou que contratou o detalhamento do projeto com o escritório do próprio arquiteto. E acrescentou que a construção não ferirá o que é proposto no plano de preservação do Eixo Monumental. “A criação do lote toma como base as diretrizes da Portaria nº166, de 2016, do Iphan).” O artigo 28 detalha que, nesses casos, “não poderão ultrapassar 10% de ocupação do trecho do canteiro central do Eixo Monumental, que compõem esta área de preservação, excluídas as vias adjacentes”.